Lula critica subserviência nas relações entre nações
Para mostrar a mudança de atitude em sua gestão, citou a primeira reunião do G8: ´Em dado momento chegou um dirigente. Todos se levantaram e eu fiquei sentado´
Publicado 11/04/2007 22:14
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta quarta-feira, 11, a postura de inferioridade que o País adotou no passado com relação à política externa e, para mostrar a mudança de atitude em sua gestão, citou a primeira reunião do G8 (os sete países mais industrializados, mais a Rússia) de que participou assim que assumiu o cargo.
“”Eu me lembro de um negociador da dívida externa brasileira que me dizia que ´era uma vergonha´ porque o Brasil chegava lá de cabeça baixa, falavam grosso com a gente e não tínhamos coragem de reagir. Me lembro da primeira vez que fui ao G8 (os sete países mais industrializados, mais a Rússia) e, como vocês sabem, não falo nenhuma língua, falo muito mal o português, e em dado momento chegou um dirigente. Todos se levantaram e eu fiquei sentado. Me perguntaram e eu disse: ninguém se levantou quando cheguei; eu também não me levanto.”
O presidente justificou tal atitude porque não quer que o País seja subserviente. “A subserviência é o pior para qualquer pessoa. Subserviência não é bom para uma relação de pai para filho, nem marido e mulher, e muito menos para uma relação entre nações. Não quero que o Brasil seja melhor ou pior. Quero que seja tratado de igual para igual. Com respeito vamos tratar os Estados Unidos, o Paraguai, a Bolívia ou qualquer outro país”, disse.
As declarações de Lula foram dadas em evento de assinatura de contrato para a construção de nove navios no estaleiro Sermetal, no Rio. (Clique aqui para ler mais)
Lula também defendeu a postura do seu governo de ter buscado outros parceiros internacionais e não ter ficado somente na dependência do mercado americano e europeu para as exportações dos produtos nacionais.
“Todo mundo fica pensando que é bom ser amigo dos Estados Unidos ou da Europa para que eles comprem tudo de nós. Mas do mesmo jeito que pensamos isso, existem muitos outros que pensam da mesma maneira e a competitividade aumenta. É preciso buscar outros mercados. Isso é como se fosse uma relação de namorados. Se ela ou ele não querem a gente, não adianta ficar chorando, é só ir buscar em outro canto que tem quem queira a gente. Foi isso que o Brasil fez, indo buscar espaço para vender para a China e mais recentemente recuperando as relações com a África, continente para o qual nunca deveríamos ter dados as costas”, disse.
Confira abaixo a íntegra do discurso do presidente Lula na cerimônia de assinatura de contratos para construção de navios da Transpetro (11/04/07):
Primeiro, vocês perceberam que hoje, além deste momento histórico da nossa indústria naval, da nossa Marinha Mercante, nós temos aqui uma novidade, que é a “república dos Sérgios”. Nós temos Sérgio Gabrielli, Sérgio Cabral, Sérgio Machado, Luiz Sérgio e, daqui a pouco, eu vou me batizar como “Lula Sérgio” para poder aumentar o nome dos Sérgios neste País.
