Em entrevistas a TVs, Lula reafirma compromisso com os trabalhadores

Nas primeiras entrevistas concedidas após sua reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou a manutenção da política econômica, ressalvando que governará “para todos”, mas vai dar atenção especial aos que mais precisam da ação do governo. “Te

Em entrevistas a TVs, Lula reafirma compromisso com os trabalhadores



O presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva concedeu nesta segunda-feira entrevistas às quatro grandes redes de TV do país. A decisão de conceder as entrevistas separadamente e a várias emissoras visa corrigir um erro cometido em 2002, quando o presidente, assim que foi eleito, deu uma entrevista esclusiva ao Jornal Nacional, da Rede Globo. Na ocasião, as outras emissoras reclaram do provilégio dado à Globo.


Desta vez, Lula concedeu entrevistas a quatro emissoras, separadamente e sempre ao vivo, no Palácio da Alvorada. Primeiramente, o presidente falou com a entrevistadora Adriana Araújo, do Jornal da Record. Em seguida, Lula foi entrevistado pelo jornalista Franklin Martins, do Jornal da Band, da Rede Baneirantes. Logo depois, foi a vez de William Bonner e Fátima Bernardes, apresentadores do Jornal Nacional, da Rede Globo, conversarem com o presidente. Por fim, Lula respondeu perguntas da jornalista Ana Paula Padrão, do jornal SBT Brasil, do SBT.


Na entrevista à TV Record, Lula disse que pretende ter “engatilhados” no início do ano os projetos para que o segundo mandato seja marcado pelo tripé “desenvolvimento, distribuição de renda e educação de qualidade”. Rejeitando a tese de divisão do País, Lula afirmou que o Brasil sai da urnas “mais unido do que nunca”.


Dizendo que a obrigação do presidente é governar para todos, Lula afirmou que os segmentos mais necessitados da sociedade têm que ser priorizados, para que possam ascender à classe média. O mesmo raciocínio ele levou para a questão regional. “Nós vamos trabalhar sabendo que precisamos partilhar pão com todos, mas aqueles Estados que precisam ser alavancados mais rapidamente nós vamos trabalhar com prioridade. Isso é muito importante porque na hora que tivermos Brasil mais igual, teremos menos miséria e mais gente participando da classe média”, afirmou.


Lula afirmou que a relação política com a oposição precisa ser “civilizada” focada no interesse do País. “Não existe projeto pessoal do presidente, os projetos são de interesse do Brasil. Se as pessoas quiserem fazer críticas ao presidente, que façam, mas votem os projetos”, afirmou, destacando a necessidade de se votar a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, o Fundeb e a Reforma Política.


Reforma política


Já na entrevista seguinte, ao Jornal da Band, Lula afirmou que, embora defenda a reforma política, não tomará a iniciativa de enviar ao Congresso um projeto de lei sobre o assunto.


“Eu acho que essa coisa tem de ser feita pelos partidos políticos e não [é] o presidente da República que vai tomar a iniciativa de enviar um projeto. Eu quero que os líderes do governo tratem de trabalhar essa reforma política com os líderes da oposição”, declarou o presidente.


Lula também afirmou que convidará os governadores eleitos para um almoço na próxima semana e conversar com todos.


“Eu não faço distinção agora. Uns são aliados, outros são do meu partido e outros são governadores que têm a mesma responsabilidade que todos”, declarou. “Eu tenho uma relação com Aécio, Serra, Luiz Henrique, Jaques Wagner. A única pessoa com quem eu não tenho uma relação mais próxima é a governadora eleita do Rio Grande do Sul [Yeda Crusius, do PSDB] e merece ser tratada como todos”, disse.


Política econômica


Na entrevista ao Jornal Nacional, Lula falou principalmente sobre economia. O presidente afirmou que Guido Mantega continua à frente do Ministério da Fazenda e condenou as especulações sobre possível troca do ministro. “Convocação da seleção e escolha do ministério, todo mundo acha que pode dar palpite. Quem escolhe a seleção é o técnico quem escolhe o ministério sou eu”, disse.


Lula disse ainda que o novo ministério será formado levando em consideração “competência técnica, compromisso político e compromisso programático”.


