Sem-terra são baleados no norte de Minas
Dois trabalhadores rurais são feridos em manifestação; fazendeiro, preso por porte ilegal de arma, nega disparos. MST afirma que a manifestação não queria ocupar a propriedade, mas somente acampar ao lado dela para pressionar o Incra a usá-la na reforma a
Publicado 27/02/2007 18:49
O crime aconteceu em uma fazenda em Janaúba (547 km norte de Belo Horizonte), no norte de Minas Gerais, e dois trabalhadores rurais forma feridos a bala, na madrugada de ontem.
A Polícia Militar prendeu um herdeiro da fazenda em que o MST estava por porte ilegal de arma. Um funcionário do fazendeiro também foi detido. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) negou que a intenção das cerca de 300 pessoas era ocupar a fazenda Angicos, conforme descreveu a Polícia Militar.
Segundo Cristiano Meirelles, coordenador do MST no norte mineiro, apesar de os sem-terra rumarem às 2h em direção à fazenda Angicos, a intenção era apenas acampar ao lado dela “a fim de pressionar o Incra” (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para destinar a propriedade para a reforma agrária.
Fazendeiro
O advogado Eraldo Mário Pereira, que acompanhou ontem na delegacia de Janaúba o seu cliente, o fazendeiro Ediraldo Souza Mendes, negou que ele tenha relação com o episódio que deixou dois trabalhadores sem terra feridos -um no ombro e outro na perna.
Segundo Pereira, seu cliente, “por infelicidade, estava no caminho da polícia” e foi descoberto, na madrugada, portando um revólver calibre 38 sem registro e com as cinco balas intactas no seu Cross Fox cinza, que estava com “problema de pneu”. Além da falta do registro, o fazendeiro não tinha porte de arma.
O cabo Elton Freitas, da 12ª Companhia Independente da Polícia Militar, disse que quando a polícia chegou ao local todos já haviam se dispersado, trabalhadores rurais e atiradores.
De acordo com relatos de testemunhas, teriam sido ouvidos cerca de 20 disparos, segundo o cabo. Mas o coordenador do MST disse que foram mais, inclusive tiros de “metralhadora”, disparados por “mais de dez jagunços”.
Após ouvir testemunhas, a Polícia Civil prendeu o fazendeiro por porte ilegal de arma, com o agravante da falta de registro. Considerou que ainda não há evidência de relação entre a apreensão da arma e os tiros contra os sem-terra. Por enquanto, a autoria dos disparos contra os sem-terra segue desconhecida.
Ocupações
A quase 100 km dali, em Januária (MG), cerca de cem pessoas, segundo o coordenador do MST, voltaram a ocupar a fazenda Cruz. Há 30 dias, os sem-terra deixaram a fazenda por determinação da Justiça.
Voltaram a ocupá-la para que o Incra faça vistoria na área. Segundo a PM, o proprietário da fazenda já havia entrado ontem com o pedido de manutenção de posse na Justiça. Na última sexta, o MST ocupaou em Felisburgo, no Vale do Jequitinhonha, a fazenda que foi palco da chacina de cinco sem-terra em novembro de 2004. Cobrou ação do Incra e do governo mineiro na desapropriação da fazenda e punição para o fazendeiro Adriano Chafik Luedy, que aguarda julgamento em liberdade.