PC venezuelano decide adiar sua adesão a novo partido socialista

O Partido Comunista da Venezuela (PCV) decidiu não aderir, por enquanto, à fusão, num só partido, de dezenas de organizações políticas aliadas do presidente venezuelano Hugo Chávez. O novo partido proposto por Chávez irá se chamar Partido Socialis

Por Cláudio Gonzalez,
com agências


 


''O Partido Comunista continua a existir'', assegurou o presidente do Partido Comunista da Venezuela (PCV), Jerónimo Carrera, aos cerca de mil militantes comunistas que participaram da plenária final do 13º Congresso Nacional Extraordinário do PCV, realizado nos dias 3 e 4 de março na localidade de Tacarigua de la Laguna na província de Miranda.


 


A resolução política do Congresso do PCV (clique aqui para ler a íntegra, em espanhol) caracteriza a revolução bolivariana como ''de libertação nacional, antiimperialista, democrática e popular; uma revolução que avança no caminho da construção do socialismo.''


 


A resolução também defende a participação dos comunistas venezuelanos na aliança de forças sociais e políticas identificadas com a luta antiimperialista encabeçada pelo governo do presidente Hugo Chávez, mas pondera que, para avançar na luta pelo objetivo estratégico da construção da sociedade socialista é necessária ''a existência de um Partido Revolucionário, nutrido da ideologia Marxista-Leninista e do pensamento Bolivariano, para seguir assumindo com todas as forças o papel dirigente revolucionário na luta de classes que faz avançar a história''.


 


Mas, embora prefira manter-se independente do novo partido, os comunistas do PCV – que contam em suas fileiras com dirigentes sindicais, ativistas estudantis e agricultores cooperativos – não fecharam completamente as portas para a proposta de adesão a uma organização unitária das forças revolucionárias. A resolução aprovada no 13º Congresso salienta que os comunistas venezuelanos estão dispostos a participar no debate ideológico acerca da orientação do futuro partido socialista proposto por Hugo Chávez.


 


''Aceitamos o convite do Presidente Chávez para participar no esforço comum de criação de um novo partido'', disse Carrera. ''Decidimos, por agora, esperar algum tempo antes de tomarmos a decisão definitiva sobre a nossa integração ou não.''


 


A bandeira vermelha com a foice e o martelo estava desfraldada à entrada do auditório e os delegados terminaram o encontro de dois dias a entoar o hino nacional.


 


Segundo o documento, os comunistas estão comprometidos com a “construção de um partido revolucionário que agrupe os quadros que expressem as posições mais conseqüentes das classes e camadas sociais historicamente comprometidas com a revolução e o socialismo, que se constitua na vanguarda ideológica, política y orgânica que dirija organizada, coletiva e de forma coesa o esforço criador das massas, para destruir o Estado capitalista e assuma as tarefas de construção do Poder Popular”.


 


Durante o Congresso, os militantes comunistas deixaram claro seu apoio ao atual governo venezuelano, muitos deles trajavam camisetas com slogans pró-Chávez, mas o seu apego às tradições e ideologia do partido torna difícil fazê-los aceitar a dissolução.


 


''O Partido Comunista não se dissolve, isso é uma certeza'', garantia, à entrada, Nestor Ramos, de 25 anos, depois de ter viajado 14 horas de carro para chegar ao local da reunião.


 


O Partido Comunista da Venezuela foi fundado em 1931, e completou 76 anos no ´pultimo dia 5 de março.


 


Durante os primeiros tempos de existência, os comunistas sofreram perseguições de ditadores de direita como Juan Vicente Gómez e o general Marcos Perez Jimenez, pelo que soaria a estranho a muitos que fosse o socialista Chávez a pôr fim ao partido.


 


''Seria verdadeiramente irônico, mas as circunstâncias mudam'', comentou Jeronimo Carrera, de 84 anos, que foi três vezes preso por lutar na clandestinidade contra Perez Jimenez, deposto em 1958.


 


''Fomos sempre um partido da classe trabalhadora e se nos juntássemos ao partido único, perderíamos essa condição, porque seria um partido a representar todas as classes'', explicou Carrera, numa entrevista na semana passada.


 


Carrera admitiu que membros do Partido Comunista, que o desejem, adiram a título individual ao novo partido.


 


Embora o Partido Comunista seja relativamente pequeno, a sua popularidade cresceu depois da primeira eleição de Chávez, em 1998.


 


Centenas de militantes comunistas têm sido eleitos para as autarquias, há cerca de uma dúzia de deputados do Partido Comunista no parlamento e David Velásquez, de 28 anos, foi o primeiro comunista no Governo, ao assumir a pasta da Participação Popular e Desenvolvimento Social.


 


Podemos e PPT rejeitam fusão


 


Outro partido muito influente no governo Chávez, o partido Podemos —segunda maior força política do país – decidiu não aderir ao novo Partido Socialista Unido da Venezuela. Mas ao contrário do PCV, o Podemos rejeitou categoricamente a fusão.


 


''Não vamos participar, nunca participaremos em ideologias únicas, porque a Venezuela é uma sociedade diversificada e plural'', disse Ismael Garcia, presidente do partido, a uma assembléia de militantes do Podemos.


 



o PPT, outra força política que integra a aliança governamental e que obteve 5,16% dos votos na última eleiçãos legislativa, também decidiu ''por enquanto'', continuar apoiando a revolução mas conservando sua identidade.


 


Já o maior partido da coalizão, o Movimento V República (MVR), do  presidente Chávez já se dissolveu para poder se unir ao novo partido socialista.


 


Ontem, durante seu programa de rádio, Chávez afirmou que se os dois grupos (PPT e Podemos) não querem se unir ao projeto podem seguir sua trajetória independente. Mas opinou que a decisão vai contra o interesse de suas bases e atende a ambições pessoais de seus dirigentes.


 


''Aqueles que não assumirem o esforço unitário têm todo o direito de manter seus espaços, suas siglas, seus símbolos. Nossas portas ficarão abertas'', comentou Chávez.


 


Segundo o presidente, haverá uma série de etapas para preparar o ''nascimento'' do PSU. No dia 24 de março será realizada a primeira assembléia de ''propulsores'' do novo partido. Em 29 de julho será a eleição dos porta-vozes para o congresso de fundação.


 


O congresso foi marcado para 15 de agosto. Em meados de novembro será fundado o partido, com a escolha do nome, do programa e da estratégia a seguir. Em dezembro, o resultado será submetido à consulta dos filiados e as bases elegerão a diretoria.


 


''É muito importante o apoio dos partidos, mas o principal é o apoio do povo'', disse Chávez, insistindo que os grupos minoritários que apóiam a revolução entrem para o novo partido socialista.


 


Chávez disse que o novo partido pretende também trabalhar com outros partidos socialistas latino-americanos para que dar respostas às necessidades dos povos da região.