Lula recusou também a existência de uma “era Palocci”. Segundo ele, a política econômica sempre foi definida pelo governo. E defendeu a economia: “Se hoje podemos falar em crescimento é porque tivemos uma política com controle de inflação e do superávit primário e política fiscal rígida”.


Lula voltou a afirmar que o segundo mandato será de desenvolvimento econômico, distribuição de renda e educação de qualidade.


Disse que pretende melhorar o Bolsa Família e que o programa vai continuar existindo até que as pessoas possam depender apenas de seu trabalho. “Nós precisamos exterminar a miséria no País”, afirmou.


Lula pediu também compromisso dos congressistas com projetos do Executivo. “Não tenho projeto de interesse pessoal, os projetos são de interesse da nação. Os congressistas terão que votar porque a proposta interessa ao Brasil”, disse.


O presidente afirmou também que “tem que haver diferenciação sobre o que é oposição eleitoral, partidária programática e o que é oposição aos interesses do País. Não pode atrapalhar o Brasil por conta de interesses eleitorais”.


Lula comentou ainda a situação do Partido dos Trabalhadores, que saiu fortalecido das urnas, mas com a imagem abalada pelo incessante denuncismo promovido pela mídia e pela oposição no decorrer da crise política e da própria campanha eleitoral. “Quase todos os problemas que eu tive não foram criados pelo PT, mas por pessoas do PT. [O partido] precisa mudar. A direção está convencia. Ele volta fortalecido, como a legenda mais votada em 2006. A direção precisa refletir essa grandeza. A direção precisa ser mais representativa, envolver quem tem mais peso político dentro do partido.”


Café amargo com FHC


Na última entrevista da série, ao SBT Brasil, Lula afirmou que está mais preparado e mais maduro e que os quatro anos na presidência lhe trouxeram conhecimentos sobre o papel e a realidade do Brasil que uma universidade certamente não conseguiria ensinar.


Perguntado se ele demitiria funcionários públicos para poder “enxugar a máquina”, Lula foi categórico. Disse que não vai demitir servidores. “Um País que tem problema de desemprego não pode demitir funcionários e, pelo o que conheço, não tem como cortar”, disse Lula, reinterando que muitos ganham pouco e não podem ser “sacrificados”, disse Lula.


O presidente defendeu o uso racional dos recursos públicos e que “mais do que enxugar a máquina, é preciso fazer o Brasil crescer”. Voltou a defender a política econômica adotada durante a gestão do ex-ministro Antônio Palocci e criticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Quando a jornalista Ana Paula Padrão comentou com o presidente as declarações  de hoje de FHC, de que não iria ao Planalto para “tomar cafezinho com o presidente”, Lula ironizou dizendo que FHC nunca o convidou para um cafezinho mas que não vê nenhum problema em receber o ex-presidente no Planalto. Mas criticou a postura do tucano. “Lamento profundamente que um ex-presidente apareça na TV como um jovem estudante contra tudo e todos. O único que tem sabido se comportar é o Sarney”, disse.



Pronunciamento nesta terça



Nesta terça-feira, Lula deve fazer um pronunciamento sobre a sua vitória nas urnas no domingo e seu segundo mandato. O pronunciamento deve ser transmitido em rede nacional de rádio e TV, informaram duas fontes do governo.



“Será uma fala curta, sobre o significado da reeleição e as possibilidades que se abrem para o país nos próximos quatro anos”, disse uma das fontes. Segundo informações, Lula também deve conceder uma entrevista coletiva na terça ou na quarta-feira.



O presidente decidiu dirigir-se primeiro aos eleitores e à sociedade para depois organizar uma agenda de interlocução com governadores, partidos políticos e movimentos sociais, como anunciou no domingo, em São Paulo, na primeira entrevista após as eleições.



Ao deixar para a próxima semana os contatos institucionais (não está descartada uma reunião com governadores), Lula procura manter o controle da agenda política e adiar as pressões em torno dos acordos partidários e da formação do futuro governo, disseram as fontes.



