Do hospital, vítima de bomba do 8 de Março fala ao Vermelho

Por Carla Santos
Neste domingo (11), representando a Cooedenação dos Movimentos Sociais (CMS), o presidente da UNE, Gustavo Petta, o presidente da UJS, Marcelo Gavião, o deputado estadual Nivaldo Santana e o ex-deputado Jamil Mural, ambos do

Era apenas uma manifestação pelo Dia da Mulher – Fora Bush… 


 


Márcia contou que após o término de um curso que faz nas proximidades da Avenida Paulista se juntou à multidão que protestava pelo dia Da Mulher – Fora Bush na altura da Avenida Brigadeiro Luís Antônio. “Eu estava na frente da passeata, na ala dos deficientes físicos, onde ficou o primeiro carro de som. Havia muitas pessoas de cadeira de rodas, deficientes visuais e crianças”, declarou.


 


“Quando a passeata chegou ao vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo) eu parei para esperar o ato começar. A manifestação estava muito bonita, com gente de todas as idades, manifestando de forma pacífica e alegre. De repente apareceu a tropa de choque. Do nada centenas de policiais surgiram na Paulista. As pessoas ficaram assustadas e começaram a correr para o vão livre do Masp. Disseram que tinha gente jogando pedra na polícia desde a Brigadeiro, mas eu não vi ninguém jogando pedra, eu não vi confronto nenhum. Eu não fui lá (na manifestação) pra jogar pedra, eu fui para participar da passeata das mulheres”.


 


… Mas a passeata se tornou um campo de batalha


 


Neste momento a trabalhadora da Sabesp sentiu uma dor intensa. Quando olhou para baixo, viu seus pés cobertos de sangue. Uma bomba de gás lacrimogêneo foi lançada pela polícia nas suas pernas. “Ainda corri para trás do elevador (do Masp). Eu estava sentindo muita dor. Alguém me deu um pano molhado para respirar, mas eu nem estava preocupada com o gás, a minha perna parecia estar em chamas”, disse.


 


Uma médica alemã foi a primeira a socorrer a manifestante que naquele momento percebeu o que havia ocorrido, “a aparência das feridas era horrível, impressionante! Eu podia ver meu osso em uma das pernas, e mais abaixo um buraco de dez centímetros”.


 


Depois de alguns minutos sentada, Márcia foi carregada até o outro lado da Paulista, lá o médico e ex-deputado Jamil Murad prestou socorro. “Até falaram alguma coisa pra polícia, mas eu não ouvi nada. Ainda bem que não fui no carro deles, imagina se eu ia querer entrar no carro da polícia depois de levar uma bomba nas pernas deles, eu tenho medo da polícia. Então chegou um táxi e o Jamil e uma jornalista me acompanharam até o Hospital Santa Catarina. O Jamil foi fantástico. Sou eternamente grata a ele”.


 


Márcia Balades sofreu uma operação plástica de duas horas, queimaduras de segundo grau e fraturas sérias nas pernas. Ela permanece internada no hospital e está sendo bem cuidada. O Hospital Santa Catarina é um dos melhores da cidade. Porém, a manifestante ainda não tem previsão de alta. Segundo Jamil, Márcia passa bem, mas a trabalhadora atesta “as dores são horríveis e agora sabe-se lá quando estarei definitivamente recuperada”.


 


“Não me arrependo de nada. A polícia agiu por causa do Bush”


 


“Não me arrependo de nada. Apesar de meus familiares dizerem que eu não devia ter participado, de que eu não devo mais participar, eu vou continuar indo pras ruas sempre que eu achar necessário. Eu sempre fui nas manifestações do dia 8 de Março, vou todos os anos. Eu não sou militante do sindicato nem nada, mas gosto de participar de passeatas que defendam os direitos das mulheres”, disse a trabalhadora que está indignada com a falta de preparo da polícia militar.


