Por que Dalton Macambira recebeu o “troféu Moto Serra”?

A Rede de ONGs Mata Atlântica instituiu o ''troféu'' Moto-Serra e escolheu justamente autoridades piauienses para receber a ''comenda'', entre eles o secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Dalton Macambira. Que in

O Piauí, um dos estados mais pobres e menos industrializados do Brasil, agride o meio ambiente?


 


É isso o que pensa a Rede de ONGs (Organizações Não-Governamentais) Mata Atlântica, que congrega mais de 312 ONGs em todo o país, e que instituiu o ''troféu'' Moto-Serra que foi atribuído pela primeira vez neste ano. E escolheram justamente autoridades piauienses para receber a ''comenda'', entre eles o secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Dalton Macambira. O motivo alegado seriam agressões ambientais relativas ao Parque da Serra Vermelha, cuja criação no sul do estado é defendida pela Rede de ONGs que passa a distribuir aquele ''prêmio''.


 


Além de Danton, também foram ''agraciados'' Romildo Mafra, superintendente do Ibama; Carlos Moura Fé, diretor técnico do Ibama; e a empresa JB Carbon. O anúncio da ''premiação'' foi feito dia 13 de abril, numa manifestação ambientalista em Teresina. No ato também houve a premiação do Amigo da Mata Atlântica, sendo atribuído ao jornalista Francisco José.


 



Contradições


 



É difícil colocar os limites entre propaganda e defesa do meio ambiente num evento como este. Em primeiro lugar, por que motivo a Rede de ONGs Mata Atlântica incluiu a caatinga do sertão piauiense entre os trechos remanescentes da Mata Atlântica? O jornalista piauiense Fábio Novo, vice prefeito de Bom Jesus (PI), município que está no coração da área que pretendem transformar em reserva, tem uma suspeita muito forte. ''Qual o interesse de dizer que a caatinga da Serra Vermelha, agora não é mais caatinga e, sim Mata Atlântica? Simples: tem muito dinheiro dos organismos internacionais para a Mata Atlântica'', escreveu ele em um jornal do Estado.


 


Fábio Novo rejeita a criação de mais um parque no Piauí, que teria 300 mil  hectares, pegando 41% do território do município de Santa Luz, 25% de Bom Jesus, 14% de Redenção do Gurguéia e 15% de Curimatá. ''Se criado'', diz, ''seria o sexto parque do Piauí, sendo que cinco deles se localizam no Sul''.


 


Os que já existem – entre parques, estações ecológicas e apas (áreas de preservação ambiental) – ocupam mais de 4 milhões  de hectares, sendo que aproximadamente 3 milhões se localizam no sul do estado. Só no sul do estado existem três: Confusões, Capivara e Nascentes do Parnaíba. Sem falar na Apa do Rangel (Redenção do Gurguéia e Curimatá), Estação Ecológica Uruçui-Una (Baixa Grande do Ribeiro), Apa de Barreiras do Piauí, Serra do Gado Bravo (Curimatá), Apa da Ingazeira (Paulistana) e as áreas de preservação permanente como o baixão das Andorinhas e chapada do Hume (Canto do Buriti, São João do Piauí e São Raimundo Nonato).


 


O deputado federal Osmar Júnior, vice-governador do Estado, também questiona a sanha ambientalista. O Piauí ficou estagnado durante meio século, e hoje está entre os estados mais pobres. E agora, que começa a tomar medidas para crescer – medidas que, ressalta, respeitam o meio ambiente e estão de acordo com a legislação ambiental brasileira – começam a surgir obstáculos desse tipo, disse.


 


É uma opinião semelhante à de Fábio Novo e também do secretário Dalton Macambira (ver artigo nesta edição). ''Criar mais parques no sul do Piauí é engessar o desenvolvimento'', denuncia Fábio Novo. ''Aqui não temos tantos carros, principal agressor do meio ambiente'', acusa. ''Nosso parque industrial é ínfimo'', conclui. E temos o direito de ''gerar riquezas e com isso melhorar a qualidade de vida de nossa gente'', diz.


 



Meio ambiente versus crescimento econômico


 



Fábio Novo, Dalton Macambira e Osmar Júnior vão ao ponto quando insistem na necessidade de retomar o crescimento para combater a pobreza, cumprindo a legislação ambiental. Há uma ideologia ambientalista muito forte, que se constituiu desde a década de 1960 e se espalhou pelo mundo. Seu centro é a tese, defendida na década de 1960 pelo chamado ''Clube de Roma'', que reunia industriais, acadêmicos e cientistas ligados à empresa capitalista, e depois por organismos da ONU, como a Comissão Muncial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, autora do chamado Relatório Gro Brundtland (publicado sob o título Nosso futuro comum), de 1987, de que o desenvolvimento precisa ser contido para não aumentar as agressões ao meio ambiente. Isto é, os países e regiões pobres precisam continuar como estão para que os ricos possam continuar com seu modo de vida agressivo e espoliador da vida natural. É a mesma ideologia que leva militantes ambientalistas a distribuírem troféus como este chamado Moto Serra, sem levar em conta não só as necessidades das populações nem as condições técnicas que amparam as medidas voltadas para o crescimento da economia, como argumenta em seu artigo o secretário Dalton Macambira.


 


São entidades e militantes que mereciam, por seu turno, receber medalhas de inimigos do desenvolvimento e serem colocados perante as populações mais carentes para explicar para elas por que se esforçam tanto na defesa do que consideram como vida natural e pouco fazem em defesa da vida humana.


 


*José Carlos Ruy é escritor e jornalista, editor do jornal “A Classe Operária”