“Luta final”: Jorge Coli analisa a ópera “Olga”

Por Jorge Coli (Folha de S.Paulo)


Olga, ópera de Jorge Antunes, inspirou-se na vida dramática da mulher de Luiz Carlos Prestes. A apresentação foi no Theatro Municipal de São Paulo. Estupenda a cenografia de William Pereira, q

Com Olga, porém, ele teve meios muito superiores aos que lhe foram permitidos no Theatro São Pedro. Olga surgiu como plena e verdadeira ópera para os olhos.


 


Jorge Antunes, compositor de grandes qualidades, tratou a orquestra de maneira fascinante: não é à toa que o maestro Jamil Maluf se entusiasmou pela abertura, programando-a num concerto anterior. Haveria uma bela suíte sinfônica a ser extraída da obra.


 


No entanto não basta ser ótimo músico para fazer boa ópera. Puccini dizia que Deus o havia tocado com o dedo mindinho e decretado: “Vá fazer música. Mas veja lá, só ópera”. O inverso é ainda mais verdadeiro. Uma ópera exige do compositor o sentido do teatro, dos personagens, da palavra cantada.


 


Isso faltou em Olga. A tal ponto que as frases faladas pousavam sobre a música, mais integradas do que o canto. A pantomima de Tristão e Isolda, muda, foi um momento alto.


 


É verdade que o libreto não ajudou, com suas rimas de periquito e versos de pé quebrado. A História (com H maiúsculo), estava presente, mas não soube se infiltrar nos personagens (que se pense no Guilherme Tell, no Don Carlo, em Boris, na Khovantchina).


 


Figuras esquemáticas, eles não conseguiram alçar-se nem à densidade humana nem à força do símbolo.