 


Márcia acrescentou ainda que nunca tinha participado de um 8 de Março com tantos policiais e violência, “o 8 de Março nunca foi assim, era sempre pacífico e com poucos policiais na manifestação. Esse só foi desse jeito por causa do Bush. Sabe como é, né? Desde daquela manifestação dos 500 anos do Brasil, lembra?, que o Fernando Henrique desceu o pau nos manifestantes, o PSDB de Serra não tem medo de bater na população”.


 


Márcia reforçou muitas vezes que sempre teve medo da polícia de São Paulo e que assim que sair do hospital pretende procurar advogados para tomar providências, “ainda bem que eu tenho convênio e não preciso de ajuda financeira, mas o meu direito de manifestar ninguém vai me roubar. Me sinto amedrontada pela polícia, mas minha indignação é sempre maior que o medo”.


 


O confronto do dia 8 de Março fez mais de 23 feridos, entre manifestantes, jornalistas e policiais, além de quatro presos.           


 


Vítima de selvageria da polícia e do Governo Serra


 


Algumas lideranças já visitaram Márcia Balades no Hospital. Entre elas o presidente da UNE, Gustavo Petta, Marcelo Gavião, presidente da UJS, o deputado Nivaldo Santana e o ex-deputado Jamil Murad, ambos do PCdoB. A visita foi de solidariedade à vítima da PM e também para a se colocar a disposição para o que for necessário. 


 


“Márcia agradeceu muito a nossa visita. Fiquei chocado ao ver a gravidade dos ferimentos dela, por outro lado, fiquei contente ao vê-la animada com o saldo político das manifestações que fizemos no Brasil”, declarou Gavião.


 


Segundo Petta, que também foi ferido na manifestação, Márcia teria dito que não nasceu para ser heroína, uma Joana D’Arc, ou coisa do tipo, ela estava lá porquê queria participar de um momento importante para o país. “A UNE se comprometeu a ajudá-la no que for preciso. Vamos acionar nossa assessoria jurídica para que a Márcia tenha todo o apoio que precisar”, declarou.        


 


O deputado Nivaldo Santana vai falar com o Sindicato dos Trabalhadores da Sabesp para ver medidas conjuntas para defesa de Márcia. “A polícia militar deveria de adotar métodos não violentos para este tipo de situação. O que aconteceu colocou em cheque o preparo da polícia”, destacou Nivaldo.
               


Para Jamil Murad, “Márcia foi vítima de uma selvageria da polícia militar e do governo do Estado. A manifestação era política e a orientação que foi dada por Serra transformou uma luta política em caso de polícia. Foi uma agressão desnecessária e inadmissível porquê se toda passeata que manifestar a indignação ou o protesto da sociedade for tratada desta forma podemos acabar com desdobramentos trágicos”.


 


Sociedade precisa tomar conhecimento para que selvageria não ocorra mais


 


Jamil ainda destacou que há cobranças para tentar abafar o caso, por isso “é necessário que a sociedade tome conhecimento do que aconteceu. O que foi feito é um crime do poder público, no nível do Estado. Márcia precisa de ajuda para obter resultados, sozinha ela terá muitas dificuldades. Nosso apoio e denúncia do que aconteceu não é apenas para punir o crime, mas também para evitar que ações deste tipo continuem acontecendo”.


 


O fato é que a polícia de São Paulo, em especial nos últimos meses, tem agido de forma violenta com manifestações. Serra, ao contrário de seus antecessores, quer intensificar o tratamento às manifestações na base da porrada, com balas de borracha e tudo mais. Medida realmente inesperada da parte do governador que já foi presidente da UNE.


 


Todos os visitantes foram unânimes em afirmar que apesar de tudo, Márcia estava muito feliz por ter dado a Bush a recepção que ele merece do Brasil. Os deputados estaduais do PT, José Zico Prado e Ítalo Cardoso também visitaram a trabalhadora. O Senador Eduardo Suplicy prometeu visitá-la esta semana.


 


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