Manuela d´Ávila: Uma alternativa eleitoral

“Não se trata de uso de mercúrio, mas do projeto político”. Ouvi essa frase de um militante da esquerda e a achei ótima para começar este artigo sobre a eleição da Câmara dos Deputados e suas conseqüências.

A disputa entre os deputados Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia não foi fruto de vaidades ou problemas individuais. Resultou de diferentes opiniões sobre a Câmara, os rumos do país, o processo de coalização. O resultado, portanto, não supera automaticamente tais diferenças. Essas apenas serão transpostas pelo debate sobre o projeto político que não é jamais superficial como o uso de mercúrio.



Na Câmara, a maioria dos parlamentares compõe “a chamada base governista”. Entretanto, nessa base existem pelo menos três campos políticos distintos: o PT, partido do presidente Lula, que deve aprofundar suas divergências internas no processo de seu 3° Congresso; o PMDB, maior partido da casa, com suas já conhecidas divisões internas; e ainda o bloco de partidos que apoiaram a candidatura de Aldo Rabelo.



A formação desse bloco, com 70 deputados – filiados ao PCdoB, PSB, PDT, PAN, PMN e PHS – não se deu de maneira pragmática, ou seja, visando a ocupar os espaços da Mesa Diretora e das Comissões permanentes. Se deu, sobretudo, em cima de idéias comuns sobre os rumos do país. Historicamente, trabalhistas, socialistas e comunistas lutaram pela redemocratização, pelos direitos dos trabalhadores, das mulheres e da juventude. Pensamos, agora, em contribuir com nossas opiniões sobre os rumos do governo.



Todos os partidos desse bloco têm clareza do significado do governo Lula. Sabemos dos avanços já conquistados no Brasil e de seu compromisso com o desenvolvimento. Mas queremos disputar seus rumos, garantindo que o crescimento econômico anunciado no PAC, por exemplo, se torne realidade – incluindo os trabalhadores no processo de desenvolvimento nacional, garantindo seus direitos. Sabemos também que o bloco poderá se constituir em alternativa eleitoral para as próximas eleições.



Será uma rica experiência para o governo e um desafio para nossos partidos. O que todos queremos é dar a melhor contribuição para o avanço do Brasil.



Texto originalmente publicado no blog do Noblat