Com “rebeldes” no poder, Hollywood se torna conservadora

A Nova Hollywood virou a velha guarda. Uma das imagens inesquecíveis da cerimônia de entrega dos Oscar, no domingo (25/02), foi a de Francis Ford Coppola, George Lucas e Steven Spielberg parabenizando Martin Scorsese quando anunciaram sua primeira vitó

“Estou maravilhado com esta honra concedida pela Academia”, disse Scorsese, “e também pela honra de ser apresentado por meus velhos amigos. Nossa amizade vem de 37 anos atrás”.


 


Trinta e sete anos atrás, o velho sistema dos estúdios estava se desfazendo, contestado por uma nova geração de atores e diretores. Para a velha guarda da época, essa nova geração era vista como a dos bárbaros que se aglomeravam diante dos portões do forte.


 


Naquela época, os prêmios da Academia freqüentemente se envolviam na política tumultuada daquele tempo. Na cerimônia do Oscar de 1970, as duas gerações se enfrentaram, e o resultado foi uma espécie de empate. Perdidos na Noite (Midnight Cowboy) levou o Oscar de melhor filme, mas John Wayne, indicado por Bravura Indômita, prevaleceu sobre Dustin Hoffman e Jon Voight, de Cowboys, na disputa por melhor ator.


 


Vietnã
A acrimônia atingiu seu auge em 1975, quando O Poderoso Chefão Parte 2, de Coppola, ganhou o Oscar de melhor filme. Na cerimônia daquele ano, o produtor Bert Schneider, ao receber o prêmio de melhor documentário por Corações e Mentes (Hearts and Minds), leu uma carta do governo norte-vietnamita.


 


Ultrajados, Bob Hope e Frank Sinatra rapidamente improvisaram um discurso de repúdio, e Sinatra anunciou: “Não somos responsáveis por quaisquer comentários políticos feitos neste programa e lamentamos que eles tenham sido feitos nesta noite”.


 


Um ano mais tarde, a chamada Nova Hollywood consolidou sua vitória na guerra cultural da época, quando John Wayne, em sua última aparição em entregas do Oscar, entregou a estatueta de melhor filme a Michael Cimino por O Franco-Atirador, que dividiu vários dos prêmios principais com outro filme que fazia críticas à aventura norte-americana na Guerra do Vietnã, Amargo Regresso.


 


Os Estados Unidos estão em guerra outra vez, mas a cerimônia do Oscar deste ano foi em grande medida apolítica, excetuando os repetidos chamados pelo combate ao aquecimento global. A Nova Hollywood pode ter se convertido no Novo Establishment, mas, em seu novo papel, ela está bem mais moderada que a geração que suplantou.


 


Controle
É claro que artistas-magnatas como Spielberg e Lucas não têm muitas razões para se sentirem ameaçados. Diferentemente dos antigos diretores de estúdios, eles exercem firme controle sobre seus próprios destinos.


 


Além disso, são muito mais receptivos em relação a novos talentos cinematográficos. O Oscar deste ano marcou a ascensão dos cineastas mexicanos Alejandro González Iñarritu, Guillermo del Toro e Alfonso Cuarón, que já receberam as boas-vindas de Hollywood.


 


E o conflito de gerações foi esquecido: quando Milena Canonero recebeu seu Oscar de melhor direção de figurino por Maria Antonieta, ela agradeceu a Coppola, “em primeiro lugar, por me apresentar a Sofia (sua filha) quando estávamos fazendo Cotton Club“.


 


É possível que ainda exista uma nova geração de bárbaros diante dos portões, mas seus integrantes não estavam ameaçando invadir o Kodak Theater no domingo. Em lugar disso, estavam postando seus vídeos caseiros no YouTube. A nova geração internet pode ainda se revelar tão ameaçadora a Hollywood quanto foram os rebeldes dos anos 1970. Mas sua ameaça potencial não prejudicou as comemorações no domingo, quando os ex-jovens rebeldes curtiram seu momento no centro das atenções.