HH: uma caricatura conservadora
O candidato contra o conservadorismo é Lula. E não é pequena a batalha que está se travando no Brasil neste momento. Votar em Heloisa Helena, neste contexto, é ajudar a fortalecer o ódio anti-povo das elites brasileiras.
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Publicado 26/09/2006 18:17
Na entrevista que deu ontem à Rede Record, a senadora Heloisa Helena criticou o governo Lula por não ter sido suficientemente rigoroso ao lidar com o governo boliviano no episódio da nacionalização dos recursos naturais daquele país. Recentemente, a senadora também quis criticar a política internacional do governo e disse que, se fosse presidente, aqui não mandaria “nem Chávez, nem Bush”.
Ora, essa posição é justamente a mesma de Alckmin, FH e todo o grão-tucanato, que vocaliza os interesses norte-americanos e se incomoda com a guinada soberana e terceiro-mundista na política externa brasileira sob o governo Lula. Na mesma entrevista, a senadora afirmou que no seu governo, não haverá ocupação de terras, porque ela vai assentar todo mundo, imediatamente (!!). Ah, os juros altos não são problema, porque ela os vai baixar rapidamente, com um Banco Central, autônomo, nos moldes do FED norte-americano (!).
Em sua propaganda eleitoral, HH se apresenta como uma cristã, que tem em Deus, seu “refúgio e fortaleza”. No debate da Bandeirantes, ela encerrou sua participação afirmando que o destino da eleição estava nas mãos do “oleiro” e do povo brasileiro. Em São Paulo, Heloisa pede votos para a eleição de Orlando Fantazzini, apresentando-o como cristão, seu “irmão de fé”.
Já na sabatina da Folha de São Paulo, perguntada sobre o novo avião presidencial – maldosamente chamado de aerolula, embora ninguém tenha jamais ouvido falar de um aero-FH ou aero-Sarney – Heloisa respondeu: “vou abri-lo para visitação pública” E prometeu se deslocar pelo país apenas em aviões de carreira. Sem comentários.
Todo o discurso de HH é um jorro de adjetivos retumbantes, numa retórica lacerdista-udenista, em tons meio barrocos. O ultra-moralismo de seu discurso, destinado a agradar em cheio paladar das classes médias conservadoras, não tem nenhuma correspondência com o que se espera de uma campanha presidencial de uma frente de partidos socialistas. Aliás, é digno de nota que a candidata não tenha lançado um programa escrito. Ocorre que não há nenhum acordo político possível entre um programa rupturista nos moldes defendidos pelo PSTU e o programa econômico da senadora, muito parecido com aquele aprovado no Encontro do PT em Recife, com os votos da maioria moderada do partido.
HH já começou sua campanha com uma grande inflexão conservadora ao se transformar em propagandista contra a descriminalização do aborto, colidindo com as reivindicações históricas do movimento feminista pelo direito de decidir e por políticas de saúde que respeitem a auto-determinação das mulheres.
Seu discurso religioso traz um componente altamente regressivo, que é negar a necessária separação entre religião e esfera pública. Sua candidatura não é laica, o que é um elemento inaceitável na tradição da esquerda.
Se somarmos a isso o tom messiânico, o personalismo excessivo e o visual intencionalmente carola (o que é aquela indefectível camisa branca?), compreendemos porque muitos analistas a classificam como o Enéias desta eleição. Muita retórica, pouco conteúdo. Muito gestual, pouco programa. Parece anti-establishment, mas é conservadora. Sempre dialogando com o direitismo de certa classe média, com o seu visceral anti-petismo.
Na verdade, a candidatura de HH, na prática, funciona como um braço histriônico da candidatura do PSDB. Não se vê Heloisa criticando Alckmin ou o PFL. Seu alvo – sua idéia fixa – são Lula e o PT. Para isso, comete injustiças e usa os mesmos termos da mídia elitista, como chamar o PT de “organização criminosa”. Uma injustiça com milhares de petistas e com a própria trajetória da senadora e de seus companheiros de PSOL – até outro dia, construtores e dirigentes o PT.
Fica fácil, assim, entender porque HH cai na mesma medida que sobem os índices de Alckmin. É que a perspectiva de levar o tucano ao segundo turno, faz com que os eleitores de direita resolvam voltar ao ninho e desistir da “extravagância” de votar em Heloisa. Tem razão Marilena Chauí ao dizer que a candidatura de HH não está a altura dos quadros do PSOL – e eu acrescentaria do PSTU e PCB. Aliás, perguntinha impertinente: o que a senadora vai fazer se por um acaso tiver segundo turno entre Lula e Alckmin?
Portanto, ainda há tempo para que uns 2 ou 3% de eleitores progressistas mudem seu voto e ajudem a derrotar a direita histérica. O candidato contra o conservadorismo é Lula. E não é pequena a batalha que está se travando no Brasil neste momento. Votar em Heloisa Helena, neste contexto, é ajudar a fortalecer o ódio anti-povo das elites brasileiras.
*Julian Rodrigues é militante do PT-SP e membro da coordenação nacional do setorial GLBT do PT.