Martinho da Vila promete show especial para a Bienal da UNE

No Brasil, ele é um dos cantores e compositores negros mais conhecidos nas últimas décadas. Na África, ele é uma grande personalidade, referência política e cultural do movimento negro em países como Angola e Moçambique. Na 5ª Bienal da UNE, o carioca

O camarada Martinho da Vila se apresentará nos Arcos da Lapa ao lado de Beth Carvalho e o Cordão do Bola Preta neste domingo (28). O show começa às 20h e será gratuito.


Nesta entrevista, ele revela que preparou um show especial para a 5ª Bienal e reflete sobre a sua relação com o continente africano. “A África está aqui nas favelas, em todos os cantos, o Brasil é essencialmente um país africano”, diz. Confira trechos da conversa:




O que representa para um artista da sua geração se apresentar em um festival estudantil?


Houve um tempo em que havia uma distância entre os jovens e os artistas mais antigos. Hoje eu acho que já não há mais diferença de geração.


O seu mais recente show é um apanhado de quase todas as fases da sua carreira. É difícil adequar o que o público quer ouvir ao que o Martinho da Vila quer tocar?


Eu não costumo fazer muito o show em função do que o público quer ouvir, eu gosto de preparar um espetáculo e fazê-lo. Eu bolei um show especial para esse evento da 5ª Bienal, em que vou cantar um pouco algumas coisas e depois vou apresentar a banda do Instituto Cultural Martinho da Vila, uma banda jovem que é de Duas Barras, a cidade em que eu nasci no interior do Rio. Então é um show especial para esse dia.




A sua apresentação acontece no bairro da Lapa, um reduto histórico do Samba e da cultura negra. Você tem alguma lembrança especial dessa região?


A Lapa é uma região tradicional de fato no Rio de Janeiro, ali é um lugar bem popular e ao mesmo tempo é onde as coisas interessantes do Rio acontecem, onde se toca, se discute, etc. Acho que a Bienal escolheu muito bem o lugar, está muito de acordo com o evento.


A Bienal da UNE trata das relações mútuas de formação da África e do Brasil, e de como esses povos se relacionaram. Como e porque começou o seu interesse pelo continente africano?


Um dos primeiros lugares para onde eu saí quando comecei a viajar foi a África, em Angola. Isso foi nos anos 60, o país ainda era uma colônia e daí começou uma forte ligação . Aqui, não tínhamos informações nenhuma sobre o que se passava naquele país, então eu vim e comecei a falar sobre Angola e se estabeleceu um grande contato, uma sintonia. Eles me consideram angolano e eu também os considero brasileiros. Depois eu fiz uns eventos para aproximar os povos, criei um movimento chamado Kizombas, relacionado à África. O primeiro grupo cultural angolano que veio para cá fui eu quem trouxe, em 1982.


Você é nascido no interior do estado do Rio, mas seu coração está na Capital, em Vila Isabel. Onde e como você enxerga a África no Rio de Janeiro?


Não somente no Rio, mas acho que no Brasil inteiro, a Àfrica não é distante. A primeira vez que fui lá não senti nenhum tipo de estranheza. A África está aqui nas favelas, em todos os cantos, o Brasil é essencialmente um país africano.




Qual é o papel social do samba para as comunidades negras do Rio e de outras cidades?


O samba como música, propriamente dito, tem uma representatividade, é algo com que as pessoas se identificam, é uma questão de identidade. Quanto às escolas de samba, elas representam as comunidades. As escolas de samba hoje estão crescendo, em todos os aspectos, inclusive ganhando projeção financeira. Creio que no futuro todas elas podem ter uma participação comunitária cada vez maior.


Que impressões você trouxe na bagagem sobre o Fórum Social Mundial no Quênia, onde você se apresentou recentemente?


Não pude participar dos debates do Fórum, só do show de abertura. Fiquei muito impressionado com a estrutura do Fórum e com o Quênia. Eu via o Quênia como um país mais atrasado, mas achei tudo bem legal. O show foi interessante, o que eu mais achei fantástico foi ver as pessoas cantando e principalmente um grupo de mulheres muçulmanas, todas vestidas com seus trajes que estavam dançando e dançando até bastante. Foi bastante interessante.


Entrevista concedida ao Estudantenet.