Terreno da UNE é a luta pela democracia, diz Aldo Arantes

Por Artênius Daniel
Na memória de quem participou da passeata que culminou na retomada do terreno da sede da UNE, na Praia do Flamengo, uma das imagens mais marcantes foi ver diversos ex-presidentes da entidade marchando ao lado dos estudantes. Entre e

Considerado um dos presidentes mais importantes da UNE, Aldo Arantes esteve à frente da entidade entre 1961 e 1962. Em entrevista ao EstudanteNet, ele relembra momentos marcantes daquela época e diz que o prédio do número 132 não era chamado de sede. ''Nós chamávamos de 'Casa da Resistência Democrática'. Dali partiram inúmeras lutas, contra o Estado Novo, pelo petróleo e pela escola pública de qualidade'', revela.


 


Durante a gestão de Aldo Arantes, o movimento estudantil brasileiro viveu uma verdadeira época de ouro, com a criação do Centro Popular de Cultura e Arte (CPC) e do projeto ''UNE Volante'', uma caravana que percorreu todo o país mobilizando os jovens pela reforma universitária.


 


Aldo lembrou o tempo de militância naquele lugar. Entre as memórias do prédio da UNE, destacou a visita do presidente da República João Goulart e de todos os ministros – incluindo os militares- e a presença do primeiro astronauta da história, o russo Yuri Gagarin.


 


Leia baixo a entrevista.


 


Porque o senhor achou importante estar pessoalmente presente na recuperação do terreno da UNE?
Eu acho que foi uma demonstração da unidade do movimento democrático. Não só da UNE, mas da sociedade civil em solidariedade pela retomada a um patrimônio subtraído pela ditadura militar. Acho que aquele patrimônio tem uma simbologia muito grande. A construção de uma nova sede e de um centro cultural com base no projeto do Oscar Niemeyer vai ser um fato muito importante. Essa palavra de ordem do retorno pra casa é extremamente feliz, sei que o Rio de Janeiro vai receber cada vez mais de braços abertos, porque ali a UNE foi um marco da história política brasileira.


 



O que a sede representava no início dos anos 1960? Como era seu funcionamento?
Ali era o centro político nevrálgico do Brasil e do Rio de Janeiro. A sede da UNE era chamada na verdade de ''Casa da Resistência Democrática''. Daquele lugar partiram inúmeras lutas contra o Estado Novo, em defesa do petróleo e pela escola pública de qualidade. Funcionavam no prédio a UNE e a UBES, a União Metropolitana dos Estudantes, a Confederação Brasileira de Desporto Universitário e o CPC da UNE, que era um centro cultural de grande relevância.


 


Aconteceu ali a histórica visita do Presidente João Goulart e todos os ministros, incluindo os militares, que vieram agradecer a participação da UNE na campanha da legalidade. Outro fato marcante foi a visita do primeiro astronauta da história, o russo Yuri Gagarin. Talvez o que surgiu de mais importante naquele espaço foi a luta pela reforma universitária e o projeto ''UNE Volante''. O movimento estudantil havia conseguido sair da Praia do Flamengo e realmente encontrar a massa dos estudantes do Brasil.


 


Onde o senhor estava em 1964, quando soube que a sede da UNE tinha sido destruída e incendiada, como o senhor recebeu essa notícia?
A sede não foi destruída totalmente ali. Houve um incêndio que destruiu os arquivos da UNE e outras coisas. Mas é claro que aquilo representou uma ação da extrema direita que já tinha atacado outras vezes a sede. Quando eu era presidente da UNE, o prédio foi metralhado por esses grupos. Na época, nós fizemos um grande ato contra o governador da Guanabara naquela época, que era Carlos Lacerda.


 


Ele dava suporte a essas ações. Em 1964, o incêndio representou uma ação direta contra um marco do movimento social. Foi uma tentativa de liquidar o movimento estudantil, o que não aconteceu. Os estudantes continuaram lutando, mesmo na ilegalidade, a UNE continuou a frente das manifestações contra o regime. A UNE foi até posta na clandestinidade, mas mesmo assim seguiu.


 


Gostaríamos, por último, que o senhor mandasse uma mensagem para os mais de 300 estudantes que já estão há quase uma semana acampados no terreno do Flamengo?
Eu queria, como ex-presidente da UNE, mandar uma abraço e a solidariedade aos estudantes que estão lá e dizer para que agüentem firme. Esse é um patrimônio da democracia brasileira que foi resgatado e não pode voltar para as mãos de pessoas que fizeram daquilo um lugar para ganhar dinheiro. O terreno representa a luta política pela democracia, pela soberania nacional, pelo fortalecimento do movimento estudantil e, sobretudo, da gloriosa União Nacional dos Estudantes.