Bem, quero cumprimentar o governador do Rio de Janeiro, o nosso companheiro Sérgio Cabral Filho,
Quero cumprimentar os meus companheiros ministros Alfredo Nascimento, dos Transportes; quero cumprimentar o Carlos Lupi, do Trabalho e Emprego; quero cumprimentar o Miguel Jorge, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; quero cumprimentar o nosso ministro Silas Rondeau, de Minas e Energia,
Quero cumprimentar o nosso amigo Luiz Fernando Pezão, vice-governador do estado do Rio de Janeiro,
Quero cumprimentar os deputados federais aqui presentes: Brizola Neto, Carlos Santana, Edmilson Valentim, Edson Santos, Jorge Bittar, Luiz Sérgio e Simão Sessim,
Quero cumprimentar todos os secretários estaduais do Rio de Janeiro e secretárias,
Quero cumprimentar o nosso querido companheiro José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobrás,
Quero cumprimentar o Sérgio Machado, presidente da Transpetro,
Quero cumprimentar Damian Fiocca, presidente do BNDES,
Maria das Graças Foster, presidente da BR Distribuidora,
Quero cumprimentar os prefeitos aqui presentes e seus secretários,
Quero cumprimentar Renato Ribeiro Abreu, diretor-presidente do Consórcio Rio Indústria Naval,
O Carlos Henrique Moreira Gomes, diretor-presidente do Estaleiro Sermetal,
Quero cumprimentar o David Fisher, diretor-presidente do MPE Participações e Administrações,
O Ariovaldo Rocha, presidente do Sindicato Nacional da Indústria Naval,
Quero cumprimentar o Maurício de Mendonça Ramos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro,
O Severino de Almeida, presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante,
O Hélio Seidel, coordenador da Federação Única dos Petroleiros, a FUP,
Quero cumprimentar o Paulo Roberto Costa, diretor da área de abastecimento da Petrobras,
Quero cumprimentar o Renato Duque, diretor da área de serviços da Petrobras,
Quero cumprimentar o companheiro da Petrobras, também, o Estrela, que eu estou vendo aqui, na minha frente, não te colocaram na nominata, porque não sabem da sua importância na Petrobras,
Bem, meus amigos e minhas amigas, o meu problema é que meu discurso vem escrito, mas os números que eu tenho no meu discurso já foram tão citados aqui e eu vou tentar não repeti-los. Mas eu queria dizer da emoção, da satisfação e, eu diria, da gratidão de estar aqui com vocês.
Muitas vezes, a mãe da gente passa a manhã inteira na cozinha, um trabalho imenso para fazer o nosso almoço, a nossa janta e a gente, depois de perambular, chega em casa, na hora do almoço, sem ter a menor noção do sacrifício que ela fez para preparar aquele almoço, às vezes faltando os condimentos, e a gente reclama que não está bom, a gente reclama que quer mais, a gente reclama, muitas vezes, por irresponsabilidade ou sem saber o sacrifício que foi feito para chegar e aquele almoço estar na mesa.
Eu estou fazendo essa comparação porque foi muito sacrifício para a gente chegar onde chegamos. Sacrifício de adversários que não queriam que essas coisas acontecessem, sacrifício de pessoas que acham que o Brasil não precisa ter Marinha Mercante e tampouco precisa ter indústria naval, porque tem muita gente que acha: “Bom, mas lá fora eu faço mais barato”. Vamos dizer, pensar apenas o econômico, em função do resultado da empresa, é ser pequeno, porque, no meio do econômico e da empresa, tem mulheres, crianças e homens que precisam trabalhar, sustentar as suas famílias e pagar imposto e, muitas vezes, aquilo que para a empresa parece um pouco mais caro, para o Brasil fica muito mais barato, pela quantidade de distribuição de renda que nós conseguimos fazer com um projeto desses. Tinha gente que achava que a nossa indústria naval não tinha mais competência, portanto, “ela está sucateada, está superada, para que fazer as coisas aqui?”.
Eu queria, em função disso, dizer para vocês que tem alguns parâmetros para a gente medir a construção de uma família, a construção de uma comunidade, a construção de um sindicato, de um partido político, de uma igreja, e a construção de uma nação. A construção de uma nação está subordinada ao estabelecimento de determinadas estratégias que definem se a gente vai ser uma grande nação ou uma grande nação. Nós temos nações que são respeitadas no mundo porque têm Forças Armadas totalmente equipadas, preparadas, modernas, com tudo o que vocês possam imaginar de armas de destruição em massa, com conhecimento em tecnologia. Outros países são importantes porque têm um conhecimento tecnológico extraordinário. Outros países são importantes porque têm uma indústria de ponta fantástica, grandes siderúrgicas, grandes indústrias automobilísticas, ou seja, produzem produtos eletrônicos sofisticados. Então, tem várias formas dos países se tornarem grandes economicamente e respeitados no mundo das nações. Tem algumas que conseguem ter todas as coisas juntas, tem algumas que têm grandes Forças Armadas, altamente preparadas para a defesa da soberania do país, tem outras que têm isso e têm grande conhecimento tecnológico, tem outras que têm os dois e ainda têm grandes indústrias. Ou seja, o Brasil precisa definir o que nós queremos.
