Aznar: Não havia armas de destruição em massa no Iraque

Em uma entrevista realizada na última quarta-feira (7/2) durante o lançamento do livro “El camino a la democracia en España” (O caminho para a democracia na Espanha), de Manuel Álvarez Tardío, e editado por sua editora, o ex-primeiro ministro espanhol Jos

“Tenho o problema de não ter sido tão inteligente para saber disso antes. Ninguém sabia”, confessou o ex-primeiro-ministro espanhol


“Durante meses ele se negou a ir ao Congresso para que não lhe perguntassem sobre o assunto. Chegou inclusive a dizer em Washington, pouco antes das eleições de 2004, que era uma “grave irresponsabilidade” polemizar sobre essa questão. Finalmente, quatro anos depois de afirmar enfaticamente sua existência pela primeira vez, e dois anos depois de os EUA reconhecerem que nunca houve armas de destruição em massa no Iraque, o ex-primeiro-ministro espanhol José María Aznar reconheceu, na noite da última quarta-feira (7/2): “Não havia armas. Agora eu também sei. Tenho o problema de não ter sido tão inteligente para saber disso antes”.


 


  
José María Aznar afirmou que 'agora também sabe' que o Iraque não tinha armas químicas


 


Dizem as pessoas que o cercam que Aznar é um homem “de combustão lenta”, que deixa as decisões amadurecerem. E, sobretudo, que é obstinado, que escuta pacientemente seu interlocutor para esclarecer no final, em tom seco: “Você não vai me fazer mudar de opinião”. Ele demorou quatro anos para admitir em público que se enganou quando disse na Antena 3, em 13 de fevereiro de 2003: “Você pode ter certeza e todas as pessoas que nos vêem podem ter certeza de que estou lhes dizendo a verdade. O regime iraquiano tem armas de destruição em massa, tem ligações com grupos terroristas e demonstrou ao longo de sua história que é uma ameaça para todos”.


 


Aznar deu uma entrevista, quarta-feira (7) em Pozuelo de Alarcón (Madri) sobre o livro “El camino a la democracia en España” [O caminho para a democracia na Espanha], de Manuel Álvarez Tardío, editado por Gota a Gota, a editora da FAES, fundação presidida pelo ex-líder do Partido Popular (PP). Ele estava ao lado de Pedro J. Ramírez, diretor de “El Mundo”. Aznar foi o último dos ex-primeiros-ministros da democracia a passar pelo teatro Mira, em um ciclo chamado Releituras com os ex-primeiros-ministros. O prefeito desse município residencial próximo a Madri, Jesús Sepúlveda, do PP e bom amigo de Aznar, aproveitou a circunstância de que todos os ex-primeiros-ministros vivem em Pozuelo para organizar um ciclo de conferências.


 


A tertúlia, acompanhada com entusiasmo por mais de 500 pessoas, começou com um longo discurso de Ramírez, eufórico porque o grupo RCS – que edita “El Mundo” – havia anunciado poucas horas antes a aquisição da 100 de Recoletos, editora de “Marca” e “Expansión”. Aznar demonstrou seu entusiasmo por essa notícia. “Parece-me muito bom. É uma operação magnífica. Desejo-lhes o melhor dos êxitos. Esta opinião não será compartilhada por outros, que pensarão Pedro J. agora não somente vai mandar em 'El Mundo' mas também na 'Expansión' e, sobretudo, na 'Marca'”, afirmou Aznar, muito aplaudido e visivelmente à vontade.


 


O ex-primeiro ministro aproveitou que o livro compara a Constituição de 1978 com a de 1931, a da Segunda República, para lançar seus habituais dardos contra o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e sua visão pessimista da realidade espanhola. “Os que diziam que a transição foi um processo sem memória ou submetido à pressão dos então chamados poderes de fato estavam colocados nos extremos do sistema. E enquanto estiveram nos extremos, mas só nos extremos, pudemos suportá-los. Nos extremos estavam os que, sem utilizar a violência, ou melhor, tendo-a deixado havia muito poucos anos, não querem que a Espanha continue sendo a Espanha. Esses entusiastas da trincheira perseguem quem fala espanhol; quem tem em sua loja os cartazes de venda em espanhol; o que tenta fazer que seus filhos aprendam, também, a se expressar em espanhol. Quevedo, Cervantes ou os reis católicos os assustam. Vão impedir que nas escolas se estude a literatura e a história da Espanha. Não impedirão nos lugares onde o PP governar, mas infelizmente, sim onde o PSOE governar. É o preço do extremismo. Essa aliança de extremistas tem um objetivo: expulsar do sistema o Partido Popular, demonizá-lo, negar sua legitimidade como alternativa democrática. Daí sua insistência em repetir todos os dias que o PP está só. Que solidão afortunada eu vivi, que, além disso, segundo Umbral sou um ser de distâncias, acompanhado pela grande maioria dos espanhóis!”


 


Até então tudo foi mais ou menos como a maioria das aparições de Aznar, ultimamente muito freqüentes, embora mais no estrangeiro do que na Espanha.


 


Mas chegou a hora das perguntas. Houve meia dúzia. E a penúltima foi a mais interessante. Uma jovem estudante contou ao presidente que estava fazendo uma tese sobre a guerra do Iraque e queria saber se ele sustentava sua idéia de que havia armas de destruição em massa no Iraque.


 


Fonte: UOL