Manuela D'ávila contra a pobreza de gênero
Deputada mais votada do Rio Grande do Sul, e que chegou a ser rotulada de “musa do Congresso” pela mídia, Manuela D'ávila, defende, em entrevista exclusiva ao O Povo, que é preciso combater a visão machista da mulher na sociedade e dar condições de melhor
Publicado 08/03/2007 15:59 | Editado 04/03/2020 16:37
Deputada federal mais votada no Rio Grande do Sul, Manuela D'ávila (PCdoB), de apenas 25 anos, defendeu uma discussão mais sensata sobre os direitos da mulher em entrevista cedida ontem ao O POVO em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. A parlamentar criticou a visão preconceituosa sobre a participação da mulher no mercado de trabalho e na política e defendeu uma política que priorize a saúde feminina e dê condições de melhoria financeira das mulheres, em especial às chefes de família.
Antes de chegar a Brasília, Manuela foi vereadora em Porto Alegre, aos 23 anos; e sempre militou em defesa dos estudantes, tendo passado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) até se filiar ao Partido Comunista do Brasil. Por acreditar que poderia mudar a sociedade fiscalizando a ação dos governantes e delatando as irregularidades, decidiu de formar em Jornalismo. Ainda passou pelo curso de Ciências Sociais, mas não chegou a concluir. Foi quando o desejo por uma mudança social inclusiva e igualitária inspirou nela a necessidade de uma participação mais efetiva nas discussões sobre o destino do País. Discussões que não dispensaram a atenção à mulher.
“Apesar do meu mandato não se centrar na temática da mulher, por ser focado mais na juventude e na educação, não há como não pensar nas mulheres. No meu mandato, pensamos medidas que visam a saúde da mulher e uma mudança cultural”, afirma. Um passo nessa direção, segundo Manuela, seria a implementação de uma política de controle da venda de remédios e produtos para emagrecer e a criação de uma lei que impedisse a veiculação da imagens sensuais de mulheres nos meios de comunicação.
Sobre a provável receptividade da iniciativa no meio social, Manuela acredita que a reação empresarial, dos setores da mídia, e mesmo de algumas personagens panfletadas na propaganda nacional e local, são uma “reação menor”. “É verdade que não tem como alterar uma cultura machista por decreto, mas se pode, ao menos, garantir, a médio ou longo prazo, uma inversão da cultura por meio da discussão e implementação de dispositivos legais de preservação da integridade feminina. O preconceito existe, mas o nosso trabalho tem que sobressair disso. E esse trabalho acho que a gente constrói na marra”.
A deputada, que admite sofrer preconceito tanto por ser mulher como por ser jovem, ressalta que a visão da mulher-objeto acaba impregnando a cobertura da Imprensa sobre a participação da mulher na sociedade. Manuela, que já recebeu o título de “musa do Congresso”, nega potencialmente a classificação e avalia que o rótulo minimiza o seu trabalho. “Acho que alguns setores da mídia tentam desviar a atenção das pessoas, focando questões sem importância. Não é bem um problema meu. É um problema da sociedade, que tem que combater essa discriminação”.
Além do preconceito de gênero, a parlamentar ressalta que a mulher no Brasil sofre ainda mais, como sofrem outros grupos sociais, com a pobreza. “As estatísticas provam que a pobreza no mundo se tornou feminina. As mulheres são menos remuneradas e desempenham papel tão importante quanto os homens na sociedade. Muitas delas são chefes de família e a maioria vive na pobreza”. E complementou: “A luta, na verdade, é para eliminar a pobreza e, mais ainda, a pobreza feminina, porque a mulher é mais vitimada na pobreza que o homem”.
Fonte: O POVO