Luis Nassif: É bom ter cautela nos acordos com os EUA

É bom cautela com a definição de acordos com os Estados Unidos. Ao contrário de outras políticas públicas, a de relações exteriores é a mais suscetível a mudanças de governo e de ventos. Nos anos 40, o Brasil sofreu na carne com esse tipo de postura.

Houve grande entusiasmo quando Franklin Delano Roosevelt, influenciado por Sumner Welles e Nelson Rockefeller, decidiu aplicar uma versão New Deal (seu plano que salvou a economia americana no início dos anos 30) para a América Latina. Foi uma decisão relevante, que deu resultado enquanto durou, mas pouco durou. Com sua morte e a ascensão de Truman, o projeto foi congelado.



Gerou a Companhia Siderúrgica Nacional, investimentos em alguns áreas tecnológicas. Depois, morreu.



Os sucessivos planos de cooperação dos anos 40 tiveram o mesmo problema (sobre isso escreverei com mais detalhes na Coluna Econômica de terça). Alguns se limitaram a fazer diagnósticos, para preparar o país para receber financiamentos. Na seqüência, mudava a orientação americana, e a nova orientação era que os assessores meramente ajudassem o governo brasileiro a conseguir capital aqui dentro mesmo.



As frustrações ocorreram em várias momentos e em vários setores. O Acordo Militar fracassou, depois de parecer bem encaminhado, e manteve a Marinha brasileira anacrônica.



A última tentativa de uma grande cooperação daquela década, o Plano Salte, morreu quando estourou a Guerra da Coréia, e a América Latina deixou novamente de ser prioridade.



Na própria negociação de um empréstimo-ponte em 1952, a troca do governo americano – os republicanos de Eisenhower assumindo – implicou em mudança completa na orientação do Departamento do Estado, quase fazendo os EUA incorrer no mesmo papelão que condenam em economias emergentes: a do governo que entra não se responsabilizar por compromissos do governo que sai.



As conversas entre Bush e Lula foram relevantes. Afastaram, de vez, essa bobagem sobre o suposto anti-americanismo da política externa brasileira. Podem permitir investimentos em pesquisa tecnológica no Brasil. Se houver clareza sobre os interesses nacionais, o pacto para espalhar o etanol por vários países pode trazer conseqüências positivas para produtores de álcool, indústria de máquinas e equipamentos, e sistema tecnológico.



Mas sempre com um pé atrás, em função desse pensamento errático da diplomacia externa americana.



No fundo, não é a Guerra Fria, talvez nem seja o álcool o principal motor da viagem de Bush. É bem possível que seja a nova força política dos EUA: o eleitorado hispânico.



Fonte: Blog do Luis Nassif