Marcha em Brasília protesta sobre São Francisco

O projeto de integração do Rio São Francisco trouxe à Brasília cerca de 600 manifestantes que estão acampados, desde segunda-feira (12), na Zona Central da cidade, de onde saíram nesta terça-feira (13), pela manhã, em caminhada até o Palácio do Planalt

Uma comissão formada por sete integrantes de movimentos sociais que participam do acampamento foi  recebida em audiência pelo Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Luiz Dulci. Os manifestantes reafirmaram o pedido de audiência com o presidente  – já feito no dia 5 de março e, até agora, não houve resposta.


 


Manifestantes admitem que pretendem fazer pressão sobre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, para que sejam tomadas decisões no sentido de assegurar o fim do projeto e a construção de um processo de revitalização do rio, baseado em tecnologias apropriadas aos biomas Cerrado e Caatinga, que considerem os conhecimentos e presença das comunidades tradicionais da Bacia.


 


Esta opinião será defendida na audiência com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na manhã desta quarta-feira (14). No mesmo dia, à tarde, serão discutidos os temas da revitalização e transposição em uma audiência pública no Ministério Público Federal.


 


Na quinta-feira (15), os manifestantes vão à Câmara dos Deputados. Também foram solicitadas audiências no Senado Federal, Tribunal de Contas da União (TCU) e o Supremo Tribunal Federal (STF).


 


O Outro Lado do Rio


 


O acampamento, montado na Praça das Fontes, próximo a Torre de TV, reúne homens, mulheres e crianças, de organizações, movimentos e comunidades da bacia do Rio São Francisco, que pedem o fim do projeto de transposição do Rio. São representantes dos estados de Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e do Distrito Federal.


 


Foi montada uma tenda chamada de Espaço das Alternativas, onde a população pode visitar uma exposição sobre as experiências de convivência com o semi-árido e desenvolvimento sustentável. Também estão sendo realizados oficinas culturais e políticas. 


 


No local também foi montada uma exposição fotográfica com imagens do rio São Francisco. O fotógrafo João Zinclar, percorreu 2800 quilômetros da Bacia, desde a nascente até a foz. Intitulada O Outro Lado do Rio, a exposição apresenta 70 fotografias coloridas com motivos que vão desde os aspectos sócio-culturais até a degradação ambiental.


 


Sobre a transposição


 


O projeto de transposição do governo federal está orçado em R$ 6,6 bilhões, inclusos dentro do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Pretende construir dois canais, norte e leste, para verter águas do rio São Francisco, a partir dos municípios pernambucanos de Petrolândia e Cabrobó, em direção ao que está sendo chamado de Nordeste Setentrional.


 


Em dezembro do ano passado, o ministro Sepúlveda Pertence, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou todas as liminares que seguravam o início das obras. Os manifestantes destacam que  os demais 10 ministros do Supremo não se pronunciaram sobre o assunto.


 


Também ressaltam que falta a licença ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e que os pareceres do Tribunal de Contas da União (TCU) não recomendam a obra atrelada a recursos públicos, por falta de garantias do projeto e a constatação do baixo atendimento à chamada população difusa.


 


O Movimento Articulação do São Francisco admitem que o projeto é polêmico e tem causado um clima de divergência nacional. ''Os aspectos sobre a resolução dos problemas de água do semi-árido nordestino não são evidenciados. As águas previstas para verter nos dois canais servirão em 70% para irrigação e atividades como a criação de camarão, 26% para uso industrial e apenas 4% para o povo que vive em zonas rurais e urbanas'', alertam.


 


Fonte: Articulação do São Francisco