Mesmo sem Bevilaqua, Copom pode ficar ainda mais conservador

A ata do último Copom causou desconforto nesta quinta-feira (15/3) no mercado futuro de juros da Bolsa de Valores. Os tesoureiros esperavam, sim, um documento conservador, destinado a tornar patente a manutenção da linha ortodoxa mesmo depois da saída de

Presente nas quatro atas anteriores, a frase segundo a qual a redução cautelosa do juro básico “contribui para aumentar a magnitude do ajuste monetário total a ser implementado” desapareceu da nota publicada ontem. Alerta de que o BC pretende parar de cortar a Selic, mesmo que no módico ritmo de 0,25 ponto, mais cedo do que o mercado projetava?



Na dúvida, os tesoureiros de bancos e os gestores de fundos interromperam o movimento acentuado de queda dos juros futuros num dia em que os mercados externos não se abalaram com uma inflação no atacado americano acima das previsões.



A ata de ontem colocou em dúvida a rota de queda da Selic traçada para o ano. Antes dela, os analistas previam, quase consensualmente, que a taxa cairia 0,25 ponto nas próximas cinco reuniões (as de abril, junho, julho, setembro e outubro). Nesse compasso, a Selic cairia a 11,50% na reunião de 17 de outubro. E, no último encontro de 2007, no dia 5 de dezembro, a flexibilização monetária seria interrompida e a taxa fecharia o ano nos mesmos 11,50% de outubro. Mas a supressão da referência à “magnitude do ajuste” embaralhou as cartas do DI.



A primeira conclusão que os analistas tiraram da leitura da ata foi que a saída de Bevilaqua da diretoria do BC – que participou apenas do primeiro dia de debates da reunião realizada na semana passada, não votou na segunda parte do encontro e nem colaborou na redação da ata – não irá tornar mais flexível e tolerante a política monetária. Pelo contrário, parece que o documento de ontem quis transmitir o recado inverso ao suprir a alusão ao tempo do ajustamento.



A ata da reunião do dia 7 – e o tom geral das discussões travadas em reuniões realizadas ontem entre economistas de bancos e diretores do BC com o objetivo de colher subsídios à elaboração do Relatório de Inflação trimestral – reforçam a visão oficial já conhecida: 1) há um descompasso entre o crescimento do consumo, considerado robusto, e a oferta agregada. Esta se expande apenas o suficiente para cobrir metade daquele. A outra metade ainda precisa ser suprida pela importação. 2) O efeito total da baixa de 7 pontos já efetuada no juro básico ainda não foi sentido pela atividade econômica. 3) O BC quer mesmo ter certeza de que o repique inflacionário ocorrido no início do ano não irá contagiar as expectativas. 4) E ter convicção de que as turbulências externas são de fato fruto de instabilidades passageiras.



O DI futuro da BM & F encerrou o dia certo de que a Selic irá cair 0,25 ponto na próxima reunião, dia 18 de abril, já que o “código de Bevilaqua” , a palavra “parcimônia” , foi mantida e veio sozinha, sem o “maior” , mas não há mais certeza sobre o momento da parada, outubro. Pode ser antes. E quem esperava pelo retorno do ritmo de corte de 0,50 ponto, já colocou a expectativa sob revisão.



A suspeita de que o Copom planeja em breve reforçar o seu conservadorismo conseguiu, mesmo num cenário externo ainda volátil e incerto, ampliar o ingresso de capital estrangeiro no país. O dólar voltou a cair e em ritmo mais acelerado do que as altas das bolsas de Wall Street pudessem sugerir. A moeda fechou em baixa de 0,42%, cotada a R$ 2,09. Os mercados americanos não se assustaram com o Índice de Preços ao Produtor (PPI, em inglês) bem acima das previsões. O núcleo do indicador subiu no mês passado 0,4%, o dobro da expectativa, mas acumula em doze meses alta de 1,8%, ainda tolerável. Mas há grande ansiedade em relação ao CPI (consumidor), que será divulgado hoje. Muito observado pelo Fed, não pode contrariar impunemente as previsões.