ONU conta 34 mil mortos e 31 mil presos no Iraque em 2006

O relatório que a Missão de Assistência da ONU no Iraque publicou traça um panorama sombrio dos direitos humanos no país ocupado há quatro anos pelos EUA. O relatório denuncia a morte violenta de 34.452 civis em 2006; 470.094 cidadãos tiveram que abandona

Magazzeni observou que os números do relatório são muito superiores aos apresentados pelo governo iraquiano instalado após a ocupação (fontes do governo falaram em 12 mil mortos ''em atentados terroristas'' durante o ano). O funcionário da ONU dissetambém que, embora um levantamento similar não tenha sido feito nos anos anteriores, a situação se degradou grandemente desde a eclosão da guerra civil religiosa, um ano atrás.



O país, militarmente ocupado desde 20 de março de 2003, vive também uma guerra civil sectária desde o atentado  contra um mausoléu xiita em Samarra, em 22 de fevereiro de 2006. Desde então, só Bagdá abriga 38.766 fugitivos das operações de limpeza religiosa. O documento da ONU denuncia ''ataques em grande escala de civis, sequestros, assassinatos, distribuição de panfletos ameaçadores, destruição de propriedades e intimidação''.



''A tortura é rotina nas prisões''



A ONU afirma que os presos iraquianos ''não têm acesso a supervisão judicial'', a maior parte das prisões estão superlotadas e não dispõem dos serviços básicos. ''A tortura continua a ser uma rotina nos centros subordinados ao Ministério do Interior, onde, em geral, não se informa os detidos sobre os crimes de que são acusados'', denuncia.



A média de civis mortos violentamente durante o ano foi de 94 por dia. Em setembro-outurbo, a média diária subiu para 120 mortos. Em novembro e dezembro o número de vítimas fatais recuou ligeiramente, para 105 por dia. Dois terços dos assassinatos sectários foram em Bagdá.



Além disso, refere o documento, a polícia iraquiana ''opera sem ordens claras e sem um sistema de responsabilidade interna clara''. E nem chega a muitas localidades. ''Para compensar a ausência de lei e controle, tanto xiitas como sunitas tendem a buscar a protecção de milícias e outros grupos armados'', leais somente aos respectivos partidos, quando não fazem justiça com as suas próprias mãos, afirma a ONU.



O relatório é explícito quanto ao papel nocivo da ocupação estrangeira neste cenário. Afirma que as operações das forças multinacionais sob comando dos EUA ''continuam a dificultar'' o respeito pelos direitos humanos e causam ''graves sofrimentos'' à população, além de limitar ''o direito ao movimento e o acesso aos serviços básicos''.



Nem os barbeiros escapam



A polícia reestruturada sob a égide dos ocupantes é alvo da resistência armada e teve uma média de dez agentes mortos por dia entre 2003 e 2007. Além disso, a própria polícia e todos os corpos de segurança do Estado ''estão minados pela corrupção e pelas divisões sectárias cada vez maiores''. A polícia iraquiana ''é vista como cúmplice, ou pelo menos infiltrada pelas milícias (xiitas) ou pelos grupos rebeldes (sunitas), de acordo com a sua área de operações'', diz o documento da ONU.



Este cenário causou graves perturbações no funcionamento de universidades e escolas, com milhares de crianças a deixarem de assistir às aulas porque ficam em casa ou porque as suas famílias optaram pelo exílio.



Os profissionais mais afetados pela violência são os jornalistas: 12 mortos entre novembro e dezembro. Seguem-se juízes, professores, advogados, médicos e artistas, muitos dos quais estão abandonando o Iraque, adverte a ONU.



Até uma profissão aparentemente inofensiva como a dos barbeiros é perseguida pelos assassinos de certas milícias, por de cortarem as barbas dos homens, o que, segundo eles, contradiz os princípios do Islã.


 


Nas províncias curdas, mulheres mortas



Minorias como os cristãos – caldeus, assírios e outros – abandonam em massa o Iraque, depois de muitos séculos de coexistência tranqüila, devido perseguições, segundo o relatório internacional.



As mulheres, em geral, sofrem ''um desgaste dos seus direitos básicos e liberdades'', são obrigadas a usar o véu islâmico e, em alguns casos, mortas nos chamados ''crimes de honra'', particularmente nas províncias curdas.



Com agências