Estréia “As Torres Gêmeas”; Oliver Stone volta a atacar Bush

O cineasta Oliver Stone escolheu dirigir As Torres Gêmeas (World Trade Center) de maneira sombria, concentrada e direta – o que cabe perfeitamente no contexto da história. O filme entra em cartaz no Brasil nesta sexta-feira (29/9). Traz

Ao focar sua atenção em dois dos sobreviventes da tragédia, As Torres Gêmeas alcança grande força emocional e chega a um final que consegue elevar os espíritos. O objetivo do filme é falar sobre o drama histórico sofrido pelos norte-americanos como povo. O diretor Oliver Stone e a roteirista Andrea Berloff preferiram narrar os acontecimentos do 11 de Setembro como uma história de luta pela sobrevivência dos Estados Unidos como nação.


 


Na visão dos criadores, o país sofreu um golpe atordoante, mas encontrou a coragem moral, espiritual e mental para seguir adiante. O longa-metragem, de 129 minutos, recebeu críticas favoráveis nos Estados Unidos, deixando muitos jornalistas surpresos. Stone abriu mão de sua tradicional visão polêmica ao dar um tratamento mais emocional ao assunto. Ele também advertiu que jamais usou a palavra “patriótico” para se referir ao filme”. A razão, segundo o cineasta, é porque ele não se considera “nem patriota nem nacionalista”.


 


“Gosto que as pessoas que não são nacionalistas gostem do filme, porque significa que têm coração. Mas não vou utilizar este filme com intenções políticas, seria errado fazer isso”, acrescentou. Autor de várias obras de marcado conteúdo histórico e político, como Salvador (1986), Platoon (1986), JFK (1991) e Nixon (1995), este ex-combatente do Vietnã tem consciência de que suas estréias costumam ser cercadas de polêmica. “Minha obra é potente, e isso sempre vai ofender alguém. Salvador, por exemplo, teve críticas espantosas”, lembra sobre esse filme baseado na guerra salvadorenha dos anos 80.


 


Ataques a Bush
Com a repercussão em torno do novo filme, o cineasta passou a analisar, criticamente, o presidente americano, George W. Bush, dizendo que ele fez o país “retroceder dez anos ou mais”. Falando no 54º Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, na Espanha, Stone condenou o que viu como a politização dos ataques de 11 de setembro de 2001. O cineasta afirmou que a “reação exagerada” aos ataques levou a um desperdício de recursos, encorajou fanáticos e fez com que ele “ficasse envergonhado de ser americano”.


 


“A partir de 12 de setembro, o incidente foi politizado e polarizou o mundo inteiro”, afirmou, em uma entrevista coletiva antes da exibição do filme no festival. “É uma vergonha, pois é um desperdício de energia ver que o mundo inteiro, cinco anos depois, ainda está chocado, sob o peso de 11 de setembro”, afirmou. “É um desperdício de energia, longe das coisas que realmente importam como pobreza, morte, doença, o próprio planeta e cuidar de nossas próprias casas ao invés de lutar guerras com outros (países).”


 


Entre as críticas negativas feitas a As Torres Gêmeas, uma delas foi apresentada há poucos dias, também em San Sebastián, pelo diretor americano Jonathan Demme. No entanto, Stone considera que seu filme pode ajudar a “lembrar o fato”, o que acredita ser importante, porque esquecê-lo é “perder os sentidos do ocorrido”. “É preciso lembrar os sentimentos daquele dia. Gosto de encarar meu filme como uma estátua em um parque, como um monumento em lembrança do que aconteceu.”


 


O cineasta reconhece que sua percepção das coisas mudou desde o 11 de Setembro, “assim como, nestes cinco anos, o mundo mudou”. “Há muitas pessoas cegadas pela ideologia, pelo ódio. Há um clima de medo e de crueldade”, afirmou. Stone recebeu elogios pela atuação do elenco do filme. “Para empreender um projeto é preciso ter paixão e energia. A paixão é o que te permite seguir adiante dois anos com ele”, ressaltou.


 


Entre esses projetos está Comandante (2003), documentário sobre o presidente cubano, Fidel Castro, baseado em 30 horas de conversas com o estadista. “Sinto muito que não puderam ver Comandante nos Estados Unidos por um problema de direitos de difusão. O povo em meu país não entende realmente o que está acontecendo em Cuba, tem idéias muito erradas. Quando Fidel adoeceu há pouco, já estavam dizendo nos Estados Unidos que já tinha morrido, que havia uma rebelião no país”, comentou o diretor. “É uma pena. Talvez, se conseguissem ver Comandante…”.