PCdoB/SC apresenta documento de avaliação das eleições 2006
O Comitê Estadual do Partido Comunista do Brasil de Santa Catarina apresenta ao coletivo partidário o documento intitulado: ” Eleições 2006, vitória política e um destacado desempenho eleitoral do Partido em Santa Catarina. Reafirmar a necessidade de um P
Publicado 14/12/2006 12:12 | Editado 04/03/2020 17:14
Acompanhe a íntegra do documento do PCdoB/SC que avalia as eleições 2006:
ELEIÇÕES 2006: VITÓRIA POLÍTICA E UM DESTACADO DESEMPENHO ELEITORAL DO PARTIDO EM SC. REAFIRMAR A NECESSIDADE DE UM PARTIDO FORTE, ORGANIZADO E ESTRUTURADO COMO PRESSUPOSTO PARA ATINGIR SEUS OBJETIVOS.
1. O processo de construção do projeto eleitoral do Partido.
A construção do projeto eleitoral teve início no final de 2004, com razoável antecipação em relação a momento anteriores. O debate foi pautado em 05 (cinco) reuniões do Comitê Estadual, 08(oito) reuniões da Comissão Política, em reunião de membros da CP com membros do CC em São Paulo e nas reuniões do Fórum da Macro Região Sul, em Porto Alegre e Florianópolis, também com presença de membros (03) do CC. Além disso, inúmeras consultas foram conduzidas por membros do Secretariado da CP a comitês municipais e membros do CE durante todo o processo.
O Partido buscou lançar mão de suas lideranças eleitorais de maior potencial. A tática originalmente apontava para apenas uma candidatura a deputada federal (Ângela) e até cinco candidaturas de deputado Estadual (Douglas, Paulinho ou Valduga, Nildão, um nome de Blumenau e um nome de Joinville). Nessa construção o resultado esperado era de uma boa votação, mas sem perspectiva de eleição.
Vale destacar algumas dificuldades que permearam o processo de definição da tática do Partido. Entre outros, a dificuldade da direção em avaliar, de forma mais rigorosa, a força real do Partido, dos possíveis aliados e dos adversários. Da mesma forma questões como os reflexos do aprofundamento da crise nacional, a possível verticalização e as dificuldades em construir uma aliança diferenciada na proporcional com Partidos de porte médio, pela filiação em setembro/05 de deputados estaduais no PPS, no PDT e no PSB.
De uma forma ou outra, estes fatores ao final de 2005 nos levaram a iniciar o processo de rediscussão de nossa tática eleitoral, no tocante ao número de candidatos, as reais possibilidades de eleição e deputado (a) federal e estadual e a possibilidade de alteração dos nomes nas candidaturas estadual e federal.
Posteriormente avançou-se para a discussão de um segundo nome para federal, e também da possibilidade de disputar uma vaga de deputado estadual. A perspectiva de existir uma chance, ainda que pequena, de disputar uma cadeira à Assembléia, motivou a alteração dos nomes na disputa, com a indicação de Angela Albino como candidata a deputada estadual. Além de Paulinho da Silva, também para estadual e Tiago Andrino e César Valduga como candidatos e deputado federal.
Sobre esta alteração uma questão que parece fundamental à análise é se foi correto deslocar o foco eleitoral para a disputa estadual, subestimando a necessidade de contribuir para o aumento dos votos federais do Partido com vista à superação da cláusula de barreira.
É importante constatar o amadurecimento do processo de debate interno. Com nuances, prevaleceu menos a visão direta das lideranças/candidatos, e mais a visão partidária e o interesse do Partido.
Registro importante a se fazer, é que pela primeira vez o Partido ocupou espaço importante da chapa majoritária, a 1ª. suplência do Senado com o camarada Douglas Mattos.
Visando seu objetivo eleitoral o Partido também participou da construção e tentativa de viabilização da chamada “frentinha” que chegou a somar oito partidos na fase de discussão e que acabou resultando numa aliança de PSB e PTB em torno da candidatura Sontag.
Colocou-se todo esforço partidário na tarefa de reeleição de Lula e apontou-se para a necessidade de derrota dos principais representantes da direita neoliberal no Estado: PFL(Bornhausen) e PSDB(Pavan).
2. Os resultados eleitorais do PCdoB-SC.
Nas eleições de 2006 o PCdoB-SC definiu como projeto eleitoral a disputa de uma cadeira à Assembléia Legislativa. Na disputa geral visou a construção no Estado de uma grande frente de centro-esquerda, tendo como principais partidos o PT e o PMDB.
