ONU: Israel prendeu palestinos em Gaza e jogou fora a chave

Israel transformou a Faixa de Gaza numa prisão para os palestinos, onde a vida é insuportável, horrível e trágica, e o Estado hebreu jogou fora a chave, disse na terça-feira (26/9) o enviado especial da ONU ao território palestino, John Dugard.

Dugard afirmou que o sofrimento dos palestinos é um “teste” que avalia bem a disposição da comunidade internacional em proteger os direitos humanos.


 


“Se (…) a comunidade internacional não (…) tomar alguma atitude, ela não deve se surpreender se o planeta deixar de acreditar que ela está seriamente comprometida com a promoção dos direitos humanos”, disse ele numa declaração ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.


 


Como era de se esperar, Israel rebateu as declarações alegando haver uma “incoerência alarmante” entre o relatório feito para o órgão de direitos humanos da ONU e a “experiência” de Israel, que continuou enfrentando a “ameaça” diária do “terrorismo” palestino.


 


O enviado, um advogado sul-africano investigador especial da ONU desde 2001, confirmou as denúncias de que Israel está violando as leis humanitárias internacionais com medidas que equivalem a uma “punição coletiva”.


 


Israel alega que as violações aos direitos humanos, que incluem a construção de um muro ilegal entre áreas ocupadas e a Cisjordânia, impediriam a entrada de “suicidas” no território israelense. O muro, já condenado à destruição por uma resolução da ONU — olimpicamente ignorada pelo Estado hebreu — separa áreas agricultáveis palestinas, separa famílias e isola ainda mais o território palestino de acesso à água potável.


 


Dugard também criticou os Estados Unidos, a União Européia e o Canadá pelo boicote econômico promovido pelos EUA, Israel e alguns países da União Européia contra a Autoridade Palestina, desde que o Hamas assumiu o governo do país, em punição ao povo palestino pela sua escolha nas eleições democráticas de janeiro deste ano.


 


“Israel viola a lei internacional descrita pelo Conselho de Segurança e a Corte Internacional de Justiça e mesmo assim não é punido. Mas o povo palestino é punido por ter eleito democraticamente um regime inaceitável para Israel, os EUA e a UE”, disse Dugard.


 


O embaixador de Israel na ONU em Genebra, Itzhak Levanon, tentou divergir do relatório afirmando que ao colocar a culpa em Israel, o relatório “absolve os terroristas que têm tomado a sociedade palestina como refém até da mais mínima responsabilidade”, repetindo o que dizem os administradores do Estado hebraico.


 


Segundo Dugard, três quartos do 1,4 milhão de moradores de Gaza dependem de ajuda para comer. Os bombardeios israelenses que foram perpetrados após a prisão de um soldado israelense por palestinos em 25 de junho destruíram casas e a única usina elétrica do território. “Gaza é uma prisão e Israel parece ter jogado a chave fora”, disse ele.


 


A Cisjordânia também enfrenta problemas, embora não tão graves quanto os de Gaza, em parte por causa da barreira. “Em outros países esse processo talvez fosse descrito como limpeza étnica, mas não é 'politicamente' correto usar esses termos quando se trata de Israel”, ironizou o representante da ONU.