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Roberta, 18, com o filho, debate a luta da jovem mulher

Roberta Lorena Vieira Mageski, 18 anos, veio a Brasília como delegada de Rondônia na Conferência Nacional do PCdoB sobre a Questão da Mulher, que começou nesta quinta-feira (29). E trouxe o filho Henrique, de oito meses. Henrique se diverte como centro da

Roberta por pouco não veio à Conferência. “A princípio eu não vinha, porque de ônibus são dois dias e meio de viagem. Eu tinha sido indicada para vir, mas não vinha. Mas no sábado, o presidente do Partido (Manuel Néri, presidente estadual do PCdoB-RO) disse que comprou a passagem de avião. Ainda tinha as fraldas para arrumar, o leite… Quando eu consegui aprontar tudo, faltava uma hora para embarcar.”



Duas longas viagens



Ela conta que foi complicado, “minha primeira viagem de avião, com o nenem, sozinha”, chegar na capital da República onde ela nunca estivera.



Em janeiro Roberta fez uma viagem até mais longa, de 3.200 km, até Praia Grande (SP), e de ônibus, três dias. Mas estava com o marido, Lucas, e na hora de dormir os dois se revezavam com o filho no colo, cuidando para os solavancos do veículo não o derrubarem. Foram fazer um curso de formação teórica da UJS (União da Juventude Socialista). Henrique, claro, virou o mascote do curso.



Agora, na Conferência, o coletivo é outro. Roberta talvez seja a caçula em três centenas de delegados, 80% mulheres, de todas as idades. A reunião, a segunda mais importante (depois do Congresso) no Estatuto partidário, parte da constatação de que “o PCdoB precisa enfrentar as limitações ainda existentes em sua atuação na luta emancipacionista das mulheres”, como diz o texto que embasou os debates em todo o país.



A Conferência em Rondônia



Rondônia não conseguiu uma grande preparação. Foram apenas cinco militantes (quatro mulheres e um homem) na Conferência Estadual de meia hora que escolheu a única delegada do Estado. Bem distante do vizinho Amazonas, onde 240 delegados (174 mulheres e 66 homens) se reuniram em Manaus, em um processo que envolveu mais de 1.600 pessoas na base.



Roberta é dura na avaliação da Conferência de Rondônia. “Foi um fracasso”, admite. Conta que foi desestimulada de percorrer as cidades do interior do estado, estimulando a discussão nas bases municipais, sempre com alegações sobre o filho pequeno. Já a passagem de avião sinalizou no sentido oposto, como um gesto dizendo “vai, Roberta”.



“Lá em casa não é assim”



A delegada rondoniense já mostrou que leva o filho aonde for preciso. Henrique, o boa-praça, mostrou e mostra que se diverte sempre, pulando de colo em colo no meio de tantos tios solidários. Além disso, Lucas, o pai, entende, apóia e ajuda.



Os dois se conheceram na UJS, onde Roberta, precoce, entrou aos 13 anos, pela porta do movimento secundarista. O casal leva a sério as normas de um relacionamento baseado na igualdade. Lucas, que tem 21 anos e uma função na prefeitura de Porto Velho, também lava roupa e louça, limpa a casa, cozinha, e à noite é quem mais acorda para cuidar de Henrique.



Fortalecida por este apoio, Roberta se recusa a “ficar em casa, que nem as mulheres até de alguns militantes do movimento social”. Com uma ponta de orgulho e um fundo de sólida determinação, garante: “Lá em casa não é assim” – embora acrescente depois que “nem por isso a gente fecha em tudo”.



É preciso talvez ter 18 anos para aguentar a barra de carregar o filho para tantas atividades, desde a gravidez, durante a campanha eleitoral do ano passado. Mas quem tem 18 anos, e quem lembra como era quando os teve, sabe das reservas de energia que se consegue mobilizar, por uma coisa em que se acredita.



Planos para depois da Conferência



Quando voltar a Porto Velho, a delegada das mulheres do PCdoB-RO está decidida a procurar emprego, para pagar uma creche – “é bom para ele se socializar” – e poder voltar a estudar. Quanto à militância, depois de se dividir entre a frente da luta da juventude e a das mulheres, ela achou uma resposta: “A gente defende a frente das jovens mulheres”, declara.



Roberta argumenta que no último 8 de Março em Rondônia já ficou claro que existe um jeito específico, jovem, de abordar o trabalho com mulheres da sua geração. Ali ocorreram palestras para as mulheres em geral, durante o dia, mais as jovens compareceram mais ao teatro e à festa que ocorreram depois.



Ela tem opiniões formadas, por exemplo, sobre a gravidez adolescente. “Não é doença”, defendeu, num debate em Porto Velho, argumentando com o seu exemplo. Acha que os mais velhos tendem a carregar as tintas no combate ao que pode ser também uma escolha consciente e madura.



De Brasília,
Bernardo Joffily