CNBB repudia nota de “Veja” sobre morte de Ivo Lorscheiter

A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu nota oficial nesta quarta-feira (14/03) repudiando o registro feito na revista Veja sobre a morte de dom José Ivo Lorscheiter, bispo emérito da diocese de Santa Maria (RS), ex-secretário-

Na seção “Datas”, de forma irônica, a revista afirmou que o bispo “denunciou as torturas e os assassinatos de esquerdistas nos porões dos quartéis” da ditadura militar (1964-1985). “Lorscheiter foi um dos principais defensores da Teoria da Libertação, uma excrescência saída da cabeça de padres ideólogos latino-americanos que tentava conciliar cristianismo e marxismo”, registrou Veja, com sua típica tendência à esculhambação.


 


Os ataques ao bispo não pararam por aí. Conforme a mesma nota, Lorscheiter “apoiou a criação de bandos armados que, a pretexto de lutar pela reforma agrária, deram origem ao MST”. Para a CNBB, as palavras da revista refletem “incompreensões”, “injustiças” e “acusações infundadas”.


 


Por reparação
“Não é justo falar, como faz a revista Veja, que Dom Ivo 'politizou o Evangelho para o bem e para o mal'”, diz a nota, que repudia principalmente o trecho sobre o apoio a bandos armados supostos. “Onde estão esses 'bandos armados'? Qual foi o nome deles? Como se explica que o sistema de segurança da época não denunciou nem processou Dom Ivo? A quem interessa uma segunda morte de Dom Ivo Lorscheiter?”.


 


Afirmando que o pastor foi “a pessoa certa” para a defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar, a CNBB afirma que “ele doou sua vida pela Igreja e pelo Brasil em momentos difíceis da nossa história recente”. A nota é assinada por Geraldo Majella Agnelo, Antonio Celso de Queirós e Odilo Pedro Scherer, respectivamente presidente, vice e secretário-geral da entidade.


 


Os padres finalizam a nota exigindo de Veja uma “justa reparação ao mal feito”, reforçando os sentimentos de dor e repúdio às palavras da revista.


 


Baudrillard
A discriminação de Veja continuou ao noticiar a morte do filósofo e sociólogo francês Jean Baudrillard, que, nas palavras da revista, “ganhou fama escrevendo textos obscuros, muito populares nos cursos de semiologia”.


 


Veja parte até para uma linguagem coloquial e rasteira. “Baudrillard fazia arrepiar de entusiasmo o pessoal da pós-graduação, com seu papo-cabeça sobre a 'virtualidade' do mundo contemporâneo”, difama a revista, que completa, com sarcasmo: “Talvez ele tenha sido mesmo um bom autor de ficção científica”.


 


A apelação de Veja não passou incólume nem mesmo na internet. Com o título “Armação ilimitada”, o blog Diário Guache destacou: “Isso prova que a boçalidade, a simplificação e o desrespeito para com o leitor não tem limites na mídia brasileira”.