Especialistas consideram ''estranho'' acidente da Gol

No primeiro acidente aéreo de grande porte desde a criação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) especialistas do setor estão bastante cautelosos em apontar possíveis causas do acidente.

''Caberá à Anac, como parte integrante da Força Aérea Nacional, investigar as reais causas deste acidente nos próximos 30 dias, afirmou o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), George Ermakoff, lembrando que o Brasil está entre os países com menor índice de acidentes aéreos, classificado entre os que estão mais preparados em segurança de vôo.


 


Para Paulo Calazans, ex-comandante de aeronaves como o Boeing 737 que desaparece, afirmou à Agência Estado que era muito difícil determinar a causa do acidente.


 


''Pela lógica da pessoa comum, é estranho um jatinho de pequeno porte bater num avião deste tamanho, provocar um acidente destes e ainda assim conseguir pousar. Mas é como se fosse um pequeno fusquinha que pegasse de raspão num pneu de um caminhão. Para o carro seria um arranhão, mas poderia causar um acidente fatal para o caminhão'', comparou.


 


Segundo especialistas do setor, o que causou estranheza na queda do Boeing da Gol é que todos os aviões da empresa são equipados com um dispositivo eletrônico anticolisão, chamado TCAS (Traffic alert and Collision Avoidance System), plenamente capaz de identificar a aproximação do Legacy.


 


O TCAS é um equipamento que capta sinais emitidos pelo transponder (uma espécie de emissor de rádio que permite aos radares de terra localizarem a aeronave no ar) e traduz estes sinais para os pilotos como informação visual de tráfego. Quando um dos tráfegos na tela é identificado como estando em uma rota de colisão, o equipamento emite um sinal de alerta e o comandante da aeronave tem até 40 segundos para manobrar a aeronave para uma atitude segura.


 



Ao iniciar cada vôo, a tripulação recebe um código de transponder e o digita no aparelho. Dessa forma, o radar de terra pode ''enxergar'' a aeronave e identificá-la por toda a rota. O TCAS capta esse mesmo sinal e estabelece se existe rumo de colisão, 40 segundos antes da possível colisão.


 


O aparelho avisa também, 30 segundos depois, qual rumo a tripulação deve adotar para evadir a colisão. Uma das hipóteses levantadas por estes especialistas é a possível falha no equipamento de uma destas aeronaves, tanto no TCAS quanto no transponder.


 


O diretor de segurança de vôo do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas, Ronaldo Jenkins, diz que é preciso analisar pelo menos dois elementos básicos para poder especular sobre o motivo do acidente com o avião da Gol: a rota autorizada para o jato executivo Legacy que colidiu com o Boeing e a altitude em que estavam as duas aeronaves.


 


''Não temos ainda dados suficientes para uma estimativa sobre o que aconteceu. Mesmo o fato de não ter havido fogo ou explosão não é um indicativo forte sobre o motivo. O radar do centro de controle vai poder dar essas informações'', comentou.


 


Um controlador aéreo que trabalha na região e que não quis identificar-se, relatou ao Vermelho que o jato Legacy vinha de São José dos Campos por uma via aérea denominada UW2, e que, por força dos regulamentos aéreos, deveria mudar de altitude ao tomar outra via ao passar sobre Brasília — via denominada nas cartas aéreas de UZ6 — a mesma por onde trafegava o vôo 1907 da Gol. A mudança de altitude poderia ser de 300 metros para cima ou para baixo e seria obrigatória por causa da diferença de rumos dessas aerovias.


 


Segundo ele, o controle Brasília operava no momento um radar em um modo que não permitia ao controlador controlar a altitude da aeronave. Ainda segundo ele, o Legacy estava com um dos modos de operação do equipamento transponder inoperante, o que pode ter agravado a situação ainda mais, já que este modo informa ao controle a altitude da aeronave.