Al Jazira em inglês sofre censura velada nos EUA
A Al Jazira estreou na última quarta-feira (15/111) seu novo canal de televisão em língua inglesa, que, segundo a direção do grupo de televisão árabe sediado no Catar, levará seu sinal a 80 milhões de residências, principalmente nos países árabes e na Eur
Publicado 19/11/2006 15:25
Mas no principal mercado de língua inglesa do mundo, os EUA, quase ninguém tem a oportunidade de assisti-lo. Nenhum grupo de cabo – principalmente Comcast, Time Warner Cable, Charter Communications e Cablevision – chegou a um acordo com o canal. “Por enquanto não fizemos um acordo com a Al Jazira e não posso especular sobre o futuro”, disse Jenni Moyer, porta-voz da Comcast, o maior grupo de televisão a cabo dos EUA.
Perguntada se a decisão teve motivos comerciais ou políticos, Moyer respondeu que a Comcast “não questiona as decisões tomadas em discussões com possíveis sócios”.
Mas tudo indica que, diante do interesse que haveria nos EUA por acesso a mais fontes de informação sobre a guerra no Iraque, tema principal das eleições de 7 de novembro, a decisão das grandes empresas de televisão a cabo corresponde a “uma censura de fato”, segundo Norman Solomon, autor de “War Made Easy” (A guerra explicada). “Milhões de pessoas gostariam de ver a programação da Al Jazira em inglês, mas há grupos influentes que não querem ofender o governo ou os anunciantes”, disse.
Relações tensas
As relações entre a Al Jazira e o governo Bush têm sido no mínimo crispadas. O ex-secretário da Defesa Donald Rumsfeld acusou o canal em abril de 2004 de transmitir “informação atroz, imprecisa e imperdoável” sobre as mortes de civis em Faluja, posteriormente comprovadas. Segundo a transcrição de uma conversa entre George Bush e Tony Blair publicada na mídia inglesa em novembro de 2005, embora desmentida pelo governo de Washington, Bush brincou em 16 de abril de 2004 que gostaria de bombardear a sede da Al Jazira no Catar. Os escritórios do canal em Cabul e Bagdá foram bombardeados pelas forças americanas.
No entanto, o governo americano lamentou diversas vezes que a Al Jazira transmitiu os comunicados de Osama bin Laden, vídeos que tiveram audiência máxima quando transmitidos pela CNN ou Fox, o que deixa claro, segundo Solomon, “a desconexão entre o mercado e a censura”. O site inglês da Al Jazira foi quase destruído por hackers de identidade desconhecida.
A implantação do novo canal em inglês da Al Jazira foi adiada diversas vezes devido a problemas técnicos e questões de licença. A TV contratou importantes jornalistas de televisão no Reino Unido e nos EUA, entre eles o veterano britânico David Frost, famoso por sua entrevista com Richard Nixon durante o escândalo Watergate, e o correspondente da ABC americana Dave Marash. Ela também conta com os serviços do ex-apresentador da CNN Riz Khan.