No Quênia, Fórum Social Mundial reforça presença da África

Depois de ter aprofundado questões latino-americanas e asiáticas nas edições anteriores, o Fórum Social Mundial (FSM) se debruçará sobre aids, migrações e guerras na África. Martinho da Vila fará espetáculo no dia 20.


 


Por Verena

Desde 2001, janeiro é mês de Fórum Social Mundial. Milhares de pessoas de todo o mundo já se juntaram ao fluxo migratório altermundista, rumo a Porto Alegre (no Brasil), Mumbai (na Índia), Bamako (no Mali), Caracas (na Venezuela) e agora Nairobi (no Quênia), para construir o maior movimento de articulação e debates contra-hegemônico e antineoliberal da história.


 


O Fórum Social Mundial 2007 – que acontece entre os dias 20 e 25 deste mês – já conta com cerca de 1.200 atividades inscritas. De acordo com os organizadores, são esperados até 80 mil participantes – número difícil de ser confirmado, porque a grande maioria deve se inscrever in loco, e não antecipadamente, como tem ocorrido nas edições anteriores do FSM. Segundo o último levantamento, até agora estão credenciados cerca de 3 mil participantes não-africanos e 7 mil africanos, dos quais 60% são do Quênia.


 


O evento terá algumas novidades em relação às edições anteriores do FSM. Depois de uma larga consulta feita aos participantes do fórum em todo o mundo, a organização estabeleceu nove eixos temáticos – que serviram de referência para a inscrição de atividades (seminários, oficinas, conferências etc) por parte das entidades participantes (as chamadas atividades autogestionadas).


 


Agenda
A novidade é que o Comitê Organizador também propôs uma série de atividades em parceria com o Conselho Internacional do FSM. Serão espaços de convergência mais ampla para aprofundar os debates sobre temas específicos – Dívida, Memória das lutas, Paz e conflito, Comércio, Mulheres, Conhecimento e Informação, Meio Ambiente Global, Habitação, Soberania dos Povos, Migrações, Trabalho, HIV/Aids, e Privatização dos bens comuns.


 


Por fim, no quarto e último dia do evento, reforçando a perspectiva de definição de “objetivos de ações”, as organizações deverão apresentar e socializar propostas elaboradas no decurso do Fórum. Em resumo, o FSM terá a seguinte dinâmica: abertura com grande marcha no centro de Nairobi e espetáculo de Martinho da Vila no dia 20; atividades auto e co-gestionadas nos dias 21, 22 e 23.


 


No dia 24 pela manhã, ocorrerão assembléias de vários segmentos – em especial a tradicional Assembléia dos Movimentos Sociais – e serão sistematizados os debates dos dias anteriores. Pela tarde, serão organizados cinco grandes “fóruns de luta, alternativas e ações” para apresentar as propostas de ações referentes aos temas trabalhados, seguidos da marcha de encerramento.


 


Temas prementes
Depois de ter se aprofundado nas questões latino-americanas e asiáticas nas edições anteriores, o FSM deve expor as veias abertas da África no encontro deste ano. Em visita ao Brasil na última semana, o ativista Ntsie Bernard Mohloai – membro do Comitê Africano do FSM pela África do Sul – explicou que os temas aids, migrações e guerras no continente deverão ter destaque especial.


 


Atualmente, a região conhecida como “chifre da África” – formado por Eritréia, Somália, Etiópia e Quênia – vive um conflito agudo por conta de disputas pelo poder na Somália (com envolvimento da Etiópia e da Eritréia, e mais recentemente dos Estados Unidos, que bombardearam o país no início deste ano alegadamente para atingir núcleos da Al Qaeda).


 


A Somália não tem um governo central desde 1991, quando bandos armados derrubaram o ditador Mohammed Siad Barre e, em seguida, voltaram-se uns contra os outros. Os conflitos na região impedem inclusive o deslocamento de participantes do FSM por caravana por terra ou água pelo norte e oeste do Quênia, e toda a fronteira com a Somália está fechada.


 


Segundo Mohloai, este conflito e as últimas guerras em países como Serra Leoa, Ruanda, Angola, Libéria e República Democrática do Congo devem ser debatidas na perspectiva de apontar os atores originadores e fomentadores dos conflitos, ou seja, multinacionais que exploram as riquezas e recursos naturais e que utilizam divergências tribais como arma para defender seus interesses.