Obama avança para ser primeiro presidenciável negro dos EUA

O senador democrata Barak Obama – um dos mais populares de seu partido – deu nesta terça-feira (16/01) o primeiro passo para formalizar sua candidatura para as eleições presidenciais norte-americanas de 2008. Segundo sua página na internet, ele apresen

A disposição do senador para disputar a Casa Branca foi confirmada por seu porta-voz, Robert Gibbs. Estrela ascendente entre os democratas, Obama formou o comitê para trabalhar na campanha pela indicação de seu nome como candidato do Partido Democrata à sucessão do republicano George W. Bush. A candidatura já era comentada desde sua visita ao estado de Novo Hampshire, um dos primeiros a decidirem as eleições primárias.


 


''Não esperava me encontrar nesta posição há um ano'', disse o senador em uma mensagem de vídeo em seu site. ''Nossos líderes em Washington parecem incapazes de trabalharem juntos de forma prática, com bom senso. A política se tornou tão amarga e partidária, tão entulhada de dinheiro e influência, que não conseguimos lidar com os grandes problemas que exigem soluções''.


 


Na mesma mensagem, Obama esboça uma plataforma mudancista e conclama os americanos. ''Temos de mudar nossa política e nos unir em torno de nossos interesses e preocupações como norte-americanos'', afirmou. ''Fiquei surpreso de como todos nós estamos ávidos por uma forma diferente de política.'' Um evento oficial de lançamento de campanha deve ser feito em sua cidade natal, Chicago, no dia 10 de fevereiro.


 


Concorrência interna
Caso tenha sua candidatura oficialmente confirmada, Obama, de 45 anos, pode se tornar o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. Pelos republicanos, a candidatura mais forte é a do senador por Arizona John McCain – que foi derrotado por George W. Bush nas primárias de 2000.


 


A favor de Obama pesa sua carreira meteórica – ele chegou ao Senado por Illinois há apenas dois anos e se tornou uma celebridade. Já é quinto candidato democrata na corrida à Casa Branca, devendo enfrentar nomes importantes dentro de seu partido.


 


Entre os possíveis presidenciáveis democratas, está a senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton – que ainda não confirmou se vai concorrer à indicação, mas já arrecada dinheiro. Hillary lidera as pesquisas de opinião e prometeu anunciar sua decisão em breve.


 


Os outros democratas no páreo são o ex-candidato a vice-presidente John Edwards; o ex-governador do estado de Iowa, Tom Vilsack; o representante (deputado) Dennis Kucinich; e o senador pelo Connecticut Chris Dodd. Em 2004, Edwards e Kucinich foram pré-candidatos pelo Partido Democrata, mas perderam a indicação para Kerry, que acabou escolhendo Edwards para ser vice na sua chapa.


 


Perfil de Obama
Com suas habilidades retóricas e seu sorriso sedutor, Barack Obama é considerado um fenômeno ainda não visto na política americana desde John F. Kennedy, que chegou à Presidência dos Estados Unidos em 1960. O senador já foi capa da revista Time e atraiu multidões fazendo campanha para os democratas na última eleição parlamentar.


 


Apresentando-se como a voz de uma nova geração, é filho de um homem negro queniano e de uma mulher branca americana. Ele se identifica como afro-americano – e assim é visto pela maioria dos eleitores. De acordo com o especialista em política Larry Sabato, Obama corresponde ''à imagem que a América tem dela mesma: jovem carismática, otimista e multirracial''.


 


Nascido em Honolulu em 4 de agosto de 1961, Obama, filho de pais separados, cresceu em dois lugares diferentes. Quando a mãe casou novamente, ele foi com ela para a Indonésia, onde viveu durante muitos anos. O senador revelou à AFP que viver no Sudeste Asiático lhe permitiu enxergar as desigualdades extremas entre pobres e ricos no mundo.


 


''Conscientizei-me das enormes diferenças de oportunidades que existem em muitos países do mundo. Soube quão pobres algumas pessoas podem ser e percebi como a corrupção pode frustrar as oportunidades'', afirmou.


 


Do Direito para a política
Obama se formou em advocacia nas prestigiadas universidades de Columbia e Harvard, onde foi o primeiro negro americano a ocupar o cargo de presidente da influente publicação Harvard Law Review.


 


Ele iniciou a carreira política em Illinois (centro-oeste do Estados Unidos) como advogado especialista em direitos civis, candidatando-se ao Senado em 2004, onde defendeu a moralização da vida política e a luta contra a proliferação. Quando ganhou um lugar no legislativo, mostrou ser um político capaz de trabalhar com os membros dos dois partidos, mantendo firme seu perfil de liberal moderado.


 


Sobre o tema que domina toda a política americana, o Iraque, Obama tem a sorte de não ter tido de se pronunciar sobre a guerra, aprovada pelo Congresso em outubro de 2002, quando ele ainda trabalhava em Chicago. No entanto, ele qualificou nesta terça-feira o conflito de ''guerra trágica e cara que nunca deveria ter sido realizada''.


 


O senador ficou conhecido em todo o país em meados de 2004, com um discurso na convenção nacional democrata, em Boston, que arrancou aplausos da multidão: ''Não existem Estados Unidos negros e Estados Unidos brancos, Estados Unidos latinos e Estados Unidos asiáticos. Somos um único povo, todos jurando fidelidade à bandeira estrelada, todos defendendo os Estados Unidos da América''.


 


Obama é casado e pai de duas filhas. Publicou dois livros, Dreams of my Father (Sonhos do Meu Pai) e The Audacity of Hope (A Audácia da Esperança) – um best-seller lançado em outubro passado. Também recebeu um Grammy pela gravação da sua autobiografia. Ele cultiva uma imagem de independência, preferindo evocar um programa para a América, em vez de um programa democrata.


 


Cenários
A pré-candidatura presidencial de Obama anima os democratas que vêem em Hillary uma figura polêmica demais para ganhar uma eleição nacional. Mas ele é questionado por sua falta de experiência, e alguns consideram que os Estados Unidos não estão preparados para eleger um negro presidente.


 


O senador se opôs desde o principio à invasão norte-americana no Iraque. ''Nossa contínua dependência do petróleo colocou nossa segurança e nosso próprio planeta em risco. E ainda estamos atolados'', afirmou ele no vídeo de lançamento da campanha.


 


''Por mais desafiadores que sejam, não é a magnitude dos nossos problemas o que mais me preocupa – é a pequenez da nossa política'', declarou. A ascensão desse político se explica em parte por seu carisma, em parte por sua história pessoal. De obscuro parlamentar estadual por Illinois que derrotou o senador republicano que tentava a reeleição, Obama ainda pode fazer mais história.