Do ponto de vista do projeto traçado pelo Partido este foi o melhor desempenho eleitoral na disputa por uma cadeira na Assembléia Legislativa desde sua reorganização. Obtivemos assim, 34.522 votos para a Assembléia (1,03% dos votos válidos), conquistando a 1ª. suplência com a candidatura de Angela (22.593 votos).
O Partido vinha de um processo de “desacumulação” eleitoral em 2002, quando obtivemos resultados inferiores aos que haviam sido obtidos nas eleições de 1994 e 1998. Nas eleições de 2006 voltamos a acumular força eleitoral. E é fundamental preservar esse acúmulo, expresso na liderança conquistada por nossos quadros/candidatos, e na abertura de novos espaços políticos que devem ser eleitoralmente apropriados para 2008, e também para a organização e estruturação do Partido.
Os votos para a Câmara Federal ficaram bem abaixo do projeto traçado (2%), atingindo um total de 27.922 (0,86% dos votos válidos). Foram ainda 1.419 votos na legenda federal (0,04%) e 1.565 na legenda estadual (0,05%).
Os resultados locais reforçam a percepção de que o voto proporcional é fortemente regionalizado, ao mesmo tempo que demonstra força local do Partido e suas lideranças em Chapecó e Florianópolis: 12.682 votos de Angela vieram de Florianópolis, onde obteve 5,78% dos votos válidos, a segunda maior votação da cidade. Paulinho obteve 10,42% dos votos válidos de Chapecó (8.991 votos) e Valduga, com 9.895 votos, 11,56%. Assim também a votação do Tiago, embora menos concentrada, foi expressiva para uma 1ª. candidatura e no quadro de disputa que se apresentou.
3. Avaliação do resultado.
O resultado geral das eleições no Estado apontou para um retrocesso eleitoral considerável do campo político da candidatura Lula. Enquanto em 2002 Lula obteve a maior votação proporcional do país no 1º. turno no Estado, em 2006 sofreu grande derrota, não atingindo 40% dos votos válidos, causa e/ou conseqüência do fraco resultado da candidatura de Fritsch (14%) e a derrota de Luci Choinacki para o Senado. O resultado eleitoral também indica uma certa falência da política sectária, que exclui alianças mais amplas no processo eleitoral. A isso soma-se a enorme força política da aliança do PMDB à direita que reuniu na mesma coligação PFL-PSDB-PPS-PMDB, grande vitoriosa das eleições.
Assim também foram afetadas as votações dos candidatos proporcionais de nossa coligação, o que levou à eleição de apenas 03 deputados federais, contra 05 eleitos em 2002 e 07 deputados estaduais, 03 a menos do que os (10) eleitos em 2002.
A eleição de 2006 mostrou que nomes fortes do PT tiveram baixa votação, tanto a deputado federal quanto a estadual, fruto da forte queda de Lula em SC e da intensa campanha antipetista da mídia. Neste quadro, o fato de a votação da camarada Angela ter sido a maior da coligação na capital e termos alcançado a 1ª. suplência, confirma o acerto do reposicionamento tático empreendido pelo Partido no Estado.
Nesse cenário, o resultado do PCdoB-SC foi positivo. Conseguimos um número expressivo de votos, que demonstrou capacidade dos candidatos e do partido de ampliar votos para além de sua base eleitoral tradicional.
O resultado demonstra que o partido já acumulou força eleitoral para eleição de um parlamentar estadual (somamos 33 mil votos) em coligação. A experiência e o desempenho de nossos candidatos mostrou um partido com vitalidade, certa inserção social e política e uma direção que vai se consolidando e fortalecendo. Também o lançamento de mais de uma candidatura com potencial eleitoral faz parte de um processo necessário de descompressão eleitoral do PCdoB, projetando novas lideranças e dando mais visibilidade ao Partido.
No entanto, do ponto de vista do projeto traçado, não tendo adotado tática de concentração, deveria ter ficado mais explícita a prioridade de uma candidatura, buscando garantir o projeto de eleição de um(a) deputado(a) estadual. A não definição de forma explícita da possibilidade de priorização de uma candidatura engessou a direção no sentido de buscar fazer os ajustes necessários na reta final de campanha.
A alteração da tática eleitoral, lançando a candidatura de Ângela a deputada estadual, embora correta, é a reafirmação da busca do fenômeno eleitoral como fato necessário a um partido pequeno e com uma força eleitoral ainda em formação. O congestionamento de vários candidatos do nosso campo, a densidade eleitoral e a existência de poucas candidatas mulheres de outras legendas na região da grande Florianópolis aliados a projeção de Angela com o mandato parlamentar e a característica da candidata para a ampliação de apoios além da base partidária, foram os principais fatores que nos levaram a fazer a alteração da tática e lançar o nome de Angela a deputada estadual criando condição, mesmo que difícil, à eleição.
