Em carta ao PDT, Beth Carvalho explica por que apóia Lula

A cantora Beth Carvalho, dirigente do Partido Democrático Trabalhista no Rio de Janeiro, encaminhou ao PDT, no dia 13 de outubro, uma carta com a qual pretendia sensibilizar seus companheiros de partido a tomar uma posição pelo apoio formal do PDT à re

A cantora Beth Carvalho, presidente de honra do Partido Democrático Trabalhista no Rio de Janeiro, encaminhou ao PDT, no último dia 13 de outubro, uma carta com a qual pretendia sensibilizar seus companheiros de partido a tomar uma posição pelo apoio formal do PDT à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno.


 


No documento, Beth Carvalho argumenta que “não há o menor cabimento do PDT ter sequer dúvidas sobre quem apoiar: deve apoiar o companheiro Lula, numa aliança que inclui até mesmo Hugo Chávez, Nestor Kirchner e Evo Morales, os movimentos sociais, os intelectuais e artistas progressistas, a igreja popular, os sindicatos, o empresariado nacional. É isto o que está em jogo agora: Lula, com um projeto em construção, passível de ser corrigido e aprofundado, em defesa dos interesses populares e nacionais, e Alckmin, com o outro projeto, que favorece ao capital estrangeiro, à retomada do controle do estado pelos neoliberais levando o Brasil a um distanciamento da América Latina, à uma submissão à Washington, e uma volta à repressão aos movimentos sociais como se viu na triste era FHC, cuja meta, como lembram-se todos, era destruir a Era Vargas!”


 



Ontem, em reunião de sua direção nacional, o PDT optou pela neutralidade. Não apoiará oficialmente nem Lula nem o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Mas liberou os integrantes do partido a apoiarem o candidato que desejarem, desde que o apoio seja de caráter pessoal, sem envolver a legenda partidária.


 


Diante da decisão do PDT nacional, Beth Carvalho opinou que “ficar neutro neste momento grave da história brasileira é, de fato, negar os ideais de Vargas,Brizola, Jango, Pasqualini e tantos outros trabalhistas. É omissão ,é favorecer a direita”.


 


Hoje (17/10), a cantora e vários outros artistas, intelectuais e esportistas terão um encontro com o presidente Lula no Rio de Janeiro onde manifestarão apoio à reeleição do petista e também ao candidato do PMDB ao governo do Rio, Sérgio Cabral.


 



Leia abaixo a carta que Beth Carvalho escreveu ao PDT por ocasião da definição do partido diante do 2º turno presidencial :


 




Rio, 13.10.2006


 


Carta ao PDT de Beth Carvalho ,vice- presidente de honra do PDT ,título dado carinhosamente por Brizola em seus governos.  


 


Estimado amigo Carlos Lupi ,Presidente Nacional do PDT.



 
    Cumprimentando-o cordialmente, quero expressar minha estranheza diante de notícias indicando que o PDT iria apoiar o candidato Geraldo Alckmin no segundo turno. Nada mais absurdo.



 
    Seria como uma vergonhosa conciliação do trabalhismo com a UDN de hoje e de sempre, os que defendem os interesses estrangeiros no Brasil e que realizaram o maior processo de privatização e internacionalização de patrimônio público de que se tem notícia no mundo!



 
    Se bem é verdade que o atual governo tem limites e erros, inclusive muitos de gravidade,  seria uma infantilidade imaginar que o Alckmin, que acaba de privatizar por 1 bilhão de reais a Empresa de Transmissão de Energia Elétrica de São Paulo, avaliada em 11 bilhões, poderia algum dia ser aliado dos trabalhistas. Jamais! Vale registrar que nesta privatização, ocorrida em julho, o edital, estranhamente,  proibiu a participação de empresas estatais brasileiras no leilão  – e havia a COPEL do Paraná interessada  –  com o que uma empresa lucrativa terminou nas mãos de uma empresa estatal colombiana, cujo controle acionário, hoje, está em mãos de capital norte-americano. Esse é o Alckmin.



 
    Os erros do governo Lula devem ser corrigidos urgentemente, tarefa da qual se ocupa hoje todos os movimentos sociais que também apóiam criticamente o atual governo,  mas não se pode negar que houve algumas alterações políticas corretas e nada desprezíveis. A política externa brasileira, pela primeira vez em muitos anos, defende corretamente os interesses nacionais. Houve um freio no processo de privatização que estava em curso desde Collor de Mello, ampliou-se, ainda que timidamente, os investimentos em programas sociais, o protagonismo do estado começa a ser retomado, como por exemplo na recuperação da indústria naval , está em curso a recuperação do salário mínimo e os movimentos sociais deixaram de ser criminalizados. É claro que estes pontos positivos não esgotam a necessidade de um projeto de nação mais definido, tal como sempre nos lembrava constantemente o nosso saudoso Leonel Brizola. Porém, o candidato Alckmin é representante de um projeto rigorosamente antagônico a tudo o que o trabalhismo sempre defendeu e defende.



 
Entretanto, quero chamar a atenção para um aspecto que me parece importantíssimo na política do Governo Lula: a defesa da integração latino-americana! Não por acaso os EUA criticam constantemente o Itamaraty, como também a mídia controlada pelos anunciantes multinacionais. E esta integração latino-americana é estratégica para consolidar Cuba e Venezuela, para permitir uma autonomia dos países latino-americanos frente aos grilhões da política dos EUA, assim como, para garantir uma alternativa concreta, solidária e cooperativa, dos nossos povos diante da pressão estadunidense para impor a ALCA, que o candidato Alckmin já indicou ser defensor.



 
Não poderia deixar de falar no plano cultural há uma política pública, que, mesmo sendo aquém do necessário, ela prioriza a retomada do cinema brasileiro, o acesso do público a espetáculos musicais que circulam todo o país, como o Projeto Pixinguinha, a criação dos Pontos de Cultura junto a comunidades carentes. É claro que ainda falta uma mudança substancial na política de comunicação, mas quando se fez uma tentativa, com a proposta da Ancinav, os representantes do império e o coronelismo eletrônico tupiniquim, fizeram uma devastadora campanha de desconstrução da proposta, até que fosse retirada.



 
Neste sentido, não há o menor cabimento do PDT ter sequer dúvidas sobre quem apoiar: deve apoiar o companheiro Lula, numa aliança que inclui até mesmo Hugo Chávez, Nestor Kirchner e Evo Morales, os movimentos sociais, os intelectuais e artistas progressistas, a igreja popular, os sindicatos, o empresariado nacional. É isto o que está em jogo agora: Lula, com um projeto em construção, passível de ser corrigido e aprofundado, em defesa dos interesses populares e nacionais, e Alckmin, com o outro projeto, que favorece ao capital estrangeiro, à retomada do controle do estado pelos neoliberais levando o Brasil a um distanciamento da América Latina, à uma submissão à Washington, e uma volta à repressão aos movimentos sociais como se viu na triste era FHC, cuja meta, como lembram-se todos, era destruir a Era Vargas!



 
O PDT deve recomendar o voto em Lula e apresentar um programa com pontos programáticos trabalhistas a serem incluídos na política do próximo governo.



 
Saudações Brizolistas e trabalhistas.


 


 Beth Carvalho


 


PS: Infelizmente o PDT optou pela neutralidade. Na minha opinião ficar neutro neste momento grave da história brasileira é, de fato, negar os ideais de Vargas,Brizola, Jango, Pasqualini e tantos outros trabalhistas. É omissão ,é favorecer a direita.


 


Beth Carvalho 
Rio,17/10/2006