Lula quer evitar que PT e câmbio afetem PAC
Presidente teme que desvalorização do dólar atrapalhe crescimento. E não quer que problemas internos do PT contaminem aliados.
Publicado 06/02/2007 17:31
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dois desafios para superar e evitar solavancos ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Evitar que as sucessivas quedas da cotação do dólar ameacem a expansão da atividade econômica e realizar uma reforma ministerial que pacifique os aliados.
Como dizem seus auxiliares e aliados, Lula transformou o PAC em “profissão de fé” e atribui ao programa o fracasso ou sucesso do governo. Por isso, ele mesmo comanda as rédeas do PAC. A reforma ministerial, adiada sucessivas vezes desde que reeleição em outubro, tornou-se um quebra cabeça no jogo político.
O presidente usará os dias de fevereiro e o começo de março para negociar com os partidos que o apóiam a participação no governo. Auxiliares garantem que a indicação dos novos integrantes da Esplanada não sai antes de março. Lula pretende abrir espaço para PMDB, ao PSB e dar uma pasta ao PDT, que ocupou até janeiro de 2004 as Comunicações, com o deputado Miro Teixeira (RJ).
A abertura de espaço para os partidos tem como objetivo cimentar a coalizão de governo formada por 11 partidos e impedir que as insatisfações dos aliados, como PSB, PDT e PCdoB, transfiram-se para o Congresso e atrapalhem a aprovação das sete medidas provisórias e cinco projetos de lei que compõem o PAC.
Mas a agenda não é dedicada somente para as negociações da reforma ministerial, mas também para difundir as medidas do PAC. Lula viajará para os estados para difundir as obras e mostrar que o programa que prevê R$ 503,9 bilhões de investimento até 2010 está saindo do papel.
Ressaca petista
E as negociações não giram somente em torno dos aliados, Lula terá de tratar dos problemas internos de seu partido. O PT está em guerra interna sobre a iniciativa de refundação partidária, o apoio à anistia do deputado cassado José Dirceu e mais espaço no governo. As propostas serão discutidas durante o evento de comemoração dos 27 anos do partido em Salvador durante o final de semana.
O PT ainda não oficializou as reivindicações por mais espaço no governo. Há uma parte da legenda que defende a retomada do controle da Saúde e das Cidades, que estão, respectivamente, com PMDB e PP.
Reunião do conselho político do partido nesta terça-feira (6) definiu que o encontro da Executiva, em 26 de fevereiro, vai definir as preferências pelas pastas e nomes a serem sugeridos ao presidente.
O presidente avalia que o PT deveria contentar-se com a eleição de Arlindo Chinaglia (SP) à presidência da Câmara para não aumentar as reivindicações. Ele teme também que o processo de “decantação” do partido cause “estragos” na base aliada que possa prejudicar o PAC.
A vertigem do dólar
No campo técnico, há uma preocupação com a freqüente queda da cotação do dólar frente ao real. Para setores do governo, o câmbio já atingiu o nível que pode prejudicar as exportações e, conseqüentemente, o crescimento da economia.
O Banco Central tem atuado sucessivas vezes para conter a queda da moeda norte-americana, mas não tem fracassado no intento. Na segunda-feira (6), o dólar fechou cotado a R$ 2,094, menor cotação desde 10 de maio de 2006, apesar da atuação da autoridade monetária no mercado cambial. Nesta terça-feira, a moeda continua em queda e chegou a atingir R$ 2,080 na mínima do dia.
Há um temor de que a desvalorização do dólar continue durante a semana. O BC tem autorização do presidente Lula para continuar atuando para conter a queda.
O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), avalia que é preciso atuar em outra frente. “Isso está afetando diretamente a indústria e não sei se só as compras do BC são suficientes. Ele comprou muitos dólares e até agora não surtiu efeito”, disse o petista que reúne-se com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para debater o assunto.
Fonte: G1