Nós não poderemos ser uma grande nação se nós formos apenas exportadores de produtos in natura, de soja, de suco de laranja, de minério de ferro, isso é extremamente importante para nós. Mas isso não dá a dimensão de um país ser respeitado no mundo, nesse mundo globalizado, em que as fronteiras se estreitaram demais e o que vale, na verdade, é o instrumento chamado conhecimento e outro instrumento chamado seriedade, respeitabilidade, sem os quais a gente não vai a lugar nenhum.
Se fosse verdade o discurso da década de 90, de que quem não tem competência não se estabelece, o Brasil hoje seria o quê da vida? Se esse discurso fosse verdadeiro, por que duas pessoas que moram numa casa geminada precisariam ter duas televisões, duas geladeiras, dois fogões? Era muito mais fácil a gente dizer: “Bom, para economizar, a minha vizinha vai utilizar o fogão dela até as onze, das onze ao meio dia eu uso, para ficar tudo mais barato, pagamos o gás de meia. Televisão, para que cada um assistir a uma? Vamos juntar as duas e vamos ver a novela juntos. Tudo seria mais barato”. Mas as coisas não são assim. Imagina: “vamos colocar a mesma cerveja na geladeira”. E se o vizinho, dono da geladeira, bebesse uma a mais? Teria guerra entre os vizinhos. Então, por que a gente quer ter as coisas da gente, a geladeira, o fogão? Ora, porque nós queremos independência, porque nós queremos autonomia, porque nós queremos ligar a televisão na hora em que a gente quiser, nós queremos tomar cerveja na hora em que a gente quiser, nós queremos cozinhar na hora em que a gente quiser. Nós não precisamos ficar pedindo favor a ninguém.
Se isso vale para a nossa relação em família, isso deve valer muito mais – e é quase que sagrado – entre nações. Uma nação tem que ser soberana naquilo que é a questão tecnológica, a questão da produção de alimentos, a questão dos transportes dos seus produtos. Por que nós temos um déficit comercial de mais de 8 bilhões de dólares na balança de frete, vendo os navios atracar aqui com bandeiras estrangeiras, com trabalhadores estrangeiros, e os nossos pedindo esmolas na frente dos portos deste País?
Não é possível que os homens que dirigiram este País não perceberam que um país que tem conhecimento para produzir uma empresa como a Embraer, um país que tem competência para produzir e criar uma Petrobras, um país que teve o tamanho de criar uma CSN, um país que teve condições de fazer um combustível alternativo da qualidade do álcool, não tenha condições de ter uma indústria naval. Só tem uma hipótese: as pessoas que dominavam e que determinavam eram sócias das empresas estrangeiras que produziam lá fora. Porque se fossem brasileiros, saberiam que este País não poderia prescindir de ter uma indústria naval que pudesse disputar qualidade com os mais importantes países do mundo. Perguntem para os Estados Unidos se eles querem privatizar a Nasa, perguntem. Não querem, eles não querem nem ouvir o nome de empresa pública, porque ali faz parte do poder do Estado americano.
E o Brasil precisa caminhar a passos largos para recuperar o tempo perdido, o tempo em que nós não acreditávamos em nós, o tempo em que nós achávamos bonito falar que nos países europeus e nos Estados Unidos as pessoas ganhavam bem e estudavam, mas que aqui, no Brasil, a gente não investia em educação, que aqui no Brasil a gente não investia na formação profissional, que aqui no Brasil a gente não tinha sensibilidade com os problemas sociais, porque eles só apareciam, na frente dos ricos, nas estatísticas ou nas televisões. Mas, hoje, esses problemas sociais estão aqui, no centro da cidade, nas melhores praias, estão no calcanhar de todos nós. Então, nós precisamos resolver o problema.
Há quantos anos a nossa Marinha não recebia investimentos neste País? Nós tínhamos uma Imbel, que produzia tanques, que produzia armas importantes, nós aceitamos acabar com isso, em nome do quê? Veja se os Estados que compõem o Conselho de Segurança da ONU, os membros permanentes, se os cinco – França, Estados Unidos, China, Inglaterra, pelo menos – abrem mão das coisas que eles construíram e que eles sabem que são importantes. Não, mas aí os países da periferia vão cedendo, é um editorial aqui, é um colunista ali escrevendo um artigo; é uma palestra aqui, outra ali, e vão dizendo para nós: “Olha, abro mão disso, vamos entregar isso, isso não vale nada”. E nós vamos entregando e, daqui a pouco, nós não somos uma nação, somos um amontoado de gente, e nós não queremos isso. Nós não somos gado para ser tangido pelos interesses do dono, nós somos gente e queremos pensar enquanto uma gente livre e soberana.
