Luizianne Lins – “O pior momento passamos.São os dois primeiros anos”

Encerrando hoje a primeira metade de seu mandato como prefeita de Fortaleza, Luizianne de Oliveira Lins, 37 anos, acredita que até aqui cumpriu sua meta. Resgatou o ideal de cidade no fortalezense e, com isso, a auto-estima da população. Agora parte para

Após assumir uma Prefeitura dilapidada, a senhora passou dois anos com a missão de colocar a máquina nos trilhos. Já dá para dizer que a casa está arrumada?


 


Pegamos Fortaleza muito destruída em sua auto-estima e isso se refletia na falta de cuidado cotidiana da cidade, no lixo demasiado nas ruas, numa cidade com muito buraco, na falta de cuidado de coisas mínimas como são os postos de saúde, muitos invisíveis para maioria da cidade, principalmente para os setores formadores de opinião, mas que era absolutamente caóticos. Você pegar uma cidade e fazer essa cidade se perceber novamente, se ver e começa a ter uma olhar crítico mas ao mesmo tempo propositivo. Acho que essa foi a nossa grande tarefa desses dois anos: fazer com que o povo de Fortaleza voltasse a acreditar na Prefeitura e fosse partícipe desta construção.


 


A senhora diz que arrumou a auto-estima, e o resto da casa, na área administrativa e financeira?


 


Houve uma leitura equivocada de alguns setores da imprensa, que dizem que a gestão anterior investiu mais do que ou igual a nossa gestão. O que precisamos dizer para as pessoas é que a dívida que o Juraci deixou de R$ 278 milhões de restos a pagar. Dívida de serviço prestado que estavam com quatro meses atrasados, quase 90% dos fornecedores da Prefeitura. Serviços prestados, pessoas trabalharam… Essa é a dívida flutuante que nós tínhamos que minimamente começar a pagar para a máquina voltar andar, porque eles fizeram tudo para parar a máquina no dia 1 de janeiro. Nem a folha de pagamento na época, de R$ 40 milhões, foi depositada. Então esse dinheiro conta para o Juraci como investimento e não conta para gente, que pagou a dívida.


 


Já podem oferecer serviços de qualidade?


 


A máquina vem se capacitando. Ano passado tivemos arrecadação recorde de 40 milhões a mais de recursos próprios, mas aumentamos os custos porque tínhamos uma demanda enorme dos servidores, que eram totalmente desvalorizados, demos dois bons aumentos tanto no ano passado como agora. Agora vamos entrar na fase dos grandes projetos estruturantes.


 


Como serão esses investimentos?


 


A gente começou a estruturar a humanização. A saúde foi onde entramos com os maiores investimentos, embora seja o de menos visibilidade. Porque ninguém procura a saúde quando es tá saudável. Constitucionamente precisaríamos investir 15%, e até hoje já investimos 26%. Projetos estruturais vão começar: Praia de Iracema, Beira-Mar, o Transfor. É só o tempo de ir atrás do dinheiro, preparar o projeto, entender a máquina e cuidar de pequenas coisas que são importantes para o povo.


 


Agora tem uma nova conformação política. São aliados os governos Federal, com Lula, e Estadual, com Cid Gomes. O que Fortaleza pode esperar melhorar com esta nova situação de parceria?


 


Primeiro vamos mostrar tanto para o Governo Federal quanto para o Governo do Estado que Fortaleza precisa de uma atenção muito especial. Primeiro porque a quarta capital do país significa também a quarta em problemas os mais diversos. Temos um Interior do Estado muito pobre devido às políticas que não sustentaram o homem e a mulher no campo, políticas dos tucanos que nos antecederam. Em geral, fizeram com que houvesse um êxodo rural sistemático, que está demonstrado pela quantidade de áreas de risco. As pessoas chegam aqui e não têm para onde ir, não têm condição de alugar nada e vão morar de forma subumana. O Ceará é o quinto Estado em pobreza no Brasil e Fortaleza, que não tem uma economia forte , é uma cidade de comércio e serviços.


 


Como as parcerias ajudam?


 


O Governo do Estado pode ajudar muito na questão habitacional, nós tem um déficit de 163 mil moradias em Fortaleza, fruto do êxodo rural também. O governador eleito Cid Gomes se comprometeu a me ajudar nessa área de habitação e de turismo, inclusive com aporte de recursos que praticamente não tivemos ajuda com o governo passado. E também resolver os conflitos da cidade de forma muito tranqüila, porque, afinal de contas, o governador eleito foi prefeito e disse para mim que os problemas da cidade serão resolvidos de acordo com a Prefeitura.


 


Incluindo o as decisões sobre litoral?


