Martinho da Vila: Bienal da UNE, que sucesso!

Foi um sucesso a 5ª Bienal de Arte e Cultura da União Nacional dos Estudantes, realizada recentemente na Lapa, e muito oportuna a escolha do tema “Um Rio chamado Atlântico” para permear o evento, temática inspirada no livro do acadêmico Alberto da Costa e

Muitos dos atuais estudantes pertencem à classe dominante e outros irão pertencer. Alguns poderão, no futuro, ocupar postos de comando nas suas cidades, nos Estados e até no Poder Executivo da República. E para exercer tais funções, é importante entender o país e conhecê-lo bem. Para isso, é fundamental estudar a África.



As pessoas da minha geração cresceram alheias à cultura africana e não receberam nenhuma informação sobre a África nas salas de aula. Até hoje ainda há gente que pensa que na África não há cidades, prédios, estradas, casas com luz elétrica, televisão, telefone… Em parte do imaginário popular, a África é apenas uma imensa floresta repleta de animais perigosos.



Crescemos alheios à cultura africana e por isso acho que foi importante ter havido uma mesa de debates com o tema “A influência da cultura africana na cultura musical brasileira”, ocasião em que constatamos que sobre a música africana não sabemos quase nada. Eu conheço um pouquinho.



Para fazer o CD Lusofonia, fiz uma grande pesquisa sobre a musicalidade dos países lusófonos. O que mais me impressionou foi um tipo de música de São Tomé e Príncipe que é irmã gêmea dos Calangos do interior do Estado do Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais, como pode ser constatado na faixa Carambola Nova Moca, que está no disco. Lá em São Tomé também há uns sons semelhantes às catiras do interior de São Paulo e Paraná. Os ritmos da Guiné Bissau são os que estão mais próximas do samba. A maioria das músicas deles pode ser tocada como os sambas-de-roda da Bahia.



Cabo Verde tem uma grande variedade de ritmos e a música que eles fazem é semelhante aos nossos sons dos anos 50, onde imperava o samba-canção e as chamadas músicas “de fossa” ou “dor de cotovelo”. Eles fazem um som que é praticamente o nosso chorinho, com suas variações.



Em Moçambique, observei que veio de lá a nossa ginga no samba. Não me refiro ao acelerado e sem malemolência dos desfiles das escolas de samba de hoje, mas sim ao tempo da cadência, em que o molejo do corpo, o movimento dos braços e os passos eram elegantes. A forma dos moçambicanos dançarem a M'aquela lembra também o break americano, sem aquelas piruetas.



A maioria da música popular do mundo tem origem na África. Vem de lá e se mantém, até hoje, quase na forma primitiva, o nosso jongo, o caxambu, capoeira, afoxé e os toques de umbanda, que vêm de Angola. A palavra samba é uma corruptela de semba, um ritmo angolano que não tem nada a ver com o nosso samba. O semba é ancestral das salsas e de todos os ritmos das Antilhas e da América Central, bem como do nosso carimbó.



Recentemente fui a Nairóbi, no Quênia, cantar na abertura do Forum Social Mundial. Tinha gente vestida com os mais variados trajes assistindo ao show, mas o que mais me impressionou foi ver jovens com suas vestes negras e usando véus e burkas dançando alegremente. Do Forum Social Mundial, em Nairóbi, vim direto para fazer o show de abertura da Bienal da UNE, na Lapa. Terminou com uma emocionante passeata e culminou com a ocupação do Calabouço, terreno devolvido à UNE há 13 anos pela justiça e ocupado irregularmente por um estacionamento.



Viva a União Nacional dos Estudantes!



Fonte: Jornal do Brasil