Artigo de Simone Lolatto

Artigo escrito por Simone Lolatto*


“Queremos potencializar a participação das mulheres e,


para tanto, palavras jogadas ao vento não bastam”.


 


Será? Pergunte para uma mulher militante da causa feminista-emancipacionista. Se você perguntar, sendo homem ou mulher, tenha paciência para ouvir. Sim, por que uma mulher feminista-emancipacionista não responderá apenas “não”, ela irá tecer o seu bordado, tão sofrido, tão árduo para dizer como, porque e a que custo as mulheres conquistaram os espaços que ocupam hoje.


 


 


E se formos verificar que espaços realmente são esses, perceberemos que eles foram ampliados, outros passaram a existir, porém ainda não refletem as necessidades das mulheres. Veremos que o capitalismo patriarcal emperra de forma aguda o avanço da emancipação feminina.


 


 


Mesmo sendo mais de 51% da população brasileira, as mulheres ainda detêm espaços mínimos na política, não ultrapassando muito mais que 10% no legislativo e executivo do país. Essa pequena participação tem reflexo direto nas proposições e execuções de políticas públicas de eqüidade de gênero. O jargão de que “não basta ser mulher” é muito bem aplicado, lamentavelmente algumas mulheres parlamentares e gestoras não estão comprometidas com a luta emancipacionista, fator que desconstrói e/ou não contribui para o acúmulo e avanço da igualdade gênero. Entretanto, não podemos utilizar tal jargão para generalizar ou supor que qualquer homem substitui o papel de mulheres nesses espaços.


 


 


Em geral, se formos fazer uma pesquisa junto aos mandatos parlamentares de mulheres, de diferentes segmentos sociais, vamos encontrar muitas iniciativas de projetos de leis relacionados à eqüidade de gênero.


 


 


No campo e nas cidades, as mulheres ainda acumulam o trabalho fora e dentro de casa, a maior responsabilidade com as crianças e o cuidado de idosos/as na família. É a mulher que recorre muito mais aos serviços de saúde pública para cuidar de dependentes. Além de necessitar da educação pública, de qualidade e com segurança, para filhos e filhas ficarem bem e, com isso, a mulher poder trabalhar, potencializar sua autonomia financeira ou então, o que acontece na maioria dos lares: conseguir botar a comida na mesa.


 


 


Na universidade, as mulheres chegaram sim, são maioria. Mas a sua presença massiva está nos cursos das humanas ou da saúde, que priorizam o “cuidar dos outros”. Estão na medicina (em geral, na pediatria ou ginecologia); estão na engenharias, arquitetura e produzindo conhecimento. Porém, enfrentam muitos preconceitos, são desvalorizadas no seu fazer e têm que se transformar em leoas, superar condições completamente desiguais em relação aos homens profissionais dessas mesmas áreas. Maiores ainda são as dificuldade da população negra – em especial, as mulheres – e das pessoas com orientação sexual diversa da heterossexualidade.


 


 


As novas facetas do conservadorismo se apresentam ainda mais escamoteadas por discursos confusos e pseudo-avançados, como é o caso da vertente pós-modernista. Se por um lado não se pode cair na armadilha dos fragmentos, por outro lado é também um equívoco trabalhar com o etapismo, ou seja: a superação das desigualdades de gênero, raça/etnia, orientação sexual e classes devem estar ligadas de modo tal qual um processo alquímico.


 


 


O capitalismo nos divide, isso não é novidade. Alexandra Kollontai já alertava e dialogava sobre isso com Lênin no inicio do século passado. Também não é nova a necessidade da luta pela superação da opressão de classes e sua relação com o embate para suplantar a opressão de um gênero sobre o outro. A história do movimento emancipacionista, principalmente das mulheres socialistas e comunistas mundo afora, comprova que essas questões estavam presentes no cotidiano de militância dessas mulheres. Temos exemplos inúmeros, tanto no Brasil, centenas já se foram e outras centenas de mulheres ainda estão no aqui e agora, e, muito mais se formos citar as expressivas contribuições, de mulheres socialistas, de todos os continentes para vencer preconceitos e elevar o conteúdo e pensamento marxista.


 


 


Portanto, março é apenas um mês de visibilidade, em que já ficou bem nítido: não queremos apenas flores e, se essas vierem, que sejam em homenagem aos dias de luta, trabalho e esforço. Mas, fundamentalmente, o que queremos é mudança concreta, sem frases ocas, sem demagogias, mudanças de atitudes e ações das entidades, órgãos e movimentos sociais que construímos e participamos cotidianamente. Queremos potencializar a participação das mulheres e, para tanto, palavras jogadas ao vento não bastam.


 


 


O PCdoB dá uma sinalização muito importante de mudança de atitude, com medidas concretas de política interna, que valoriza e incentiva a militância política das mulheres. Com a realização da I Conferência Nacional do PCdoB sobre a Questão da Mulher, o Partido torna-se precursor da luta feminista-emancipacionista e assume o desafio de efetivar mudanças cruciais, tornando essa batalha uma tarefa de toda a militância: mulheres e homens.


 


 


Os 30% de mulheres em todas as instâncias partidárias contribuiu significativamente, mas por si só não são suficientes. É necessário garantir a participação das mulheres nas direções do Partido em todas as fases de sua vida, com equipamentos de apoio (cito o mais comum: creches) nas atividades e eventos do Partido, desde o Congresso até uma simples reunião. Deste modo não haverá a indicação para que as mulheres militantes/dirigentes e mães se afastem das direções por 5, 8, 10 anos ou sabe-se lá quanto tempo para criar filhas/os e depois disso que voltem “automaticamente”, a partir da própria vontade, para a militância cotidiana ou as direções em que participavam antes da maternidade.


 


 


Cerca de 300 pessoas participaram da I Conferencia Nacional do PCdoB sobre a Questão da Mulher, dentre elas aproximadamente 200 delegadas/os. Mais de 100 pessoas se pronunciaram nos três dias de atividades, propondo sugestões e opinando. Inúmeras indicações foram feitas para contribuir com o debate e amadurecimento do Partido e, essa I Conferência, realizada nos últimos dias de um março qualquer, poderá fazer diferença nos dias de todos os outros meses que virão.


 


 


 


 


*Simone Lollato é Assistente Social, Assessora Parlamentar no Mandato do PCdoB em Florianópolis – Vereadora Angela Albino e Coordenadora Geral da UBM-SC.