Chico Lopes: otimismo na reta final da campanha pelos 150 mil votos

Confira entrevista exclusiva com Chico Lopes, nosso futuro deputado federal. Na entrevista, Chico Lopes avalia a campanha e as novidades na legislação eleitoral, se mostrando otimista em vencer o desafio de conquistar 150 mil votos para deputado federal.

Por Dalwton Moura


 


Que avaliação você faz da campanha até aqui? E que mensagem você gostaria de deixar a cada eleitor, nesta reta final de campanha?



Faço um apelo às pessoas que porventura pensam em votar em branco, que procurem analisar bem os candidatos. Inclusive coloco meu nome nessa análise, no sentido de fortalecer a democracia. É preciso dar oportunidade às pessoas que não contam com grandes recursos para a campanha, mas que têm uma história de luta, já mostraram que têm condições de representar o estado do Ceará. Na minha avaliação, quem vota em branco ou anula o voto fortalece os compradores de votos. Se essas pessoas pensam que estão protestando, estão na verdade beneficiando aqueles que compram um mandato para não prestar serviço ao povo. Então, ao conjunto dos eleitores do Ceará, coloco meu nome, porque me sinto credenciado pelo meu período de vereador e meus dois mandatos de deputado estadual, em que fiscalizei o governo, através das comissões de saúde, defesa do consumidor e da educação. Também coordenei junto com outros companheiros a campanha pela vinda da refinaria para o Ceará, pela integração do Rio São Francisco, a luta pelo biodiesel, a inclusão social, a defesa dos estudantes de Fortaleza, da Região Metropolitana e principalmente das macrorregiões do Interior do Estado, com a meia passagem estudantil macrorregional, que representa um benefício direto pra mais de 100 mil estudantes que ficavam na dependência de prefeitos fornecerem transportes escolar. Enfim, temos uma série de ações que nos estimulam a buscar seguir nesse trabalho, agora como deputado federal. Confiamos nesse trabalho, nessa história de luta, para chegar lá.


 



Em vários sentidos, essa foi uma campanha eleitoral diferente, desde o contexto político até as restrições determinadas pela legislação eleitoral. Como você avalia o desenvolvimento da sua campanha? Quais as dificuldades e os pontos positivos?


 


Aparentemente, essa campanha foi menor, teve menos tempo de campanha. Mas mudanças como a ausência dos showmícios fizeram com que o contato dos candidatos com o povo se desse de maneira mais próxima. Sem os grandes artistas, quem foi aos comícios foi realmente para ouvir as propostas, para ver a segurança dos candidatos, o que eles tinham pra dizer, se não demonstravam falsidade na sua candidatura… Outro aspecto positivo foi a proibição da distribuição de camisas, embora, pela experiência que nós temos de participar de diversas eleições, para a esquerda a venda de material de campanha nas lojinhas dos comitês fosse uma renda significativa para as pequenas despesas da campanha. Mas, para os grandes candidatos, isso não lhes representava nada. E reconhecemos que muitas pessoas recebiam camisas de todos os candidatos, até pela necessidade de ter uma camisa pra vestir. Outro aspecto que a justiça tentou passar, no começo, foi a questão da honestidade nos gastos de campanha. Essa daí eu pago pra ver. Talvez esta tenha sido das campanhas mais caras dos últimos tempos. O poder econômico continuou bastante forte, principalmente no interior, onde funcionou a todo vapor. Ainda tá em tempo de a Justiça Eleitoral começar a se preocupar com isso nesses últimos dias, que é quando a derrama de dinheiro por parte dos candidatos poderosos tradicionalmente acontece. E isso prejudica muito os candidatos que não usam desse instrumento, não só por achar ilegal e antiético, mas por considerar que não serve à política democrática.
 



Para você, particularmente, esta campanha para um novo cargo, de deputado federal, precisando de 150 mil votos, representou um desafio maior, uma tarefa mais difícil que as anteriores?


 


Não, não foi mais difícil. Acho que deu pra diferenciar quem são as pessoas que vêm militando na política e não se envolveram com nenhum tipo de escândalo, que participaram durante todo o seu período de mandato junto nas manifestações populares, ajudando o povo a se organizar, procurando resolver problemas coletivos, estando presente nas portas de fábricas com os trabalhadores, nas portas de colégio com os professores e estudantes, e junto até com os empresários nas questões que dizem respeito à defesa do emprego, como a luta contra o reajuste abusivo da energia pela Coelce. Quando você compreende que o seu mandato tem que estar a serviço não só do povo, mas de uma estruturação de estado que venha a proporcionar emprego, geração de renda e uma economia que venha a compensar o próprio estado, tenho certeza que o povo percebe essa diferença no seu trabalho. É nesse sentido que eu me coloco diante do povo, porque agi sempre com responsabilidade nos meus mandatos, em favor do povo. Tenho segurança dos meus princípios e da defesa intransigente do povo brasileiro e de uma sociedade mais justa.