VEJA AS PRINCIPAIS FRASES DE LULA NAS ENTREVISTAS DESTA SEGUNDA



“Era Palocci”
“Não teve era Palocci, como não teve era Mantega. A política econômica é determinada pelo governo. Hoje, por exemplo, colhemos coisas que plantamos no tempo do Palocci.” (“Jornal da Record”)


 


“O que está acontecendo agora no Brasil começou com Palocci. Era preciso fazer o que fizemos para ter a garantia de dizer que a economia vai crescer.” (“Jornal da Band”)


 


Guido Mantega
“Quem troca ministro sou eu. Não sei por que especulam tanto. É problema meu, e eu não tenho pressa. Guido Mantega fica no ministério e a política econômica se mantém.” (“Jornal da Record”)


 


“Eu ganhei as eleições  e eu digo quem será ministro. O que posso dizer é que Guido será meu ministro até quando eu quiser. Ele não vai deixar o governo por causa de palpites de uns e outros.” (“Jornal da Band”)


 


“Eu tenho até 1º de janeiro para indicar os novos ministros. Não pretendo trocar ministros agora, não pretendo fazer grandes mudanças, agora (…) Eu acho que se especula muito. Convocação da seleção e ministério no Brasil, todo mundo acha que pode dar palpite. Quem escolhe jogador é o Dunga e quem escolhe ministros sou eu.” (“Jornal Nacional”)


 


Crescimento econômico
“A inflação está controlada, portanto o juro tem que baixar. Chegaremos ao final do mandato com juro de padrão internacional, inflação controlada e economia crescendo.” (“SBT Brasil”)


 


PT
“Quase todos os problemas que eu tive não foram criados pelo PT, mas por pessoas do PT. [O partido] precisa mudar. A direção está convencia. Ele volta fortalecido, como a legenda mais votada em 2006. A direção precisa refletir essa grandeza. A direção precisa ser mais representativa, envolver quem tem mais peso político dentro do partido.” (“SBT Brasil”)


 


Reforma Política
Eu acho que essa coisa tem de ser feita pelos partidos políticos e não [é] o presidente da República que vai tomar a iniciativa de enviar um projeto. Eu quero que os líderes do governo tratem de trabalhar essa reforma política com os líderes da oposição”. (“Jornal da Band”)


 


Alianças
“Eu não faço distinção agora. Uns são aliados, outros são do meu partido e outros são governadores que têm a mesma responsabilidade que todos. Eu tenho uma relação com Aécio, Serra, Luiz Henrique, Jaques Wagner. A única pessoa com quem eu não tenho uma relação mais próxima é a governadora eleita do Rio Grande do Sul [Yeda Crusius, do PSDB] e merece ser tratada como todos.” (“Jornal da Band”)


 


“O que é importante é que tem que haver uma diferenciação, entre oposição eleitoral e oposição partidária, para evitar atrapalhar o que dá certo no país. Os projetos não me favorecem um milímetro. Espero que a oposição seja responsavel para votar esses projetos. Depois pode falar mal de mim, o que não pode é atrapalhar o Brasil pela disputa eleitoral.” (“Jornal Nacional”)


 


“Nós vamos convivendo como se convive no mundo inteiro, como convivem o Partido Democrata nos Estados Unidos e o Partido Republicano. Isso não é um problema.” (“Jornal Nacional”)


 


“Vou tentar interferir pessoalmente nas discussões [no Congresso]. Um coisa é fazer oposição ao Lula e ao PT. Mas temos que governar pensando no Brasil. Podem votar bons projetos para o Brasil e depois falarem mal de mim.” (“SBT Brasil”)


 


FHC
“Eu lamento profundamente que um ex-presidente da República, que deveria ter um pensamento muito mais positivo com relação ao Brasil, fique instigando para as coisas não darem certo.” (“Jornal Nacional”)


 


“Eu lamento profundamente que um ex-presidente apareça na televisão como se fosse um jovem estudante de 18 anos contra tudo e todos. Ele deveria aproveitar a experiência que adquirimos para passar para a sociedade a tranqüilidade que ela precisa. (…) Acho que [sua postura] está totalmente equivoca. Ele deveria estar pensando em ajudar a governar esse país. Passou 8 anos na presidência e nunca me chamou para tomar um cafezinho. Antes de tudo, eu sou um ser humano civilizado. Se não quiser tomar cafezinho e quiser tomar outra coisa, eu posso oferecer.” (“SBT Brasil”)