Manifestação antimonarquista ameaça eleições no Nepal

O governo do Nepal formou nesta terça-feira uma comissão para investigar um incidente ocorrido no templo de Pashupatinath, no dia 18 de fevereiro, quando uma multidão de manifestantes anti-monarquia lançou pedras contra o rei Gyanendra.

Pratak Kumar Pathak, secretário do Ministério de Governo, é o chefe da equipe de investigações, que também inclui um deputado, um inspetor-geral de polícia e um superintendente do Departamento de Investigação Nacional. A comissão deve encerrar a investigação em uma semana.



De acordo com a mídia da Índia, o incidente pode complicar a paz selada em 2006 entre o governo do país e a guerrilha maoísta.



A paz selada em 2006, quando o governo provisório de Katmandu e a guerrilha maoísta assinaram, no dia 21 de novembro, é um acordo político que colocou fim a dez anos de guerra civil. Analistas estimam que, caso se repitam manifestações desse tipo, as eleições previstas para junho de 2007 poderão não se realizar.



Depois da ampla cobertura da imprensa, e da pressão provável do palácio, o governo do Nepal manifestou seu descontantamento com o incidente. Apesar de enfatizar que todas as providências para segurança foram adotadas, o governo do Nepal admitiu que os incidentes causaram um impacto negativo no evento, que tem grande importância religiosa para a população.  



Embora o rei Gyanendra não tenha sido ferido, pelo menos um automóvel da comitiva real foi atingido. À frente do portão do templo de Pashupatinath, enquanto o rei fazia as suas orações, manifestantes gritavam slogans anti-monarquia e lançavam pedras sobre o templo.



Fim do Estado de Sítio



Em junho de 2006, o governo do Nepal e os rebeldes maoístas chegaram a um acordo para pôr fim a uma década de conflito. O conflito ocorreu a partir das tentativas de se instituir no país um estado comunista, no lugar da monarquia absoluta vigente.



O acordo foi assinado pelo chefe do Governo, Girija Prasad Koirala, e o líder maoísta, Pushpa Kamal Dahal, conhecido por presidente Prachanda. Com o acordo, alguns representantes maoístas passaram a participar do governo e do parlamento interino. A guerrilha se transformou em partido político. Estão marcadas eleições para junho de 2007, para uma Assembleia Constituinte que deverá pronunciar-se sobre o futuro da monarquia como forma de regime no Nepal.



O acordo colocou fim também ao estado de sítio decretado pelo rei, Gyanendra Bir Bikram, em fevereiro de 2005. Nesta data, alegando a difícil situação de guerra civil que se vivia no país desde 1996, Gyanendra deu um golpe de Estado, dissolvendo o parlamente e aprisionando membros do, com a promessa de liqüidar a guerrilha como condição prévia ''para reativar a democracia multipartidária no espaço de três anos''.



O acordo foi assinado um dia depois de serem conhecidas as conclusões de uma investigação sobre a atuação de Gyanendra entre fevereiro de 2005 e abril de 2006, em que se concluiu pela responsabilidade do rei na repressão que causou 19 mortos nos confrontos entre as forças de segurança e manifestantes da aliança dos sete partidos e dos maoístas. Após as manifestações, o rei teve de ceder, levantando o estado de sítio e vendo serem reduzidos os seus poderes a um nível cerimonial.



Gyanendra não é deus



Um jornal diário local divulgou uma pesquisa que revela que, em 57 dos 75 distritos do Nepal, só 40% de quase 9500 pessoas ainda acreditavam que o rei era Vishnu, uma divindade hinduista. A impopularidade crescente do rei Gyanendra levou a 97% dos leitores que responderam à pesquisa a considerar Birendra, o irmão mais velho do rei, assassinado em 2001, uma ''encarnação'' de deus.  



A votação revelou que o rei desfrutou maior apoio nas planícies de Terai, próxima à fronteira com a Índia, onde prevalecem ainda os habitantes de etnia hindu. Mas, num sinal decisivo de que o apoio índio ao rei Gyanendra está diminuindo, uma recente reunião pública em defesa de monarquia teve pequeno impacto.



