Morre o “maldito” Ozualdo Candeias, cineasta da Boca do Lixo

Ozualdo R. Candeias, tido como diretor “maldito” e pioneiro do “cinema marginal” no Brasil, morreu na tarde desta quinta-feira (08/2), aos 88 anos, de insuficiência respiratória, no Hospital Brigadeiro, em São Paulo.

Conforme o crítico Luiz Zanin postou em seu blog, “Candeias era, talvez, o nome mais representativo do Cinema da Boca do Lixo, que se fez na região onde hoje fica a atual Cracolândia, no Centro de São Paulo, em especial na rua do Triunfo”.


 


O primeiro longa-metragem do diretor, A Margem, de 1967, é considerado o marco-zero da corrente conhecida como Cinema Marginal, em torno da qual se uniram nomes como Rogério Sganzerla e Júlio Bressane.


 


Como José Mojica Marins, o Zé do Caixão – outro cineasta adotado por esses diretores, que se opunham ao Cinema Novo -, o ex-caminhoneiro Candeias era tido como um artista primitivo e genial, embora detestasse esse tipo de classificação.


 


Estréia bem-sucedida
A Margem mostrava a convivência penosa de personagens anônimos perambulando e viajando de barco nas regiões próximas ao Rio Pinheiros, em São Paulo, com bela fotografia em preto-e-branco, assinada em parte pelo próprio Candeias, que tinha formação autodidata em diversos setores da produção cinematográfica.


 


O filme conquistou prestígio com a crítica, numa intensidade que nunca se repetiu ao longo da carreira do cineasta. Nos últimos anos, porém, ele voltou a se tornar tema de retrospectivas, estudos e debates entre os críticos mais jovens.


 


Candeias fez outros nove longas – o mais recente foi O Vigilante, de 1992 -, dois médias-metragens, 11 curtas e quatro vídeos, de acordo com levantamento feito pelo curador e cineasta Eugenio Puppo, que elaborou um importante dossiê sobre Candeias.


 


Trabalhos para David Cardoso
O cineasta nasceu em Mato Grosso do Sul, mas não sabia em que cidade. Era de uma família de viajantes. Radicou-se em São Paulo quando começou a se interessar por cinema.


 


Acabou se tornando um profissional requisitado no pólo de produção da Boca do Lixo. Dirigiu três longas para o ator David Cardoso (entre eles A Herança, uma adaptação de Hamlet, de Shakespeare, e A Freira e a Tortura). Também trabalhou como câmera e diretor de fotografia para diretores como Carlos Reichembach.


 


“Candeias tinha o sentido da imagem”, sintetizou Luiz Zanin. “Era um intuitivo, pouco ou nada teórico e havia aprendido a dirigir exercendo as várias funções do cinema, produtor, cinegrafista, continuista, o que fosse.”


 


“Apesar disso”, acrescenta o crítico, Candeias “tinha uma sofisticação que lhe permitiu adaptar Hamlet (…) com temas e ambientação brasileiros e violeiros caipiras fazendo o papel de coro”.


 


Homenagem
A emissora a cabo Canal Brasil vai homenagear Candeias exibindo, na semana que vem, três longas-metragens do diretor. Na terça, à 0h30, vai ao ar Trilogia do Terror, de 1968.


 


Um dos episódios é de Candeias – os outros dois são de Luís Sérgio Person e José Mojica Marins. No mesmo horário da quarta passa Caçada Sangrenta, de 1984, drama erótico com David Cardoso e Marlene França.


 


Finalmente na quinta, sempre à 0h30, o filme será A Freira e a Tortura, adaptação de uma peça de Jorge Andrade, com David Cardoso e Vera Gimenez.