3.1. O desenvolvimento da campanha.
O Partido conseguiu garantir o processo da campanha eleitoral, mantendo coordenações permanentes em torno das candidaturas que responderam com razoável agilidade às demandas de natureza política e organizativa da campanha. Há um conjunto de quadros partidários que já acumula razoável experiência em disputas eleitorais, o que garantiu amadurecimento na direção política e de organização das campanhas. Mas é um número ainda pequeno, o que gerou dificuldades, por exemplo, a inexistência de uma coordenação própria da campanha do Tiago.
A campanha dos candidatos do Partido foi visivelmente mais profissionalizada (menos amadora). Focou mais os espaços eleitorais próprios do Partido, assimilou as características próprias de grupos diferenciados de eleitores, houve habilidade na permissão e construção de dobradinhas com outras candidaturas tendo por foco o projeto eleitoral definido e se procurou, nos limites dos recursos financeiros, demonstrar bom visual.
A novidade da apresentação de uma candidatura centrada no movimento juvenil projetou e consolidou liderança do camarada Tiago Andrino, com uma votação significativa para as condições da candidatura, abrindo espaço para o crescimento partidário na juventude, mas também conviveu com o paradoxo da ausência da militância juvenil no curso da campanha. Do mesmo modo a ausência de militância partidária foi registrada pelas coordenações de campanha de todos os candidatos.
Na política prevaleceu certa fluidez quanto ao embate central representado pela disputa Lula x Alkmin, tema que embora suscitado na maior parte do tempo apenas margeou o discurso das candidaturas e os materiais de campanha.
A falta de uma definição expressa quanto à existência de uma candidatura prioritária, somada à dificuldade da direção em aferir o potencial de nossos candidatos dificultou à Comissão Política (como coordenação geral da campanha) operar ajustes para garantir o resultado proposto no projeto. Sabia-se de antemão que a possibilidade do partido era para a eleição de um(a) deputado(a). No entanto, fragilizada pelas dificuldades criadas com os problemas de unidade, a direção teve dificuldades apontar a decisão de priorizar uma candidatura. Exemplo emblemático foi a questão do tempo de TV, que acabou “amarrada” à decisão da convenção, impedindo qualquer ajuste posterior em função de priorização.
4. Partido estruturado: o gargalo fundamental.
Os resultados das eleições por município indicam o vínculo direto da estruturação partidária aos resultados eleitorais. Os melhores resultados eleitorais, fora das cidades de localização dos candidatos, forma nos municípios com estágio mais avançado de estruturação e consolidação do Partido. Caso de Criciúma, Içara, Joinville, Blumenau; e foram bastante baixas em municípios importantes mas com baixo nível de estruturação partidária, como Itajaí e Rio do Sul. Chama atenção, neste aspecto o potencial do Partido em Blumenau, onde o resultado eleitoral, praticamente sem nenhum investimento maior de estrutura de campanha, demonstra um razoável enraizamento social e entre os trabalhadores que deve ser melhor aproveitado.
O resultado também indica que o Partido, através do mandato de seus vereadores, tem importantes vínculos com o movimento popular em Florianópolis, Chapecó, Criciúma e Blumenau. Mas é um partido pouco organizado no movimento social, sem organismos de base vivos e atuantes, e com direções ainda em consolidação.
Fora desses municípios, eixos centrais das quatro candidaturas, a situação é ainda mais difícil. A quase que completa inexistência de partido organizado em um conjunto de cidades grandes e médias do Estado, impediu a ampliação de votos dos candidatos fora dos seus “redutos” mais diretos. Apenas como exemplo cita-se Concórdia e Itajaí, onde Paulinho e Angela obtiveram 70 e 118 votos respectivamente. Uma desproporção em relação ao tamanho e importância dessas cidades no mapa geopolítico estadual, que está diretamente associada à baixa estruturação do Partido.
Essas constatações impõem o esforço de estruturação do Partido em um conjunto de cidades médias e grandes do Estado, com eleição e organização de direções partidárias, o que deverá acontecer no processo de conferência partidária do próximo ano, mas precisa ser construído desde já.
Também neste caso, carece de maior responsabilização da direção sobre o PEP (Plano de Estruturação Partidária), romper o processo de “espasmos de presença” de importantes quadros dirigentes às reuniões do Comitê Estadual e da Comissão Política (CP), e definir responsabilidades de acompanhamento de municípios de forma expressa e sob direção da CP.
