Projetos opostos se defrontam no segundo turno do Equador

O magnata bananeiro e autoproclamado liberal Alvaro Noboa e o esquerdista e nacionalista Rafael Correa disputarão a presidência do Equador no segundo turno, em 26 de novembro, segundo a apuração não oficial. São duas posturas marcadamente antagônicas.

No primeiro turno, neste domingo, o candidato conservador somou 26,7% dos votos, enquanto o esquerdista alcançava 22,4%. Os votos a favor de Correa, do mocimento Avança País, e de Noboa, do Partido renovador Institucional Ação nacional, deixaram no meio do caminho outros favoritos, como León Roldós, da coligação Rede Ética Democracia-Esquerda Democrática, e a única mulher candidata, Cynthia Viteri, do Partido Social-Cristão.



Embora não tenha chegado ao segundo turno, Gilmar Gutiérrez, irmão do presidente destituído Lúcio Gutiérrez, foi a verdadeira surpresa da jornada: sem que ninguém desse nada por ele, chegou à quarta posição, na frente de Cynthia Viteri e quase empatado com Roldós. Conforme os primeiros resultados extra-oficiais, o Equador deverá eleger entre um opositor do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, crítico dos organismos internacionais de crédito e do presidente George W. Bush, como é o caso de Correa, e o seu completo oposto.



Ameaça de romper com Cuba e Venezuela



Noboa não só rejeita tudo que Correa diz, especialmente nas relações internacionais. Ele foi taxativo ao dizer que não manterá relações com Cuba nem com a Venezuela, cujo presidente, Hugo Chávez, é amigo pessoal de Correa.



Este se define como um homem “de esquerda, mas não de uma esquerda marxista e sim de uma esquerda cristã”. Noboa acusa-o de “comunista”, enquanto se considera “liberal” e “um enviado de Deus”.



Ambos concordam em manter a “dolarização”, um sistema econômico que privou o Equador de sua moeda própria, em 2000, para adotar o dólar estadunidense. A diferença nessa esfera reside em que Correa considera que a “dolarização” foi um grande erro para o país, e Noboa, um dos maiores empresários equatorianos, sente-se à vontade com ela: “Creio firmemente na dolarização”, costuma dizer.



Quanto aos investimentos de capitais, Correa diz que são “bem-vindos” os investimentos diretos e rejeita os chamados “capitais-andorinha”. Já Noboa apóia-os tacitamente ao fazer notar que é “o maior investidor no país”.



TLC: um é contra, outro a favor



Correa rejeita por completo o TLC, que segundo diz abarca outros aspectos além dos comerciais na relação entre os dois países. Enquanto Noboa se diz “totalmente a favor do TLC”, exceto na área agrícola, prometendo assiná-lo “pedindo prorrogação na área comercial”. Quanto à governabilidade, Correa foi incisivo ao afirmar que caso o presidente da República não cumpra suas promessas eleitorais deve deixar o cargo.



Noboa, um empresário que ingressou há dez anos na política, como candidato presidencial apoiado pelo Partido Roldosista Equatoriano, já chegou ao segundo turno em duas oportunidades, mas foi derrotado por Jamil Mahuad e Lucio Gutiérrez.  Correa, em contraste, está estreando nas lides eleitorais, o que lhe dá uma enorme vantagem em um país que está cansado dos políticos, dado o ar de novidade que emana de sua candidatura sem desgastes.



Segundo o diretor da empresa de consultoria Cedatos, Polibio Córdova, a campanha do segundo turno será “muito controvertida”. Nela, “competirão duas correntes muito distintas: uma de drástica mudança do Estado, com política externa diferente (Correa) e outra mais de corte populista (Noboa)”.



“Os candidatos agora mais do que nunca devem desenvolver uma campanha convincente. Espero que prevaleça nela não só a questão conjuntural, mas uma discussão muito mais profunda sobre tudo que tenha a ver com a reforma do Estado e a reforma política”, agrega o consultor.