Publicado 03/04/2007 17:22 | Editado 04/03/2020 17:19
Quando o presidente Lula disse que os usineiros de açúcar e álcool eram “verdadeiros heróis nacionais” não se deu conta de tamanho erro de análise, mesmo que pela simples retórica ou do agrado ao setor. A situação dos trabalhadores rurais no país é uma das maiores definições de exploração da mão de obra. E no estado mais desenvolvido, a marca da morte desses trabalhadores por exaustão, ou seja, pelo esforço físico extremo, significa o atraso que ainda vivemos na relação capital e trabalho. Em resumo: uma vergonha para o Brasil.
Na última semana morreu mais um trabalhador, José Pereira Martins, 52 anos, prestava serviços para a Usina Bonfim, em Guariba-SP. A usina Bonfim disse em nota que a morte do senhor Martins foi uma “surpresa” pois realiza rigorosos exames médicos e não havia constatado nenhum problema com o trabalhador. Os donos do álcool tratam a questão como um problema de manutenção e seus funcionários como peça de estoque. Deu defeito? Troca e sigam adiante.
Não basta lamentar, como fizeram os donos de usinas ou a Única – União da Indústria de Cana-de-Açúcar. É preciso agir diante de tantas mazelas e impedir a ação inescrupulosa dos contratantes da mão de obra. A responsabilidade pela morte dos trabalhadores rurais é exclusiva dos donos das usinas, não adianta se esquivarem e dizerem que o problema é do sistema de terceirização. A exploração da mão de obra no campo chega a ser medieval, num país que busca alcançar o desenvolvimento econômico e social para o século XXI.
Segundo a Pastoral da Terra, nos últimos três anos morreram 18 bóias-frias no estado de São Paulo. A principal reclamação dos trabalhadores no campo é o forte calor que faz no interior de São Paulo. O salário pelo trabalho do corte da cana chega entre R$ 900,00 e R$ 1.200,00, mas a média é de R$ 400,00. O volume de cana cortada por dia chega a 20 toneladas por trabalhador. Segundo a Única, associação patronal, os cortadores de cana chegam a 260 mil em São Paulo.
Na Assembléia Legislativa de São Paulo repousa um pedido de CPI apresentada pela deputada comunista Anna Martins (PCdoB), na legislatura passada. Assim como outras propostas relevantes, o pedido de uma comissão de investigação está sendo arquivado pelo governo estadual. Os parlamentares governistas não têm discernimento sobre a necessidade imperiosa de dar respostas imediatas a assuntos como o da morte de dezenas de trabalhadores por excesso de trabalho, estão paralisados pela subserviência ou o receio de investigações do governo. O parlamento paulista é nulo nesse assunto.
É preciso dar respostas imediatas e ações coordenadas entre o governo, o legislativo, as entidades organizadas da sociedade e a Justiça para impedir esta onda de mortes por exaustão. Um projeto para o país se desenvolver passa pelo equilíbrio e justiça social. Se quisermos ser a vanguarda na bioenergia alternativa é preciso corrigir erros injustificáveis como a morte de nossos trabalhadores.
Rodrigo de Carvalho é sociólogo e membro da direção estadual do PCdoB/SP.