Templo de Pashupatinath 



Pashupatinath é um templo hindu localizado às margens do rio de Bagmati, na parte oriental de Kathmandu, a capital de Nepal. É considerado o templo mais sagrado de Shiva (Pashupati) no mundo. Milhares de peregrinos do mundo inteiro, particularmente do Nepal e Índia, prestam homenagem todos os dias a este templo. ''Shivaratri'' — ou noite do deus Shiva — é um dia especialmente importante neste templo, quando centenas de milhares de pessoas se deslocam ao templo para a celebração anual. 



Habitantes locais têm o hábito de começar o dia visitando o templo. Ao longo das margens do rio de Bagmati, habitantes do Nepal fazem a cremação de mortos, especialmente ao redor do vale de Kathmandu. Também há um mercado grande nas ruas que cercam o templo. Vendedores vendem bugingangas a turistas, mas também tecidos, tinturas e materiais religiosos.



Crime no palácio



Nascido em Katmandu em 1947, Gyanendra Bir Bikram Shah Dev é o rei do Nepal desde 2001, quando assumiu devido à morte de seu irmão Birendra e do seu sobrinho Dipendra. Gyanendra é o décimo-primeiro rei da dinastia Shah Deva. Birendra Bir Bikram Shah Dev, filho do rei Mahendra, foi rei do Nepal de 1972 a 2001. Até hoje, é considerado o mais popular rei do Nepal.



Birenda recebeu uma educação de alto nível nas principais instituições de ensino internacionais, como Eton College e Harvard University. Ele também viajou bastante antes de virar rei.



Talvez por ter acumulado experiências diversificadas antes de assumir o trono, Birendra foi mais aberto a democracia parlamentar do que seu pai. Em 1990, estruturou um governo democrático. Disputas políticas entre várias facções, pórém, levaram o país a inúmeros problemas, como a guerra civil entre rebeldes maoistas e forças monarquistas, conflito esse que durou de 1996 até 2006.



Em primeiro de junho de 2001, o rei Birendra Bir Bikram Shah Dev e sua esposa, Aiswarya, foram assassinados durante um banquete real  O filho mais velho e herdeiro do trono, Dipendra, foi o atirador, mas também morreu em conseqüência de ferimentos. O irmão de Birenda, Gyanendra, foi então coroado rei.



País espremido



O Nepal é um país asiático dos Himalaias, limitado a norte pela China e a leste, sul e oeste pela Índia. A capital, Katmandu, é a maior cidade do Nepal, cerca de 670.000 mil habitantes. A cidade, localizada  no centro do país, a 1.370 metros de altitude, foi fundada no ano de 723 pelos newares.



A cidade antiga de Katmandu é caracterizada pela grande quantidade de templos e palácios budistas e Hindus, a maioria deles datados do século XVII. Muitos destes monumentos estão em risco, por causa da ação de terremotos e erosão. No vale de Katmandu, há sete locais classificados pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. A cidade converteu-se num local muito visitado pelos turistas desde os anos 1960, época em que foi muito divulgada pelo movimento hippie.
 


As principais cidades do Nepal são Lumbini, onde teria nascido Buda, e a cidade de Pokhara, situadas no Vale Katmandu. Ambas também têm importância para o turismo, sendo tombadas pela Unesco em razão do valor histórico de seus templos e monumentos. 



O Nepal é um país pobre, situado na encosta da cordilheira do Himalaia, centro da Ásia, entre a China e a Índia. O país tem uma das maiores densidades demográficas do continente, com 153 habitantes por quilômetro quadrado. A população nepalesa é composta de 12 etnias, que convivem em harmonia. A agricultura emprega 90% da mão-de-obra, tornando o país grande fornecedor de arroz para a região. Atualmente, conter a erosão do solo, no entanto, é um grande desafio para o governo.