 


Incluindo a Costa-Oeste e a questão da Reffsa, dois pontos que conversei pessoalmente com o governador eleito. Esse diálogo com o governador eleito Cid Gomes vai ajudar muito se permanecer como foi até agora. Não é à toa que acabei me empenhando, dentro do PT, fora do PT, para que se viabilizasse essa eleição. Não é à toa que Fortaleza foi a capital petista com o maior percentual de voto no Lula ainda no primeiro turno, 67,5%. E mesmo não tendo segundo turno para governador aqui, nós chegamos em Fortaleza a 82% de votação no Lula. Isso para nós é motivo de alegria porque as pessoas estão também sintonizadas com o projeto municipal. Agora estamos com tudo azeitado. Vamos esperar que tanto o governador eleito, Cid Gomes, como o presidente Lula, estejam sensíveis à nossa cidade, porque estivemos muito sensíveis à eleição dos dois.


 


A indicação do deputado Marcos Cals, do PSDB, para o secretariado de Cid Gomes causou surpresa em todos. Como você vê agora a participação do PT neste governo ?


 


Não tenho conversado com o governador eleito Cid Gomes, por isso não sei os motivos que o levaram à escolha. Mas fico incomodada em falar de secretariado que nem está montado ainda, não foi apresentado oficialmente ainda. Mas o que eu imagino, é que o Marcos Cals é um deputado que talvez tenha sido um dos maiores presidentes que a assembléia teve. Foi eleito por unanimidade, porque teve a capacidade de ter um senso democrático e dar espaço a todos os setores dentro da Assembléia. Inclusive a esquerda. Apoiou trabalhos sobre a violência contra a mulher que eu fiz, várias coisas na Comissão de Direitos Humanos… eu nunca discuto a política em pessoas, objetivamente.


 


E decisão a surpreendeu?


 


O que foi surpresa foi o fato de ele pertencer aos quadros do PSDB, que não estava na nossa composição, que são nosso inimigos históricos aqui no Ceará do nosso projeto de esquerda e nacionalmente o presidente, que é o senador Tasso Jereissati, tem sido um arquinimigo do Lula. Chegou a chamar o PT Nacional de ladrão. Dizer que o projeto nacional do PT era roubar. E, várias vezes, atacou o presidente Lula. E isso foi a surpresa, embora não queira fazer julgamento pessoal do ponto de vista do deputado Marcos Cals, que eu acho que é uma pessoa com muito talento político. Mas do ponto de vista ideológico não era nosso horizonte ter nesse governo que nós fazemos parte o PSDB como parceiro estratégico ou como aliado político. Até porque eu acho que nossos projetos são antagônicos e a gente elegeu o Cid para quebrar com a continuidade que estava aí. Espero ainda ter a oportunidade de conversar com ele e entender um pouco mais isso, mas de antemão, do ponto de vista político e ideológico, é o nosso questionamento. Ou seja, o PSDB não é nosso aliado nesse projeto político que queremos construir, por isso é que nos surpreendeu.


 


Como anda a reforma administrativa?


 


A reforma administrativa não está parada, várias iniciativas foram tomadas. E, a partir de agora, começamos os processos mais forte, porque mexemos com a vida das pessoas. Principalmente numa máquina gigante como esta. Temos 30 mil servidores na ativa e qualquer mudança traz transtornos. Mas a reforma está pronta desde o começo deste ano, mas foi um ano eleitoral e poderiam haver vários movimentos oportunistas para desgastar a Prefeitura e criar um sentimento de terror nas secretarias. E resolvemos que faríamos só o urgente. Estamos trabalhando para mandar a reforma no global no começo dos trabalhos da Câmara de 2007.


 


O que a Prefeitura pretende fazer para executar as demandas do OP?


 


Todas as prefeituras do PT no primeiro momento, e Porto Alegre passou por isso, faziam estimativa do Orçamento Participativo e no ano seguinte não conseguiam chegar a 30% de execução. E sabedora disso, nós estamos comemorando os dados que, para mim são muito significativos. Nós temos concluídas do ano passado, 44% do total das demandas, quase a metade. Tomando-se o dado da licitação concluída – porque o problema também é de licitação, porque o setor disputa, entra na justiça, sai liminar e atrasa – nós chegamos a 62% das demandas do OP e com projeto arquitetônico concluído, juntando tudo, chegamos a 81,7% do total das demandas ainda esse ano. E isso é muito bom.


 


E não há reação popular?


 


Nós estamos sabendo o que estamos fazendo. Se eu fui eleita para estruturar, mesmo que não tenha visibilidade, eu vou estruturar. Vou olhar, no final, para o povo e vou dizer: eu fiz o que tinha que ser feito para não ficar numa gambiarra toda vez que entra um prefeito novo. Nós estamos deixando um patrimônio para a cidade e agora vocês vão cobrar dos médicos, enfermeiros e dentistas de ocuparem os postos de saúde. Sou otimista, estou otimista com 2007, com 2008. O pior momento passamos. São os dois primeiros anos . Agora a tendência é melhorar.


 


Fonte: Diário do Nordeste