Por isso, a minha alegria. As ofensas que nós recebemos, por ousar recuperar a indústria naval brasileira, eu me lembro, José Sérgio, que diziam assim para nós: “A Petrobras não quer fazer, a Petrobras não vai contratar navio”. Tinha presidente que falava: “Não, a Petrobras é uma caixa preta, ninguém manda nela”. Não se trata de mandar na Petrobras, trata-se da Petrobras descobrir que ela é uma empresa e que o seu controlador é o governo, portanto, ela tem que se enquadrar dentro da estratégia de desenvolvimento do País, sobretudo, sem abrir mão dos seus interesses específicos. Ora, para que vale o sacrifício que nós fizemos para criar uma empresa desse porte?
Então, o companheiro José Sérgio, que é meu companheiro há 30 anos, se ele falasse para mim: “Não, presidente Lula, sabe, no interesse da Petrobras, fica melhor a gente contratar navio em Singapura, que é mais barato”. Eu ia falar: José Sérgio, me desculpe, despeça-se de mim e vá embora da Petrobras, porque nós queremos fazer dessa empresa não apenas uma empresa lucrativa, nós queremos fazer uma empresa cidadã.
Eu aprendi, desde pequeno, que respeito é bom, a gente dá e a gente recebe. E a gente não é respeitado pela quantidade de dinheiro que a gente tem, é pelo caráter. E uma nação tem que ter caráter, uma nação precisa ter caráter. O que nós estamos fazendo é isso.
Eu me lembro, companheiros, que eu vim passar umas férias, um tempo, a convite do então companheiro Luiz Sérgio, que era prefeito da cidade de Angra, em Angra dos Reis. E lá, por coincidência, tinha muitos companheiros metalúrgicos e a gente ia numa praia em que eu tinha que atravessar por dentro do ex-estaleiro Verolme. Era triste, não tinha mais trilho, tinha capim. Aqueles guindastes estavam lá, todos enferrujados. Trabalhador era uma coisa do passado, era saudade, ou seja, tinha meia dúzia de metalúrgicos, ali, tomando conta, talvez tomando conta mais dos ratos do que do próprio estaleiro. E a gente via os companheiros metalúrgicos vendendo picolé na praia, vendendo cerveja na praia, não que isso desmereça o ser humano, mas eles tinham conquistado, um dia, a cidadania de ter um trabalho com Carteira Profissional assinada. Talvez as pessoas não saibam do orgulho de um trabalhador ter a Carteira Profissional assinada. Quem não passou por isso e não sabe o que é a conquista da cidadania, de um ser humano saber que ele está empregado, que ele tem seguridade social, que ele tem estabilidade, que ele tem um emprego e que todo mês vai levar para casa a comida para a família dele, às custas do seu sustento, talvez não dê importância para isso. Para mim, é sagrado.
Eu me lembro que foi naquela época que eu comecei a pensar: “se um dia esse povo me eleger presidente da República, nós vamos reconstruir essa indústria naval”. E alguns de vocês participaram dos embates durante a campanha de 2002. Tinha gente da Petrobras, José Sérgio, que escreveu artigo pago, na Gazeta Mercantil, dizendo que era uma insanidade querer recuperar a indústria naval brasileira, que isso era de quem não conhecia que a gente poderia comprar muito melhor em Cingapura, na Espanha, na Noruega, sei lá, tinha gente que falava. E falava mais: o Brasil não pode construir plataforma, porque o Brasil não tem mais competência, não tem mais engenharia. Ora, o que está acontecendo neste instante no Brasil? Nós não só temos engenharia como estamos dispostos a nos transformar no país que tem a mais competente indústria naval do planeta Terra. E para isso, nós temos que acreditar em nós. Qual é a nação que vai para frente se a gente não acredita na gente?
