Cuba x EUA: As recentes investidas norte-americanas à Ilha

Em 10 de julho de 2006, o governo dos Estados Unidos apresentou oficialmente ao mundo a segunda versão do “Plano de Anexação para Cuba”, com o objetivo de aprofundar e consolidar outra política apresentada dois anos antes, o relatório “Comissão de Ajuda p

O raciocínio do governo norte-americano é simplório, mas ao menos é coerente com a política adotada contra Cuba há mais de 40 anos: é necessário gerar um clima de penúria e instabilidade no país, de tal modo que a população dê seu aval a uma eventual intervenção militar dos EUA.



Para tanto, o novo relatório expõe sem qualquer pudor a determinação do governo norte-americano em derrubar as instituições amparadas pela Constituição cubana, aprovada em referendo por mais de 95% do país. Se isso não bastasse, tal política significa apenas parte do “Plano de Anexação para Cuba”, já que alguns trechos do documento são mantidos em segredo, “por razões de segurança nacional”, segundo informações da Casa Branca.



Assédio, ameaças, represálias, perseguições…
Na prática, boa parte das novas medidas são baseadas no recrudescimento de alguns artigos da Lei Helms-Burton, aprovada em 1996 pelo governo Clinton, cujo conteúdo principal é a proibição da concessão de vistos para entrar nos EUA àqueles que invistam em Cuba.



Com a nova versão do plano, o governo norte-americano conseguiu que sua política afetasse setores tão distintos de Cuba como o turismo e a produção artística, atingindo até mesmo entidades religiosas e cidadãos comuns norte-americanos.



Segundo informações do Consulado de Cuba em São Paulo, em outubro de 2005 o governo dos EUA passou a criar dificuldades para que artistas cubanos obtivessem o visto de entrada em seu país. A alegação: os artistas “reportariam benefícios financeiros para o regime de Castro”.



Outros casos ilustram muito bem até que ponto chega a insensatez norte-americana:



Desde janeiro de 2006, dezenas de agências de turismo norte-americanas foram fechadas, após uma intensificação de auditorias. O motivo: oferecer a seus clientes pacotes de viagem para a Ilha, “descumprindo as sanções vigentes contra Cuba”, segundo relatório do Escritório de Controle dos ativos Cubanos (OFAC, na sigla em inglês).



Em 4 de maio de 2006, a deputada Ileana Ros-Lehtinen, assumidamente anticubana, apresentou um projeto de lei “para não admitir nos Estados Unidos estrangeiros que realizaram investimentos que ajudem a ampliar a capacidade de Cuba para desenvolver os seus recursos petroleiros e para outros fins”.



Somente em 2005, 487 cidadãos ou residentes nos Estados Unidos foram multados por terem cometido “violações” ao bloqueio, especialmente por terem viajado a Cuba.



Em julho de 2005, o governo norte-americano confiscou 43 caixas com computadores que seriam doados a escolas cubanas, como ajuda humanitária organizada pela organização inter-religiosa Pastores pela Paz. Dois meses depois, membros do Conselho Nacional de Igrejas dos Estados Unidos tiveram suas licenças para viajar a Cuba negadas.



Em fevereiro de 2006, começaram a vigorar novas restrições da OFAC sobre as instituições bancárias dos EUA. Qualquer “transgressor” que se disponha a realizar alguma transação com Cuba será alvo de investigações civis – a lei também permite que inquéritos sejam abertos.



No primeiro semestre de 2006, 73% dos vistos solicitados por funcionários cubanos para viajar aos Estados Unidos por motivo de trabalho não foram outorgados pelo Departamento de Estado.



Para o ano de 2006, o governo dos EUA destinou mais de US$ 37 milhões para as transmissões ilegais de rádio e TV para Cuba, com o objetivo de financiar propagandas contra o regime cubano. Em relação a 2004, o valor recebeu um acréscimo de mais de 30%.



Ajudas humanitárias
Em junho de 2006, mais de 30 mil funcionários cubanos da área de saúde estavam espalhados pelo mundo trabalhando em missões humanitárias, cuidando especialmente de vítimas de catástrofes e fenômenos naturais.



Há décadas Cuba é vanguarda nesse tipo de ação, mas grande parte desse trabalho depende da importação de equipamentos médicos. Apesar do caráter nobre desse tipo de ajuda, o recrudescimento do bloqueio tem causado dificuldades àqueles que se dispõem a colaborar com o governo cubano.



O feitiço, como diz o velho ditado, realmente acaba tomando rumos inesperados às vezes. Em 2005, após os problemas causados pela passagem do Furacão Katrina, em Nova Orleans, Cuba não pôde enviar seus funcionários para ajudar as centenas de milhares de vítimas. À época, a demora e a limitação do serviço prestado pelas autoridades norte-americanas foi um duro golpe para a adminsitração de George W. Bush.



Fatos como esses – e até mesmo prejuízos econômicos aos Estados Unidos – fazem com que com importantes setores do país sejam contrários ao bloqueio. A terceira reportagem desta série, a ser publicada em 3 de novembro, tratará deste assunto.



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