Mil novas cisternas de placas no Cariri
Serão construídas mil cisternas até junho de 2007 no Cariri, segundo a Articulação do Semi-Árido (ASA). O Ceará já conta atualmente com 18.867 cisternas. Vinte e seis municípios da região são atendidos pela Associação Cristã de Base e pela Cáritas Diocesa
Publicado 17/12/2006 19:43 | Editado 04/03/2020 16:37
O Cariri terá mil novas cisternas de placas instaladas até junho de 2007, que faz parte do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), da Articulação do Semi-Árido (ASA). O processo de implantação na localidade é acompanhado pela Associação Cristã de Base (ACB) e pela Cáritas Diocesana do Crato. Atualmente, foram implantadas cerca de 1.372 cisternas de placas em 26 municípios do Cariri, segundo a coordenadora da ACB, Alda Ferreira de Andrade. Cada entidade é responsável por 13 municípios. No entanto, diz Alda, a meta é realizar os trabalhos nas 32 cidades da região. No Ceará, a ASA construiu 18.867 cisternas até hoje.
Alda conta que tanto a ACB como a Cáritas já têm novo convênio firmado com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que prevê o acompanhamento e a construção de mais 850 unidades nos 26 municípios atendidos pelas instituições. As cisternas deverão estar prontas de dezembro deste ano até março de 2007. “Com o trabalho de implantação e mobilização para a construção de cisternas, grupos se formam quando verificam novas oportunidades de trabalho. É o caso de jovens de Morada Nova que produzem as bombas para as cisternas. Eles encontraram meios para conseguir dinheiro”, diz Alda.
Paralelamente, ao P1MC, a ACB coordena projetos Uso da Agroflorestação na Recuperação de Solos e Matas Ciliares e dos sistemas agroflorestais. No programa de sistemas agroflorestais, implantado em 1994, técnicos e animadores da entidade mobilizam agricultores da região para o manejo correto do solo, sem a utilização de agrotóxicos, acabando com a monocultura e incentivando a produção consorciada. “O modelo foi se aperfeiçoando. Há experiências exitosas que plantam leguminosas com árvores frutíferas. Toda a época do ano é possível realizar a colheita desta forma”, afirma Alda.
O reflorestamento da mata ciliar é um projeto desenvolvido em dois municípios: Monte Alverne e Santa Fé. Patrocinado pela Petrobras, ele termina no final deste ano, mas a coordenadora da ACB acredita que ele deve continuar. “Técnicos da Petrobras estiveram no Cariri para verificar o programa e nossas metas foram cumpridas, estamos aguardando agora um parecer da empresa para seguir com o programa”, conta. O projeto tem como objetivo a recuperação do solo e das matas ciliares, bem como a melhoria das condições sócio-ambientais em 18 comunidades, com capacitação do sistema agroflorestal, o gerenciamento da pequena propriedade rural, a construção de barragens subterrâneas, a utilização e o gerenciamento racional dos recursos hídricos.
O que é a ASA
A ASA nasceu como uma resposta da sociedade às maneiras tradicionais de lidar com o semi-árido. Ela consolidou-se em 200 e hoje congrega 750 entidades de vários segmentos sociais. Todas atuam para o desenvolvimento social, econômico, político e cultural do semi-árido.
propostas aprovadas do VI ECONASA SOBRE ACESSO À ÁGUA
• Pela garantia da continuidade do programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido: Um milhão de Cisternas Rurais (P1MC), como uma política pública de democratização e aceso à água de qualidade pelas famílias do semi-árido brasileiro;
• Pela valorização e incorporação, nas políticas de captação de água, dos conhecimentos, práticas e tecnologias já desenvolvidos com êxito pelos agricultores e agricultoras, a exemplo do Projeto Uma Terra e Duas Águas – P1+2 e o Projeto Bomba Popular – BAP, que compõem um conjunto de iniciativas da ASA que necessitam ser apoiadas pelo Estado;
• Enfatiza as prioridade pelo seu uso de forma difusa, tanto para consumo humano quanto para a produção, opondo-se a qualquer tentativa de concentração e privatização;
• Defende e defenderá a desprivatização dos açudes construídos com recursos públicos, garantindo ás populações, especialmente as mais necessitadas, o acesso à sua água.
Projeto aumenta renda
A Floricultura Nossa Senhora Aparecida, na comunidade de Santo Antônio de Arajara, no Crato, é uma das experiências de agroecologia que vem dando certo no Cariri. Os participantes do VI Encontro Nacional da Articulação do Semi-Árido (Econasa), que ocorreu de 20 a 24 de novembro último, conheceram o local. Lá, famílias trabalham para complementar sua renda em forma de cooperativa.
O projeto começou com dificuldades. Mas seus participantes estão conseguindo superar as barreiras financeiras e de relacionamento. Quando surgiu, o projeto não tinha terra para plantar. Uma das participantes, Silvana Pereira da Silva, cedeu um hectare para o plantio. O dinheiro foi conseguido pelo Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), por meio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Foram R$ 12 mil, que serão pagos até 2011. “Tivemos que nos virar. Fizemos bingo, quermesses, rifas”, conta Maria Elenir Xavier, a Lana.
O grupo, inicialmente formado por 18 famílias, é composto por 11 integrantes: oito mulheres e três homens, que trabalham por escalas e mutirão. As escalas são de duplas diárias. Desta forma, os integrantes podem continuar o trabalho como agentes de saúde, diarista, na agricultura e como instrutor de capoeira. No entanto, no início muitos integrantes tiveram problemas com suas família. A Lana diz que seu marido ameaçou separação caso ela continuasse no projeto da floricultura. Hoje, já convencido da importância do programa, ele trabalha auxiliando a esposa.
Na floricultura, estão sendo cultivados crisântemo, samambaias e tango. As sementes vêm de São Paulo, principalmente tango e crisântemo. Os adubos utilizados são de produtores de animais ou de casas agropecuárias. “Usamos produtos naturais para o controle das doenças como cala de álcool e fumo e urina de vaca”, conta Alberto José Teófilo, o Beca. A venda é feita avulsa nas floriculturas da região. Apesar de gerar renda para as famílias, o grupo já conseguiu reunir R$ 1.190, o valor da primeira parcela, que deverá ser paga em junho de 2007.
A intenção do grupo é conseguir reunir dinheiro para aumentar a produção e plantar mais dois hectares de terra. Segundo seu Alberto, há mercado para os produtos da floricultura, só que ainda não há produção suficiente para atender a demanda do Crato. “Podemos competir com flores e folhas que vêm de São Paulo e Minas Gerais”, declara seu Alberto.
Fonte: O POVO