Eu, uma vez, conversei com um companheiro que foi negociar a dívida externa brasileira, há muito tempo. E ele dizia assim para mim: “Lula, era uma vergonha. A gente ia negociar a dívida externa brasileira, a gente chegava lá de cabeça baixa. Eles falavam tão grosso com a gente, que a gente não tinha coragem de reagir”.
Eu fico imaginando, quando eu fiz a primeira viagem internacional, eu fui ao G-8. Primeiro eu fui a Davos e depois eu fui ao G-8. Eu me lembro de uma cena: eu cheguei lá, tinha alguns presidentes, cumprimenta daqui, cumprimenta de lá, como vocês sabem eu não falo nenhuma língua, portanto, falo a portuguesa, e meu intérprete atrás de mim. Daqui a pouco, chega um presidente, todo mundo levanta, e eu fiquei sentado. Aí perguntaram para mim: “você não vai levantar?” Eu falei: por quê? Ninguém levantou quando eu cheguei. Por que eu tenho que me levantar quando os outros chegam?
Porque a subserviência não ajuda na relação com os filhos, a subserviência não ajuda na relação entre marido e mulher, a subserviência muito menos ajuda numa relação entre Estados. Ou seja, o pescoço foi feito não para segurar a cabeça, mas para a gente poder erguer a cabeça nas conversas entre chefes de Estados, para você ser respeitado. Eu não quero ser maior, nem quero ser melhor. Não quero que o Brasil seja maior, nem melhor. Eu quero que o Brasil seja igual. Eu quero que o Brasil trate os Estados Unidos com respeito, mas também trate o Paraguai com respeito, o Uruguai com respeito, a Argentina, a Venezuela, a Bolívia, o Equador, a Colômbia, quero que trate os países menores do mundo, São Tomé e Príncipe, com respeito. Porque é isso que faz uma nação ser respeitada no mundo, é o jeito com que a gente se relaciona.
Eu disse uma vez para o Celso Amorim: nós vamos mudar a geografia comercial do mundo, nós vamos mudar. A gente não vai mudar se a gente continuar como a gente está agora. Todo mundo fica pensando que a Europa pode comprar tudo de nós. Não vai comprar, porque eles também têm limites. Todo mundo fica pensando que ser amigo dos Estados Unidos vai ser bom, que eles vão comprar tudo de nós. Também não vão comprar, porque tem muita gente esperando que eles façam o mesmo com eles. Então, nós decidimos o quê? Vamos procurar outros parceiros. Se tal mulher não quer casar com um homem ou tal homem não quer casar com uma mulher, não precisam ficar os dois brigando. Sai um pouco e procura, tem outras mulheres e outros homens para casar.
Na política comercial é a mesma coisa: vamos procurar os iguais, vamos procurar os que têm similaridades conosco, vamos voltar as costas para a nossa América do Sul, que pode comprar muito do Brasil e pode vender muito do Brasil. E hoje o que acontece, quatro anos depois? Nós temos boas relações com a União Européia, boas relações com os Estados Unidos, mas o nosso parceiro comercial hoje é a América Latina, enquanto conjunto de nações. A China já está numa parceria exuberante conosco, a Índia, a África do Sul, e a África voltou a ser enxergada pelo governo brasileiro, que deve tanto, do ponto de vista cultural e da nossa Nação, à África, e jamais deveria ter virado as costas para a África. As autoridades brasileiras olhavam para a Europa e faziam como aquelas boas enviesadas, que eu espero que seja o gol feito hoje pelo Romário, porque eu sei que os flamenguistas, os fluminenses, os botafoguenses podem achar ruim, mas a verdade é o seguinte: enquanto tem muita gente com 20 anos querendo desistir, o Romário, com 40 anos, quer continuar.
Antes de ser vascaíno, é um profissional da mais alta competência e tem tido um comportamento exemplar, como teve o Júnior, no Flamengo, como teve o Zico, no Flamengo, como teve pessoas que marcaram história e são exemplos para a nossa juventude.
