A hora do crescimento é esta – Messias Pontes
Os discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tanto no Congresso Nacional quanto no Parlatório foram prenhes de otimismo. Crescimento com responsabilidade e com inclusão social, e educação de qualidade foi o destaque dado pelo Presidente. Mas tudo
Publicado 02/01/2007 19:41 | Editado 04/03/2020 16:37
Todos sabem que a travessia é mais que possível, mas águas turvas surgirão durante o trajeto. A oposição raivosa e entreguista e a mídia venal a seu serviço tudo farão para que o barco afunde antes de chegar ao seu destino. Assim tem sido ao longo de nossa história, notadamente no último quarto de século quando tivemos duas décadas perdidas e o patrimônio nacional destruído.
São muitos os nós que precisam ser desatados, inclusive os dados por setores do próprio governo Lula. O Presidente falou em seus discursos ser preciso uma combinação ampla e equilibrada dos investimentos público e privado. Mas como fazer investimento público com superávit primário de 4,25% – que na prática tem superado os 5% – e investimento privado com a taxa de juros mais alta do mundo e com o câmbio supervalorizado? Sem destruir esses gargalos é quase impossível se obter um crescimento necessário para satisfazer as demandas sempre crescentes. Sem determinação e coragem tudo ficará no papel.
A casa destruída pelos neoliberais já está praticamente arrumada. O que está faltando, na verdade, é determinação política e coragem. Sem isso caminhamos célere para mais uma década perdida. Afinal, o crescimento nos seis primeiros anos desta década foi não só pífio, mas sobretudo vergonhoso. O Brasil foi o país que mais cresceu no século XX. Mas também foi o que mais concentrou renda em todo o mundo. Esse crescimento não nos interessa.
Outras mudanças importantes têm de ser enfrentadas com determinação e coragem. O Brasil, país continental, não pode continuar com a estrutura agrária sendo uma das mais atrasadas do mundo. Nos quatro primeiros anos do atual governo pouco foi feito para mudar esse quadro. Tanto isto é verdade que a Igreja Católica e o MST estão a exigir a extinção do Ministério da Reforma Agrária, pois este mais atrapalha que ajuda. Milhões de camponeses querem produzir mas não têm como. Falta-lhes a terra, assistências técnica, creditícia, educacional e de saúde; faltam estradas para o escoamento da produção e a garantia de preços mínimos, sem falar em armazéns.
Uma verdadeira reforma política também precisa ser atacada com urgência, pois a que as elites estão propondo só serve a ela. Reforma política tem de ser a mais democrática possível, com igualdade de condições para os partidos, e isto não se consegue sem financiamento público de campanha e sem fidelidade partidária. Reduzir o número de partidos sob o pretexto de acabar com os “partidos de aluguel” não só é uma falácia como também uma grande hipocrisia.
Determinação política e coragem o presidente Lula terá de ter também para democratizar os meios de comunicação. Isto tem de ser priorizado logo no início do seu segundo governo iniciado anteontem. Com raras e honrosas exceções, a mídia brasileira é golpista. Ou o presidente Lula ataca esta questão de frente ou corre o risco de enfrentar muitas turbulências. Apoio popular é o que não lhe falta. A história brasileira é testemunha do caráter antidemocrático dessa imprensa. Melhor exemplo é o que aconteceu nos últimos 20 meses.
Coragem, presidente Lula. A nação brasileira está do seu lado.
Messias Pontes é jornalista