Kirchner descarta impunidade para Isabelita Perón

A ordem de captura emitida contra a ex-presidente argentina María Estela Martínez, a Isabelita, convulsionou a cena política do país, cujo governo prometeu nesta sexta-feira (12/1) que “não haverá pactos de impunidade” se tiveram existido casos de terrori

“Nós queremos reconciliação, mas com verdade e sem impunidade. Por isso, é preciso conhecer a verdade, seja ela qual for. E não pode haver impunidade para ninguém”, disse o presidente da Argentina, Néstor Kirchner.



O pedido de prisão de Isabelita foi feito nesta quinta-feira pelo juiz Raúl Héctor Acosta, da cidade de San Rafael, no oeste do país. O magistrado investiga o desaparecimento do jovem Héctor Aldo Fagetti em 25 de fevereiro de 1976, um mês antes do golpe militar que derrubou a ex-presidente, que mora em Madri desde 1981.



O juiz considera que aquele desaparecimento foi possível graças a três decretos emitidos em 1975, durante o governo da viúva de Perón.



Antiga polêmica
O peronista Kirchner, que disse ter sido preso duas vezes durante o governo de Isabelita, não opinou sobre a decisão de Acosta, mas afirmou que “se os juízes entendem que houve terrorismo de Estado desde antes do golpe militar de 1976, seus responsáveis também devem ser julgados”.



O caso reaviva a polêmica sobre a possível comissão de atos de terrorismo de Estado no governo constitucional anterior à sangrenta ditadura militar do período 1976-1983.



Segundo Acosta, não há razão para que “os direitos humanos de pessoas desaparecidas antes do golpe militar tenham um tratamento diferente dos daquelas que o foram depois do golpe”.



O desaparecimento de pessoas durante um Governo constitucional “não é menos terrorismo de Estado”, afirmou. O juiz lembrou a existência de mais de 600 denúncias de desaparecimento anteriores à queda de “Isabelita”.



Os decretos foram assinados pelo então titular do Senado, Ítalo Luder, em exercício da Presidência, enquanto Isabelita estava afastada devido a uma doença.



Apesar de a então presidente não ter firmado os decretos, Acosta disse que “ela é suspeita, e por isso acusada, de ter executado os termos dos decretos” e, como “comandante-em-chefe das Forças Armadas, a maior responsabilidade recai sobre ela”.



“Se alguém pensa que, com isto, pode parar os processos por violações dos direitos humanos na ditadura, está totalmente enganado”, alertou Kirchner.



Disputas
O debate agora é se o próprio Perón, líder do Partido Justicialista (PJ, peronista), aprovou a repressão ilegal durante seu terceiro mandato, que começou em 1973 e cujo comando sua esposa assumiu após a morte do general, em 1º de julho de 1974, permanecendo no poder até o golpe militar de 1976.



A antiga disputa entre setores de esquerda e de direita dentro do peronismo, cujas vertentes extremistas mais violentas foram os Montoneiros e o Triplo A, respectivamente, ainda perdura e promete agitar novamente o partido governante.



Da redação, com agências