É importante considerar que frente às batalhas que se apresentaram é necessário quadros bem formados, com qualidade de intervenção política, compromissos partidários inequívocos, visão mais completa sobre partido, estado, sociedade e democracia, com mais domínio da realidade concreta. Dispomos de um conjunto ainda pequeno de quadros, muitos com grandes debilidades, ainda em formação. Esse reduzido número de quadros associados as suas debilidades levam a uma atuação na superficialidade dos temas, ou a uma tendência espontaneísta, que a eleição aguça, na disputa pelo voto.
4.1. A unidade interna: fator decisivo ao Partido e a suas vitórias
Um elemento fundamental à análise do resultado eleitoral do partido diz respeito à sua unidade interna na discussão e encaminhamento do projeto eleitoral traçado.
A discussão da alteração da tática promovida pela Comissão Política e posteriormente aprovada pelo CE e pela Convenção Eleitoral foi feita de forma democrática e legítima, respeitando os fóruns partidários.
No entanto, o método do debate contém equívocos. A alteração brusca de uma tática que já vinha sendo elaborada desde o final de 2004; a desconsideração de perspectivas individuais dos camaradas, que embora não determinantes, devem ser respeitadas; a dificuldade da direção em aferir corretamente o nível da disputa com candidatos da chamada “frentinha” e com candidatos do PT.
Fato é que, a divergência com a alteração da tática e os erros da direção (já alvo de autocrítica) estabeleceram um contencioso no interior do Partido, rompendo sua coesão interna. Esse rompimento da unidade levou ao afastamento de importantes camaradas do processo de direção partidária: Nildão e Dóris. E teve também efeitos, que devem ser considerados, sobre o projeto eleitoral e seu não sucesso. Esse problema de ausência de coesão acarretou também a fragilização da direção partidária em decisões posteriores.
A divergência estabelecida pelo camarada Nildão se situa na decisão da Comissão Política de fevereiro/2006 de propor alteração da tática, posicionando Angela como candidata a deputada estadual e Nildão como deputado federal. Esta possibilidade havia sido levantada na reunião do CE em dezembro de 2005, e em reunião da Comissão Política em janeiro de 2006.
Embora a decisão do camarada Nildão de afastar-se do debate, em momento algum houve ruptura do diálogo, e o nome do camarada continuou sendo apresentado, com sua concordância, para a composição da chapa majoritária do Senado e também como vice-governador, objetivo que foi definitivamente abandonado pela direção do Partido ante a negativa final do camarada em concorrer nas eleições de 2006.
A questão deverá merecer tratamento político criterioso pelo Comitê Estadual, com vistas a contribuir para a educação da direção partidária, que deve aprimorar métodos de debate e decisão; e à educação da militância acerca da construção concreta do princípio do centralismo democrático. Assim se fortalece o Partido no seu conjunto, e seus membros individualmente.
5. O Partido e o 2º. Turno no Estado
Considerando o quadro nacional definido para o 2º turno o Partido teve como objetivo estratégico à reeleição do Presidente Lula. O Partido posicionou-se no sentido de derrotar o campo político de apoio à candidatura conservadora de Alckmin, representado no Estado pelo PSDB de Leonel Pavan e pelo PFL de Jorge Bornhausen e, materializado na candidatura de Luis Henrique da Silveira.
Embora sem a indicação por parte da direção do Partido e em condição especial, devido ao afastamento da direção partidária atendendo ao art. 43 do Estatuto do Partido, destaca-se a participação do camarada Nildomar Freire (Nildão) na coordenação geral da campanha de Lula, especialmente na mobilização e na articulação política com lideranças e outras forças políticas no sentido de ampliação de apoios.
O partido empenhou-se na construção de um amplo leque de forças políticas, personalidades e lideranças para o fortalecimento do poio a candidatura Lula em Santa Catarina e em nota de sua Comissão Política definiu que o apoio a uma candidatura ao governo do estado no 2º turno estava condicionado ao apoio desta a candidatura Lula, expressa na seguinte diretiva: “O PCdoB está com Lula. No 2º turno estaremos com quem estiver com Lula”. O candidato Esperidião Amin (PP) manifestou e materializou seu apoio a Lula na reta final de campanha no 2º turno. No que pese a dificuldade de realizar um debate mais amplo sobre o tema, o Partido contribuiu para reduzir a diferença da votação de Lula no estado.
03 de dezembro de 2006
Comitê Estadual do PCdoB/SC