Gilberto Gil quer 1% do orçamento para a Cultura

Por Carla Santos


O ministro da Cultura, Gilberto Gil, admite que o orçamento de sua pasta está aquém do necessário, mas ressalta que o governo Lula tem valorizado o ministério. ''Saímos de 0,2% (do orçamento) em 2002 para 0,6% em 2006'

No Rio de Janeiro – onde participou da 5º Bienal de Arte, Ciência e Cultura da UNE -, Gil falou com exclusividade ao Vermelho. Além de elogiar o empenho dos estudantes no evento, abordou a questão das cotas e a experiência histórica do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE. Confira a entrevista.


 


A 4º Bienal da UNE defendeu 1,5% do orçamento para Cultura. Nesta 5º Bienal, uma das bandeiras é por 2%. Qual é a sua expectativa para o orçamento deste ano?
Nós tivemos algum acréscimo, ainda bem. É aquém do necessário, mas implica uma tendência de incremento gradual do orçamento do ministério. Temos a promessa pública, feita pelo presidente, de fazer com que o orçamento chegue a 1% o mais rápido possível.


 


Essa tem sido a marca colocada como meta por todos nós, como você disse. Uma campanha vasta, feita também pelos estudantes no ano passado. Estamos caminhando. Saímos de 0,2% em 2002 para 0,6% em 2006. Falta mais 0,4% para completarmos 1%.


 


É hora de apertar a luta sobre cotas?
Não sei se é a hora de apertar a luta. Acho que a intenção – a justificativa política por quem defende as cotas – está colocada. É importante que ela continue, mas acho que o momento agora é de elaboração técnica.


 


Um momento de discussão, aprimoramento do mecanismo, regulação e determinação de como as cotas vão ser reguladas. De estabelecimentos de prazos – a 'provisioriedade' do mecanismo. Como a superação desse mecanismo se dará? Acho que é mais numa discussão desse tipo que precisa continuar a luta.


 


Da parte do MinC, o que está sendo feito para tornar o Oceano Atlântico apenas um rio entre o Brasil e a África?
Muita coisa. Vai muito além da minha própria especulação. O que a gente está fazendo é preparar hoje o terreno para o futuro, intensificando as relações com a África, estimulando a análise, o estudo da história da África no Brasil – o apoio às iniciativas africanas que dizem respeito não só ao Brasil, mas a diversos países.


 


É o caso, por exemplo, do Festival das Artes Negras. É o caso de várias iniciativas da União Africana que são apoiadas pelo Brasil para o mundo africano. É como o professor Alberto da Silva Costa afirmou: se há uma história da África no Brasil que é nossa – e que está nas nossas mãos cuidar -, há também uma história da África em outras partes do mundo.


 


E é nossa obrigação, sendo a segunda maior nação africana no mundo, depois da Nigéria, acompanhar e estimular essa aproximação. Nós somos africanos em dois sentidos: afro-brasileiros e africanos. Temos as duas obrigações.


 


Que avanços se podem esperar do projeto Cultura Viva neste segundo mandato?
Nossa idéia é que ele avance em outras vertentes e em outras direções além dos pontos de cultura. É fazer também que os pontos de cultura ganhem mais escala do que nós conseguimos implantar nestes quatro anos. Nestes próximos quatro anos, que a gente alcance um número de 5 mil pontos e estenda a outros âmbitos – hoje ele está no âmbito das iniciativas comunitárias, coletivas.


 


Uma das idéias é estender o programa a micropontos, que poderiam ser indivíduos. Não só programas cuidados por associações, mas também indivíduos, estudiosos, agentes culturais que tenham uma dimensão cultural importante, que possam ser considerados micropontos de cultura.


 


Conversamos com Zózimo Bulbul (homenageado na Mostra Universitária de Cinema da 5º Bienal), e ele nos contou um pouco da experiência dele como ator e cineasta com você, Gil, no CPC da UNE. Como você vê a Bienal em relação aos CPC nos anos 60?
É um outro contexto popular de cultura. É uma descentralização do contexto popular, ao mesmo tempo em que há novas centralidades que vão sendo estabelecidas.


 


Acho que os acontecimentos, os eventos, as promoções, as iniciativas, seja no âmbito acadêmico, escolar, comunitário, seja de indivíduos, de estudiosos, de militantes que dedicam sua energia para pensar, refletir e trabalhar essa questão – tudo isso vai estabelecendo essas centralidades e descentralidades para a causa da cultura brasileira e da cultura popular, dividida em tantos seguimentos, tão plural, tão variada no Brasil.


 


O CPC deixou um exemplo importantíssimo, que está sendo referência, que se reproduz, que se reinstala, que se renova a cada nova tentativa de fazer isso hoje em dia.


 


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