Bem, o que aconteceu é que nós conseguimos procurar parceiros, criamos o G-20, criamos o G-4 e, hoje, nós estamos numa posição em que ninguém faz negócios internacionais entre nações sem ouvir o que pensa o G-20, porque não tem nenhum país tão rico, mas tem China, tem Índia, tem Brasil, tem Argentina, tem toda a América do Sul, tem a África do Sul. Então, quando eles olham para nós, eles percebem: não têm o tanto de dinheiro que nós temos, mas têm mais da metade da população do planeta Terra. Eles sabem que nós somos consumidores e, portanto, pesamos nas negociações.
E mais ainda, o Brasil não é apenas consumidor. Hoje nós não exportamos mais produtos in natura ou não produzimos só grãos. Hoje, 52% do que nós exportamos são produtos manufaturados, e nós queremos mais. E vai chegar um dia, meu caro ministro da Indústria e Comércio, Miguel Jorge, que a gente não vai estar exportando só avião, a gente vai estar exportando inteligência, vai estar exportando conhecimento. Porque, quando isso acontecer, nós seremos a grande nação que o Brasil poderia ter sido no século XX, se não fosse o comportamento de subserviência que nós tivemos durante muito tempo.
Então, eu quero dizer para vocês da minha alegria de estar aqui. Nós ainda não fizemos tudo, tem muito para fazer. Nós queremos que a indústria naval brasileira e queremos que a Marinha Mercante brasileira possam crescer muito mais, porque o crescimento do Brasil pode ser infinito. Acho que o futuro que espera o Brasil no século XXI é extremamente importante. Eu olho, todo santo dia, para os números da economia. Eu olho, todo santo dia, para as dificuldades que podem se apresentar, e eu não vejo, quero confessar aos meus queridos companheiros e irmãos brasileiros e brasileiras, que eu não olho, por mais que eu tente olhar, não enxergo uma única coisa que possa atrapalhar o Brasil a se transformar numa grande nação. Se tiver a vontade do governo, se tiver a compreensão da classe política e se tiver a vontade do povo brasileiro, esses 42 navios que a Petrobras quer encomendar até 2010 são muito pouco diante do que nós teremos que encomendar até 2020.
Meus parabéns, Sérgio Machado. Meus parabéns, Sérgio Gabrielli. Meus parabéns, trabalhadores deste País. E que Deus possa nos guiar.
Eu queria terminar dizendo uma coisa. Vocês estão percebendo que há uma grande afinidade na relação do governo federal com o governo estadual do Rio de Janeiro. Eu quero reiterar uma coisa, aqui, porque eu disse, antes da campanha, que o Sérgio Cabral e eu poderemos construir a mais importante parceria já feita entre o estado do Rio de Janeiro e o governo federal, sem preconceito. Eu não disputo nada com o Sérgio, ele não disputa nada comigo. O que nós disputamos, sim, não para ver quem faz mais, o que nós queremos é terminar o nosso mandato e saber que o povo do Rio de Janeiro foi o único ganhador dessa aliança Rio de Janeiro e governo federal, governo federal e Rio de Janeiro.
Este estado tem muita importância na história do Brasil, tem muita importância econômica e muita importância cultural. Este estado não pode continuar aparecendo na imprensa nacional apenas nas páginas policiais ou nos noticiários policiais. Este estado tem que aparecer como um grande estado na área do turismo, na área da indústria, na área do desenvolvimento, no crescimento econômico e, também, no bom combate à criminalidade em que nós, Sérgio, vamos ser parceiros, porque a minha responsabilidade é saber que eu preciso ser parceiro, portanto, ajudar a resolver os problemas do Rio, de São Paulo, de Minas e de qualquer estado brasileiro. E, aí, nós vamos precisar da compreensão de vocês, da ajuda de vocês, porque os problemas foram acumulados durante tantas décadas que, possivelmente, o estado, sozinho, não tenha a solução, é preciso ter a cumplicidade da sociedade brasileira para as boas causas.
Eu saio daqui, hoje, satisfeito. Saio daqui meio realizado por aquilo que eu imaginava que é a indústria naval. E posso dizer aos companheiros sindicalistas que esse crescimento do emprego vai dar dor de cabeça para vocês, porque vão vir mais trabalhadores, eles vão ganhar mais, vão ficar mais espertos, vão cobrar mais de vocês e, daqui a pouco, estarão fazendo chapa de oposição contra vocês, preparem-se.
Um abraço e até outro dia, se Deus quiser.