Bienal da UNE: “Não sou lusófono”, diz o angolano Ondjaki

O sociólogo, cineasta e escritor angolano Ondjaki e a professora-doutora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carmem Lúcia Tindó se encontraram na terça-feira (31/01), na 5º Bienal de Arte, Ciência e Cultura da União Nacional dos Estudantes (U

Carmem Lúcia iniciou parabenizando a UNE pela escolha do tema da 5º Bienal, “Brasil-África: um Rio chamado Atlântico”. A professora traçou um breve panorama sobre a ambigüidade do termo “lusofonia”, discutindo o processo de “africanização” do português a partir da movimentação literária que surge em 1950. Segundo ela, é o período em que a “literatura desponta na sua maioridade”.


 


“Não há uma essência africana em si”, disse. “Os países africanos têm proximidade, mas tem suas peculiaridades e diferenciações.” Carmem Lúcia alertou para o fato de que não se deve cair num folclore africano que não existe.


 


Já Ondjaki, ao dizer “eu não sou lusófono”, questionou o tema proposto no debate. Declarou não ser a favor do termo e do conceito de lusofnia, argumentando que poucos dos que vivem nos oito países de língua portuguesa sabem o significado da palavra. “A questão não é o que é lusófono e o que a palavra engloba, mas quem a criou e porquê?”, questionou.


 


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O escritor buscou enfocar que palavras têm conteúdo político, social e semântico – e que a força das palavras não pode ser subestimada. Ondjaki, cujo nome significa “guerreiro, malandro, traquinas”, disse que ainda que é complexo definir fronteiras na linguagem.


 


Para o angolano, a circulação sul-sul da produção literária entre países de língua portuguesa depende em grande medida do papel dos governos. “Sou favorável à criação de antologias de poetas moçambicanos, angolanos, cabo-verdianos, etc. Mas a iniciativa privada não fará isso com suas editoras – é papel dos governos desses países trabalharem juntos nesse sentido.”


 


Ondjaki terminou dizendo que Brasil e Angola têm um passado em comum e uma língua em comum – e que gosta de pensar a língua portuguesa como um “espaço arejado que proporciona viagens”.