Estudantes fazem centro cultural na sede retomada pela UNE

Após completar mais de uma semana de ocupação, os estudantes acampados no terreno da Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, aos poucos iniciam as instalações do Centro Cultural provisório no local. Organizados em comissões, os 150 jovens já possuem algumas

Dois contêineres, projetados para funcionar como escritórios, já estão instalados no terreno para atender às demandas da UNE e da Ubes. Provisoriamente, um posto de emissão da carteira estudantil será aberto no novo endereço.



Numa sala nos fundos do terreno, reformada e pintada, em breve a rádio comunitária passará a transmitir uma programação diária diretamente do acampamento. Os computadores darão vida a um telecentro, que ficará à disposição não apenas dos estudantes, mas também dos moradores.



Tenda cultural



Nesta semana, será erguida uma tenda com estrutura de palco, iluminação e sonorização para acomodar apresentações artísticas. O primeiro grupo a entrar cartaz na nova sede das entidades é o ''Tá na Rua''. Mas a proposta é transformar o terreno em um ponto de encontro da cultura universitária, sendo um espaço aberto para manifestações culturais de qualquer área.



Os 12 núcleos do Circuito Universitário de Cultura e Arte, o Cuca da UNE, espalhados pelo país, também vão transferir algumas de suas atividades para o Rio de Janeiro, apresentando o que de melhor vem sendo produzido nas universidades brasileiras.



Samba e cinema



A programação fixa já conta com uma ronda de samba todos os domingos. E ao longo a semana haverá a exibição do filme ''Jango'', de Silvio Tendler, e Barra 68, de Vladimir Carvalho. Ambos os diretores vão comparecer e após a sessão ficarão à disposição do público para um bate-papo.



Para o presidente da UNE, Gustavo Petta, a partir desta semana começará uma verdadeira ocupação cultural no local. Ele explica que vários artistas já entraram em contato com a UNE se colocando a disposição para pensar algum tipo de apresentação no terreno.



''Aos poucos estamos nos estruturando com objetivo de dar início à construção do Centro Cultural. Vamos colocar a tenda, trazer algumas atividades do Cuca, chamar artistas parceiros da UNE e realmente transformar este histórico terreno na nova sede das entidades, com muita cultura para o povo carioca'', diz empolgado.

Na entrada do terreno, o abaixo-assinado a favor da ocupação e pela retomada do terreno que pertence às entidades estudantis ganha cada vez mais apoio. A todo momento um morador da vizinhança ou transeunte que ficou sabendo do acampamento pelas matérias de jornais e TVs passa por ali e deixa a sua mensagem de solidariedade.



História do Terreno



O terreno da Praia do Flamengo foi ocupado pelos estudantes num grande ato público em 1942. Na área funcionava o Clube Germânia, tradicional reduto de simpatizantes nazistas na capital fluminense. Após a entrada definitiva do Brasil na Guerra, o terreno foi doado à UNE por Vargas e a sede da Praia do Flamengo se transformou oficialmente num patrimônio dos estudantes brasileiros. Na praia do Flamengo a UNE viveu um dos seus períodos mais gloriosos, criando o Centro Popular de Cultura (CPC). Mas o tempo fechou e a UNE, que estivera ao lado de Jango na campanha pelas reformas de base, foi a primeira vítima da violência do golpe militar de 64.



No dia 1º de abril, quando os tanques mal tinham saído às ruas, o prédio da UNE foi invadido, saqueado e queimado por militantes da direita escoltados por soldados do exército. Posta na ilegalidade, com seus militantes perseguidos e torturados, a UNE cairia clandestinidade, sendo reconstruída somente a partir de 1976. Desde então, a entidade luta pelo sonho de reocupar o terreno onde foi sua sede. Tudo pareceu mais próximo, quando o então presidente Itamar devolveu a escritura do terreno a entidade. Mesmo assim, sem alvará de funcionamento e à custa de liminares absolutamente questionáveis, o estacionamento vinha conseguindo adiar por anos a fio o dia em que terá que abandonar o terreno.



Fonte: http://www.une.org.br/