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Homenagem às feministas e às heróinas anômimas

Durante a abertura da 1ª Conferência Nacional do PCdoB sobre a Questão da Mulher, nesta quinta-feira, 29, em Brasília, o secretário de Formação do partido, Adalberto Monteiro prestou homemenagem às guerreiras brasileiras. Confira a seguir.

A poesia foi convocada para fazer uma espécie de prelúdio à homenagem que será prestada as heróinas de nossa história. Neste prelúdio a poesia homenageia primeiramente, vocês todas, feministas, mulheres militantes; em seguida, a poesia homenageia, as milhões de heroínas anônimas do povo brasileiro, e finalmente, uma canção ao Glorioso que comemora, pleno de energias, 85 anos.


 


8 de março
Enquanto escrevo, mulheres iguais a ti, acordaram mais cedo, e talvez com aquela ansiedade que antecede as batalhas, nem tenham tido tempo ou paciência para passar a manteiga no pão ou para passar o batom nos lábios. Andam apressadas, correm, o “coração disparado”, pois hoje é o 8 de março. Para que esse 8 de março novamente houvesse, quanto trabalho…


 


Desde que assinei a ficha de integrante do contingente de construtores do mundo novo, passei a conhecer essas mulheres iguais a ti, iguais a todas vocês, que de um elevado de um teatro, de cima de uma cadeira ou de um caminhão, ou às vezes se estão mais altas é tão somente pelo salto alto das sandálias, argumentam com paciência, ou com a impaciência de quem é alvo da surdez da sociedade — e muitas vezes dos próprios companheiros, das próprias companheiras e camaradas —, nos sacodem, com a voz doce ou estridente, enfim, nos apresentam a verdade de que não haverá mundo novo se as mulheres continuarem vítimas de violências, preconceitos, discriminações.


 


Essas mulheres iguais a ti, nos dizem que, sim, libertar o proletariado  da opressão de classe, com certeza, é uma grande e bela obra. Mas essas guerreiras e princesas do porvir, essas mulheres iguais a todas vocês, nos dizem que todavia nada será realmente belo se as mulheres continuarem sendo tratadas tal a época das cavernas, de modo dissimulado ou aberto.


 


Certa vez, conheci um “abrigo de mulheres”. Muros altos, soldados à porta, refugiadas com a prole à volta, privadas da liberdade, foragidas da violência de seus maridos, espancadas, queimadas, ali exiladas, pois se retornassem ao lar seriam vítimas de violência ainda maior.


 


Quantas vezes, vocês, feministas, militantes, não nos sacodem os ombros tentando nos fazer ver quantos séculos de civilização a humanidade deixou de avanças por obstruir, por excluir, por mutilar as mulheres e nós ouvimos, afirmamos que vocês têm toda razão, mas falamos isso da boca pra fora, sem tirar consequências.
Na sede do Comitê Central do PCdoB tem uma gravura de um artista plástico judeu. É uma gravura que retrata Olga Benário nos campos de concentração da Alemanha. Está altiva, mas pálida e triste… Dá vontade de pular pra dentro da gravura para libertá-la, para que amamente Anita, para que alimente a luta.


 


Olga, bela, brava, culta, os olhos tinham o verde manso e doce das folhas de cana. O nazismo a considerava uma ameaçava. Olga atravessou o Atlântico,primeiro, a mando da luta de classes, depois,também, a mando do amor; mas a Gestapo tinha garras longas. Nem a largura do oceano foi o bastante para protegê-la. Ela foi entregue grávida à ditadura de Hitler para perecer num campo de concentração nazista. Esse talvez seja o crime que melhor simbolize o obscurantismo político do podre Estado Novo.


 


Quantas Olgas não estão adormecidas nos milhões de nossas Marias? É preciso despertar nossa Marias, as heroínas anôminas de nosso povo. Elas têm fibra, são doces e bravias, são sabias, mas são excluídas e sobre elas desaba  todo os peso da opressão. Um mundo de fato novo só poderá ser edificado se as mãos sensíveis e construtivas dessas milhões de Marias despertadas, emancipadas, participarem da sua conquista e construção.


 


 


O poema uma Senhora Louca de Amor presta seu louvor a essas Marias, heroínas anônimas do povo brasileiro. Milhões delas desempenham o papel de “chefes de família”. Muitas vezes, os machos por covardia evadem-se de seus lares e deixam as mulheres com toda a responsabilidade  inerente ao sustento dos filhos.


 


 


 


 


Uma senhora louca de amor


 


 


Minha canção
É tua, mulher trabalhadora,
Mãe,
Heroína de meu país.
Se aproxima
a hora vital do almoço
e tua casa é um ninho
de filhotes famintos,
e tu, absolutamente, sozinha.
Num segundo abandonas o tanque,
as roupas.
E lá te vejo,
louca de amor,
brava como uma leoa,
correndo nas ruas da vila,
as pernas azuis de varizes…
Batendo de porta-em-porta,
com teu vestido de chita-azul,
teus olhos pretos,
pequenos,
comuns,
mas extremamente brilhantes.


 


 


Com tua voz firme,
com altivez, mas com a humildade
de uma embaixatriz de uma nação oprimida,
expões ao dono da venda,
aos vizinhos,
explicas que não tens dinheiro
mas tens as mãos calejadas
e que não és uma mendiga,
e que não é possível
que os teus filhos
não tenham direito,
pelo menos, a uma tigela de arroz.
Argumentas, negocias, lutas,
defendes com unhas e dentes
a vida dos teus.


 


 



Te envolvo de carinho
Com minha canção.
Os meus versos
São teus:
Linda senhora.


 


 


 


 


Uma homenagem ao Partido


 


 


Canção à bandeira rubra
(uma ressonância daquela canção de Jorge Mautner)


 


 


Amanhã na vastidão da avenida,
No mar de gente,
Em vez de cavaleiro,
Serei teu mastro andante.
Haverá muitas outras,
Mas o meu coração vibrante
Fará de meus braços
Um galho gigante
E neles hasteada
Irás bailar
Bem ao alto
Face a face com o vento.
Haverá outras, bonitas e dignas,
Mas serás amanhã na festa,
Como foste na guerra, a mais honrada,
A mais brava, a mais bela.
Haverá outras de cor vermelha
Mas o teu vermelho é mais rubro,
Pois vem da aurora
Vem das estrelas supernovas
Vem do ferro incandescente
Açoitado na bigorna,
Vem da faísca que incendeia o canavial,
Vem dos cravos e das rosas.
Vem das faces jovens e rosadas,
Vem do vinho tinto tenro da Serra,
Vem do tenro sangue dos heróis
Vem dos encarnados lábios
Que se beijam
Vem da cor do fértil chão brasileiro
Vem do fogo que cose e aquece
Vem das brasas que cospe a espingarda guerrilheira.
Quando faz frio, aqueces
Os que não têm algodão,
Quando a noite prolonga-se como em Plutão,
Surges das entranhas da treva
E disparas canhões de luz.
É verdade, há outras de cores diversas
E delas não nego a formosura.
Mas nenhuma outra tem ao centro
O símbolo dos trabalhadores,
Dos construtores do país e do porvir.
Nenhuma outra tem ao centro
Bordado com fios de ouro
O inquebrantável elo
Da foice e do martelo.