Matemática simples explica rentabilidade recorde dos bancos

Não é necessário ser nenhum gênio das finanças para entender o porquê dos lucros recordes apresentados pelos bancos brasileiros a cada ano. O que é difícil compreender são os motivos que levam o governo a não fazer algum tipo de intervenção no setor,

Os balanços mostram que, de 1996 para cá, a receita obtida com tarifas bancárias foi um dos itens que mais subiram, ajudando a impulsionar os ganhos do setor. Em 1996, esse tipo de cobrança proporcionou aos bancos um faturamento de R$ 12,1 bilhões. No ano passado, o valor havia pulado para R$ 47,5 bilhões – alta de 293%.



De modo resumido e didático, o quadro atual diz que para uma inflação de 92,7% entre 1996 e 2006, a folha de pagamento dos bancos cresceu 55%,  enquanto as tarifas bancárias subiram 293%. Hoje, elas já cobrem com folga o gasto dos bancos com pessoal.



Rentabilidade
Reportagem publicada nesta segunda-feira (12/3) na Folha de S.Paulo ilustra bem esse panorama. Em 2006, os ganhos alcançados pelas 104 instituições financeiras que atuam no Brasil somaram R$ 33,4 bilhões, o que representa um retorno de 22,9% sobre o patrimônio líquido do setor. Nem mesmo a queda dos juros ocorrida nos últimos meses não impediu os bancos de baterem recorde de rentabilidade pelo segundo ano consecutivo.



A rentabilidade é um relevante dado sobre o potencial de retorno de uma instituição. O índice mostra o quanto o banco consegue lucrar em relação a seu patrimônio. Os números estão nos balanços que os bancos enviaram ao Banco Central no início deste ano. Segundo esses documentos, o lucro total dos bancos havia sido de R$ 28,3 bilhões em 2005, o que correspondia a uma rentabilidade de 22,6%.



O levantamento considera apenas os resultados obtidos pelas instituições financeiras propriamente ditas. Negócios como cartões de crédito, seguros, previdência privada e consórcios não são incluídos.



Eficiência ou abuso?
Diz a reportagem que o BC mantém em sua base de dados as demonstrações financeiras entregues entre 1996 e 2006. No período, em apenas três anos o retorno sobre o patrimônio líquido do setor bancário como um todo ultrapassou 20%: 2002, 2005 e 2006.



Em 1996, ainda segundo os balanços entregues ao BC, os bancos gastaram R$ 24,9 bilhões com suas folhas de pagamento. No ano passado, esse valor havia passado para R$ 38,7 bilhões, variação de 55%. Nesse período, a inflação (IPCA) foi de 92,7%.Esses números mostram a melhora num dos índices usados para medir a eficiência dos bancos, o chamado “índice de cobertura”, que é a parcela da folha de pagamentos que poderia ser coberta apenas com o dinheiro arrecadado com as tarifas. Entre 1996 e 2006, esse índice subiu de 48% para 123%.



Já as receitas dos bancos com juros, tanto de operações de crédito quanto de investimentos em títulos públicos, subiram mais de 100% nos últimos 11 anos. Os números mostram que a trajetória de queda das taxas observada recentemente não impediu os bancos de manterem elevados ganhos nesse tipo de operação.