Novo presidente do Equador quer Comunidade Latino-Americana

O progressista Rafael Correa, eleito presidente do Equador com surpreendente folga neste domingo, “impulsionará a criação da Comunidade Latino-Americana”. A afirmação é de Gustavo Larrea, porta-voz da AP (Aliança País), partido de Correa. A última parcial

Correa chamou seu adversário, Álvaro Noboa, a “aceitar a realidade. O bilhonário bananeiro de Guayaquil, porém, reluta em admitir o resultado e pede a recontagem voto por voto de mais de 36% das urnas.



Noboa: três derrotas, cada vez piores



Num país com 41% da população abaixo da linha de pobreza, um PIB per capita de US$ 4.300/ano e 47% de subempregados, Nóboa é dono de mais de cem empresas, com capital superior a US$ 1 bilhão. Seu forte são as plantações bananeiras do litoral — banana é um dos principais itens da pauta de expoirtação do país).



Esta imagem foi, segundo os analistas, um dos fatores da sua derrota. A outra foi a orientação abertamente direitista, indo ao ponto de pregar o rompimento das relações diplomáticas do Equador com Cuba e a Venezuela.



Com essa linha, Noboa frustrou-se, pela terceira vez consecutiva, em sua ambição presidencial. As derrotas, porém, estão aumentando: ao concorrer pela primeira vez à presidência, em 1998, ele perdeu o segundo turno por 2,3% dos votos válidos; em 2002, foi por 9,6% dos votos; neste domingo, a julgar pelas parciais, a derrota será por mais de 36% dos votos válidos.



A plataforma progressista de Correa



Já o Correa elegeu-se denunciando a “partidocracia”, defendendo uma mudança política profunda e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte (tal como Chávez, em 1998, e o boliviano Evo Morales, em 2005). Em política externa, sua plataforma vai no mesmo sentido.



Correa propõe a renegociação da dívida externa do Equador, de forma “digna, técnica e firme”, pois “os compromissos nacionais vêm antes dos internacionais”. Pretende renegociar também os acordos com as multinacionais petroleiras que atuam no país, fazendo valer a condição do Estado como proprietário constitucional das jazidas. Já disse que não assinará o TLC (Tratado de Livre Comércio) com os Estados Unidos, pois quer um “comércio justo” com o vizinho do norte. Também não pretende renovar o acordo que vence em 2009 e cede ao Pentágono a base de Manta, única base militar propriamente dita dos EUA na América do Sul, situada no litoral norte do Equador. Sobre as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), recusa-se a considerá-las “terroristas”, “a menos que a ONU o faça”, enquanto não admite que elas, ou os paramilitares, ou o exército da vizinha Colômbia ponham “meio pé em nosso território”.



“O sonho é a Comunidade Latino-Americana”



Foi uma alinha assim a defendida por Larrea para as relações regionais. “O sonho da Aliança País é marchar para a Comunidade Latino-Americana”, disse o dirigente partidário, cotado para integrar o futuro ministério, provavelmente na pasta do Interior.



“A América Latina deve se consolidar regionalmente e rumar para a Comunidade Latino-Americana de Nações. Isto nos dará muito mais força para a negociação política, econômica e comercial com o mundo”, defendeu.



Larrea adimitiu que a Comunidade Andina (formada pelo Equador, Bolívia, Colômbia, Peru e Chile) está em crise. Correa já usou termos ainda mais fortes, afirmando que a CAN está “ferida de morte”. Mas propõe uma volta por cima.



“Vamos discutir o tema da Comunidade Andina; o dieal seria seguir para a Comunidade Latino-Americana de Nações a partir da própria Comunidade Andina, do Mercosul e da Comunidade Centro-Americana”, defendeu.



Bloco político, comercial e até monetário



“Temos interesses comuns como latino-americanos. e também podemos tê-los, em alguns casos, com os Estados Unidos. Precisamos de negociar com eles e acreditamos que a melhor maneira de fazê-lo é fortalecendo a nossa unidade”, raciocinou Larrea. Ele agregou que o Equador de Correa impulsionará a integração regional “com força, porque acreditamos que este é o caminho da América Latina em um mundo globalizado”.



Para os vitoriosos do 26 de novembro, a integração continental é a saída inclusive para a dolarização, imposta ao Equador em 2000: Correa a condena, mas considera que seria muito pior abandoná-la; pretende mante-la e buscar, “a longo prazo”, a alternativa de uma moeda regional sul-americana. “A América Latina, particularmente a América do Sul, deve se dirigir para blocos geopolíticos, comerciais e inclusive monetários para poder enfrentar o mundo globalizado”, defendeu.



Da redação, com agências