Para ONU, diversidade da América Latina deve ser respeitada

Kemal Dervis começa neste fim de semana sua primeira turnê pela América Central como administrador chefe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O ex-ministro da Economia turco vai parar em Cuba, depois de uma rápida escala no Méxi

A missão vai durar dez dias, dois por país. O responsável pelo PNUD vê a viagem como uma primeira tomada de contato e de aprendizado, sobretudo em Cuba, aonde diz que vai “disposto a escutar”. “A situação desse país é muito interessante”, disse Dervis, que evita opinar sobre questões políticas relacionadas à saúde de Fidel Castro e suas conseqüências. A ONU já colabora com o governo cubano em alguns âmbitos específicos, como na reação de emergência a catástrofes naturais ou na reabilitação de sua capital.


 


O diretor do PNUD salienta que os indicadores sociais de Cuba são bons no campo da educação, o que em princípio “representa uma boa base para o desenvolvimento econômico do país”, explica. Mas Dervis quer entender nesta viagem quais são os problemas que impedem esse avanço –talvez ele precise ser lembrado que Cuba vive sob um pesado embargo econômico imposto há décadas pelos Estados Unidos. No extremo oposto encontra-se a Costa Rica, um país que, como ele diz, “é uma democracia estável e pacífica há muitos anos”. Nos dois, porém, há um problema comum: a pobreza.


 


Dervis explica que as remessas que a América Central recebe de seus imigrantes – cerca de US$ 30 bilhões em 2005 – são uma importante fonte de recursos. “O desafio é como devem ser utilizados esses fundos para aumentar a capacidade de produção dos países, investindo na criação de pequenas empresas e nos serviços, em vez de aumentar a capacidade de consumo”, explica o chefe do PNUD. Esse programa é o canal que a ONU utiliza para assessorar os países de baixa e média renda para que avancem no desenvolvimento econômico e social.


 


Um dos temores dos países centro-americanos e de todo o subcontinente é que o futuro esforço da ONU seja dirigido cada vez mais para as regiões mais necessitadas na África ou na Ásia. “É verdade que os países do continente africano recebem maior atenção do organismo. São os mais pobres. Mas nossa presença na América Latina é muito importante e há êxitos em alguns países, como o Chile, que podem ser repetidos em outras partes do mundo”, explica.


 


O PNUD espera que a situação econômica da América Latina se mantenha sólida, mas denuncia que “é uma das regiões onde a distribuição da riqueza derivada do crescimento econômico e da globalização é mais desigual”. Em alguns países, como o Brasil, estão se observando melhoras. Mas Dervis insiste que “a ONU têm de trabalhar mais com esses países para que a prosperidade também seja levada ao alcance dos pobres e evitar que a diferença continue crescendo”.


 


Neste ponto, a ONU está concluindo com a Espanha a criação de um fundo específico, destinado a melhorar a competitividade das economias latino-americanas.


 


Paralelamente, pede-se à União Européia que suas relações com a América Latina vão além dos acordos comerciais e tenham um enfoque multidimensional, incluindo acordos nos âmbitos acadêmico, de turismo e intercâmbio tecnológico. E também manda uma mensagem para os EUA: “Desde que se respeite o modelo de desenvolvimento existente em cada país latino-americano, a cooperação beneficiará as duas partes. Não há um modelo único válido para todos os países”.


 


Fonte: El País
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves / UOL Mídia Global