Tratado com Coréia do Norte é uma derrota dos EUA

As conversações multilaterais entre os seis países (As duas coréias, China, Rússia, EUA e Japão) destinadas a resolver o problema nuclear na Península Coreana e estancadas há um ano e meio, finalmente chegaram a um final promissor, em 13 de feve

Os defensores da paz dizem que esse acordo mostra que a política da administração Bush de confrontar ao invés de usar de diplomacia foi um completo fracasso, produzindo exatamente o oposto do que buscava.


 


Enquando a administração dizia que trabalhava para chegar a uma Península Coreana livre de armas nucleares, na verdade suas atitudes agressivas empurravam a República Popular Democrática da Coréia para o desenvolvimento de armas nucleares, quando Pyongyang planejava originalmente construir apenas usinas de energia atômica.


 


Com esse argumento, a Missão Permanente da RPDC nas Nações Unidas fez uma declaração afirmando que ''A administração Bush, desde o início de seu mandato, configurou a RPDC como um Estado sem lei, pertencente ao ''Eixo do Mal'', defendendo abertamente um ataque ''preventivo'' contra o país. Parecia inevitável uma nova guerra''.


 


Confirmando esse ponto de vista, o ex-embaixador dos EUA nas Nações Unidas, John Bolton, que atacou ferozmente o acordo, declarou à CNN que o tratado ''contradiz premissas fundamentais da política que o presidente tem seguido nos últimos seis anos''.


 


John Feffer, editor da revista Foreign Policy in Focus, afirmou que os EUA se comprometeram em três pontos principais:


 



  • Bush originalmente se negou a negociar, mas agora os EUA de fato fizeram uma negociação. Antes a administração sofismava em dizer que tinha ''conversações'' com a RPDC, mas não ''negociações''.
  • Os EUA rejeitaram desde o início uma conversação bilateral com a RPDC. Desta vez, sentaram à mesa em Berlim, uma semana antes, e rabiscaram algumas linhas que compuseram o acordo assinado em Pequim.
  • Bush era ferozmente contra fazer quaisquer concessões à RPDC antes de ''completar e verificar'' o desarmamento. ''Ele teve de voltar atrás nisso também'', disse Feffer.

 


O editor também afirma que a mudança de planos em relação à RPDC é um reflexo de derrotas ainda maiores dos falcões neoconservadores da atual administração. ''Os neocons estão perdidos na política externa'', diz ele. ''A situação no Iraque e no Afeganistão desceu ladeira abaixo e a credibilidade dos neocons dentro da atual administração e entre o público americano caiu enormemente''.


 


De acordo com a declaração resultante da negociação, a RPDC se compromete a desligar e selar suas instalações nucleares, diante de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Em troca , receberá 50 mil toneladas de petróleo. Em seguida repassará todas as informações sobre seu projeto nuclear para a AIEA, para depois receber mais 950 mil toneladas de petróleo, em um valor de aproximadamente US$ 400 milhões.


 


Além disso, os EUA concordaram em trabalhar com a RPDC para normalizar as relações entre os dois países, inclusive levantando as sanções financeiras impostas por Bush em 2005 e também retirando o país da lista de nações patrocinadoras do terrorismo. As sanções inibiram um processo de reforma de mercado que a RPDC iniciou a alguns anos, a fim de melhorar o padrão de vida de seu povo. A designação de ''terrorista'' assustou potenciais investidores.


 


De acordo com Feffer, o acordo era exatamente o que a Coréia do Norte desejava. ''Se você der uma espiada no que está escrito, o grupo de trabalho defendeu basicamente o que a a Coréia do Norte defendia: a normalização dos laços entre EUA e RPDC, entre o Japão e a RPDC, a paz e um mecanismo de segurança para a Ásia Oriental.


 


Analistas especularam que, devido ao bloqueio financeiro, o feriado de 16 de fevereiro, que comemora o nascimento do líder coreano Kim Jong Il, seria cancelado. Entretanto, as agências de notícias mostraram a capital em festa naquela data, apenas três dias depois que o acordo foi anunciado.


 


China e Coréia do Sul também sairam lucrando com o acordo, segundo Feffer. ''Certamente a China pode afirmar que isso foi uma vitória da sua diplomacia'', comentou. ''Washington estava reclamando que a China não estava 'apertando' o suficiente a Coréia do Norte. Isso é uma grande vitória para a diplomacia chinesa''. O acordo é também fruto da atitude moderada que a Coréia do Sul mostrou'', considerou.


 


As seis partes também concordaram em eventualmente discutir um tratado de paz que termine oficialmente a Guerra da Coréia, militarmente encerrada há meio século. Após isso, a RPDC iniciará o desmantelamento de seus programas nucleares. ''Se isso render frutos e o tratado de paz funcionar'', afirma Feffer, ''então um dos mais disputados capítulos da Guerra Fria finalmente será encerrado''.