Democrata critica falta de apoio de Bush para América Latina

O deputado democrata Gregory Meeks revelou que George W. Bush está usando “muita retórica” para falar de sua viagem ao Brasil, que acontecerá no próximo dia 8 de março, e aos outros países da América Latina. Para o político, o presidente norte-americano i

O comentário foi feito durante uma audiência realizada na última quinta-feira, no Congresso norte-americano sobre a política dos Estados Unidos para a América Latina.



Vários deputados manifestaram preocupação com os cortes de investimentos e ajuda à região, dizendo que o governo de Bush não tem demonstrado empenho em fortalecer os laços com a América Latina e insistido no discurso crítico ao papel supostamente “desestabilizador” de líderes esquerdistas na região.



Meeks disse que “as pessoas não falam muito sobre o porquê de a América Latina estar dando uma guinada para a esquerda”, e acrescentou: “Eu não concordo com a retórica de Hugo Chávez (o presidente da Venezuela), mas ele tem um objetivo social e para os pobres da região, o que importa é quem irá ajudá-los a sobreviver.”


Connie Mack, republicana de Fort Myers, lastimou que os EUA estivessem com “problemas” na América Latina. “O motivo de termos problemas na região é porque não conservamos o foco, tiramos nossa atenção de lá para outros lugares”, filosofou Connie, refletindo o ponto de vista que prevalece no subcomitê do Hemisfério Ocidental do Congresso.


“Nós precisamos ser mais agressivos”, ensina ela, sem dizer no entanto o que significa ser mais agressivo.


Enquanto os republicanos reclamaram por mais diálogo comercial e querem um sistema que meça as “reformas democráticas” na América Latina, os democratas alertaram para as disparidades econômicas da região, defendendo mais ajuda financeira dos EUA para aliviar a pobreza.


Alguns membros disseram que os EUA, enquanto se preocupavam com o Iraque e o Afeganistão, deixaram de ocupar um espaço essencial na América Latina, “que foi preenchido pelo presidente da Venezuela Hugo Chávez”, que, segundo eles, usa o dinheiro do petróleo e “programas populistas” para minar ainda mais o apoio aos EUA e desafia os interesses americanos na área.



O presidente do subcomitê de Hemisfério Ocidental, o deputado Eliot Engel, que comandou a audiência, fez coro às críticas de seu colega, através de um carta enviada ao presidente norte-americano.



O documento, do qual Engel é um co-signatário juntamente com o republicano Dan Burton, expressa preocupação com o fato de que investimentos na região sofreram uma redução de US$ 70 milhões (cerca de R$ 147 milhões) no orçamento previsto para 2008.



A carta menciona ainda “grande preocupação” com o corte de US$ 36 milhões (cerca de R$ 76 milhões) em programas de saúde na região e a eliminação quase que total do financiamento de programas militares dos países latino-americanos, à exceção de Colômbia e El Salvador.



Patronos de ditaduras



Durante uma de suas intervenções na audiência, Gregory Meeks explicou que “alguns políticos se queixam de que a região está cheia de regimes esquerdistas, mas que ironicamente foram os mesmos que se alinharam a regimes repressivos latino-americanos no passado.”



Segundo Meeks, o argumento dado na década de 1970 pelo presidente republicano Richard Nixon ao então funcionário da Casa Branca Donald Rumsfeld para apoiar regimes militares na América Latina foi o de que “ninguém dá a mínima para a América Latina.”



O democrata Donald Payne disse que “a América Latina está se afundando no ressentimento” contra os Estados Unidos. Para ele, é importante levar isso em conta para entender “por que eles estão dando apoio a líderes populistas.”



Segundo Payne, esse ressentimento se deve, em boa parte, a ações tomadas na América Latina pelos Estados Unidos, como o reconhecimento do golpe contra Hugo Chávez, em 2002.



“Nosso Departamento de Estado reconheceu o governo que assumiu após o golpe, mas ele acabou não se firmando e isso foi constrangedor e exacerbou uma situação que já era ruim”, contou Payne.



A deputada Gabrielle Giffords, também do Partido Democrata, afirmou que a suposta negligência em relação a região não pode ser atribuída somente ao governo Bush. “Este congresso e esta administração realmente ignoraram a América Latina.”



Donald Payne explicou que, agora, sob Thomas Shannon, o subsecretário para o Hemisfério Ocidental do governo norte-americano, o país está mais bem servido, porque “no passado, não é que tivéssemos apenas uma política ruim para a América Latina, nós não tínhamos política alguma.”