 


E quanto ao presidente Lula? Que análise você faz da crise política mais recente, em torno do dossiê contra o PSDB, e do modo como o povo brasileiro sinaliza com a reeleição de Lula, apesar de todo o bombardeio de escândalos e críticas?


 



Se eu fosse cientista político ou sociólogo, eu gostaria de fazer um estudo a respeito da liderança do Lula. Porque o que ele sofreu de segmentos do próprio partido dele durante esses quatro anos, o que ele sofreu com uma oposição oportunista, que achava que com isso iria voltar ao poder! O Lula merece uma análise com mais profundidade, pra entender melhor por que essa liderança do Lula se torna maior que o partido dele e maior que as esquerdas. Ao longo da história do Nordeste, não precisa nem ter seca, basta durar alguns meses sem chover, pra gente ver os pedintes no centro da cidade, e outros indo embora do estado. Nesses anos de governo Lula não houve saque, não houve assalto a caminhões por comida. Pelo contrário, nos municípios do interior do Ceará os mercantis têm aumentado a sua clientela. Os programas de transferência de renda do governo Lula têm dado sustentação aos menores municípios nordestinos. Isso significa que o eleitorado do Lula, que antes era manipulado pelas classes dominantes, com cesta básica, dentadura e outros tipos de instrumentos clientelistas, hoje estão livres dessa situação de tanta dependência. Daí essas forças da direita estão sentindo dificuldade agora, e querem aproveitar os erros de alguns segmentos do partido do Lula para tentarem voltar ao poder. Nesse sentido, a eleição do Lula, seja no primeiro ou no segundo turno – e eu acredito que será no primeiro – é uma prova inconteste de que o povo não é tão pouco inteligente quanto as elites tentam querer fazer crer que é, no período eleitoral.


 


Qual é a sua expectativa para um provável segundo governo Lula?


 


Entendemos que, com a reeleição, Lula tem de ter outra postura, um outro projeto econômico, com distribuição de renda, e reformas bem definidas. Quando se fala em reforma tributária, de que reforma estamos falando?
Porque todo mundo fala nisso, mas ninguém define qual o tipo de reforma. E ninguém fala da participação do povo nessas reformas. A reforma política, que tipo será? Será uma cópia de países que já estão superados? Nós achamos que não. Achamos que uma reforma política tem que ser para democratizar, e não para concentrar hegemonia de alguns partidos e deixar fora grandes massas que não participam dessa democracia, têm apenas o direito de votar. Precisamos abrir o parlamento para os segmentos mais diversos da sociedade. Isso só se dará através de uma reforma política verdadeiramente democrática.


 



E quanto ao Senado? Historicamente, a representação do Ceará na Câmara Alta vem sendo composta de empresários, sem a presença de um representante popular. Qual a importância de o povo cearense eleger Inácio como nosso senador?


 



A eleição do Inácio se dá numa transição em que o Inácio faz parte de um partido que apóia o presidente Lula. Esse apoio não é só nas horas do bolo, da alegria, mas é também na hora que falta o bolo, nós também estamos lá pra defender estrategicamente o governo Lula. Nesse sentido, algumas reformas feitas pelo Lula que não são do programa do nosso partido, estrategicamente tivemos que votar. Como o Inácio é a maior liderança de esquerda no Ceará, certos segmentos da esquerda criaram dificuldades. Dificuldades que nós tivemos que ter muita paciência e capacidade para ir superando, na própria prática da vida. E hoje esses próprios segmentos de esquerda aprenderam que o nosso inimigo é o PFL e o PSDB, não é PSTU, não é P-SOL. PFL e PSDB: esses é que são nossos inimigos. Nós estamos fazendo de tudo para que o Ceará, pela primeira vez na sua história, tenha um homem do povo, negro, comunista, como senador da República. Mas Inácio vai chegar lá não só por isso, mas porque acumulou experiência, demonstrou sua capacidade de entender qual é o papel de um senador num estado carente como o Ceará. Enquanto isso, nosso adversário tenta agradar um segmento da sociedade, um segmento mais despolitizado, através de alguns programas de TV bem trabalhados. Mas outros segmentos estão preocupados é com o desenvolvimento econômico do Ceará, e o Inácio tem se credenciado nesses segmentos da sociedade. Por isso, acreditamos que nesses últimos dias Inácio vai ganhar com uma diferença significativa, para a felicidade do Estado do Ceará, para trabalhar pelo Ceará. Teremos pelo menos um senador verdadeiramente popular.